É o que diz Shirzad Chamine, de ‘Inteligência
positiva’, livro que chega ao Brasil depois de ter ficado na lista dos mais
vendidos do NY Times
Apenas
20% das pessoas e das equipes alcançam seu verdadeiro potencial. E a culpa é
dos sabotadores “invisíveis” da mente humana, que estariam constantemente
impedindo a realização pessoal e profissional. A afirmação é de Shirzad
Chamine, autor do livro “Inteligência positiva” (Ed. Fontanar), que chega ao
Brasil este mês, depois de ter ficado na lista dos mais vendidos do NY Times em
2012. Para o autor, a mente pode ser a melhor amiga, mas também a pior inimiga.
Chamine,
que é presidente do CTI, uma organização mundial de treinamento de coaches,
criou o conceito de inteligência positiva, por meio do qual, diz ele, é
possível medir a porcentagem de tempo em que a mente funciona em favor ou
contra um indivíduo.
Um
Quociente de Inteligência Positiva (QP) alto, por exemplo, pode levar a
melhores salários, e maior sucesso na carreira, de acordo com a análise de
estudos que testaram mais de 275 mil pessoas. Chamine demonstra ainda, por meio
de pesquisas, que vendedores com QP alto vendem 37% mais do que colegas com QP
menores, médicos com QP alto fazem diagnósticos 19% mais rapidamente, gerentes
de projetos com QP alto se saem 31% melhor em média.
Mais
do que isso: o desenvolvimento da inteligência positiva permitiria a um
profissional perceber que, na verdade, tem muito mais tempo útil do que
imagina, e que ser multitarefa não é tão bom quanto o mercado leva a crer..
O preço de ser um multitarefa
—
O cérebro gasta uma boa dose de energia no começo de uma tarefa antes de
realmente conseguir se concentrar nesta tarefa. Se você fica indo e voltando,
seu cérebro vai pagar o preço e também aprender a não se concentrar de fato em
nada por completo. Há muita energia sendo gasta dessa forma — afirmou Chamine,
em entrevista por e-mail ao Boa Chance.
Chamine
desenvolveu dois testes (http://www.objetiva.com.br/testeinteligenciapositiva/):
o primeiro ajuda o indivíduo a medir o seu índice de QP — uma pontuação de 75,
por exemplo, significa que a mente age em seu favor em 75% do tempo e o sabota
em 25%. O outro teste identifica, justamente, os tais sabotadores da mente —
são dez no total. O crítico, o insistente, o prestativo, o hiper-realizador, a
vítima, o hiper-racional, o hipervigilante, o inquieto, o controlador e o esquivo.
Mecanismos invisíveis, segundo o autor, que estariam entranhados no modo como
interpretamos e reagimos às coisas. Eles estariam em todas as pessoas, cada um
de forma menos ou mais intensa, influenciados também pela cultura local.
—
Existem tanto variações culturais quanto de gênero que fazem com que alguns
sabotadores se escondam melhor. Por exemplo: nos Estados Unidos, os homens são
encorajados a ser hiper-racionais. No Japão, as mulheres são estimuladas a
serem prestativas. Nesses casos, a cultura local dificulta a percepção desses
indivíduos de que essas tendências de comportamento são tendências sabotadoras
— explica o autor, que diz, porém, que não é mais difícil enfraquecer um
sabotador no Japão do que nos Estados Unidos, por exemplo. — As técnicas para
mudar um sabotador são técnicas de domínio mental que não são influenciadas nem
pelo tipo de sabotador, nem pela cultura na qual ele está inserido.
Ainda
assim Yasushi Arita, presidente da Arita Treinamentos, empresa especializada em
desenvolvimento pessoal e profissional, ressalta que o processo de mudança,
mesmo com a apresentação de técnicas, nem sempre é fácil.
—
A pessoa realmente tem que querer e, mesmo assim, não é simples. Quando há algo
preso no inconsciente emocional, é muito difícil mudar — acredita Arita, que
utiliza o conceito de “inteligência emocional”, popularizado na década de 90
por Daniel Goleman.
Primeiro passo: gostar do que se faz
No
que diz respeito ao trabalho, acredita Arita, o primeiro passo para conseguir
alterar alguns comportamentos da mente é gostar do que se faz.
—
Todos os dias é possível melhorar. Quanto mais você gosta do que faz, melhor
profissional vai querer se tornar — afirma o coach, que acha que livros como
“Inteligência positiva” podem ajudar o profissional a se conhecer e a tomar
consciência de si mesmo. — Mas a mudança depende apenas de cada um.
Padrões tendem a inibir a criatividade
O
aumento da inteligência positiva, diz Shirzad Chamine, também pode ajudar
profissionais a perceberem que, na verdade, a falta de tempo não é um problema
tão grave, como muitos costumam se queixar.
—
Quando o QP fica mais alto, as pessoas notam a enorme quantidade de energia,
mental e emocional, que estava sendo gasta por causa dos sabotadores. Eles
enganam, levando a crer que você está sendo muito eficiente e ocupado, quando,
no fundo, é tudo desperdício de tempo — acredita o autor.
Guilherme
Piletti, diretor de Whatever da Perestroika, escola de atividades criativas que
oferece cursos como “Gestão do tempo” e “New ways of thinking” acha que, para
render mais, é preciso conhecer o tempo.
—
Quem tem essa postura e procura entender o uso do seu tempo tende a ter uma
rentabilidade maior. Além disso, o posicionamento em relação ao tempo importa:
se, no trabalho, surgem mais tarefas e compromissos, depende do profissional
achar aquilo positivo ou usar isso para se afundar — diz Piletti.
Mercado não quer gênios indomáveis
O
diretor da Perestroika associa as ideias do autor de “Inteligência positiva” ao
fato de que o cérebro humano busca sempre padrões de conforto:
—
O cérebro se sente confortável com padrões e acaba entrando em um pensamento
automático. É como se ficasse viciado em um único caminho, o que também impede
a criatividade de ser exercida com mais eficiência e a chegar a soluções
inovadoras, já que fica sempre no mesmo modo para resolver os problemas que
aparecem.
A
coach e consultora de carreiras Waleska Farias diz, inclusive, que, em todos os
atendimentos que realiza, a preocupação é sempre com a questão comportamental.
—
Em 99% das demandas dos profissionais e dos executivos, o foco está nas
condições emocionais e não técnicas — afirma Waleska, que trabalha utilizando o
conceito de psicologia positiva, que, segundo ela, relaciona-se com a ideia de
inteligência positiva de Chamine. — É uma tendência que está muito forte no
mercado: as pessoas estão vendo que são o que acreditam ser.
No
cenário de valorização das competências comportamentais, Waleska diz,
inclusive, que o mercado, hoje, prefere trabalhar com profissionais medianos do
que com gênios indomáveis:
—
Por isso, buscar o autoconhecimento é fundamental: os profissionais precisam
identificar quais são seus principais entraves, ou sabotadores, para
combatê-los.
Assim
é possível, também, aumentar o coeficiente de inteligência positiva. Mas
Chamine explica que o nível não é alterado por situações externas, como uma
promoção ou um casamento.
—
A única forma de alterar permanentemente o estado de felicidade de uma pessoa é
por intermédio do aumento do QP, o que acontece apenas dentro da mente, e não
no mundo lá fora com a construção de riquezas e sucesso. Mas a boa notícia é
que níveis mais altos de QP irão, automaticamente, resultar em melhores
performances, mais dinheiro e mais sucesso — diz o autor, acrescentando,
entretanto, que o contrário não é verdadeiro. — Trata-se de trazer a sua mente
para o seu comando, em vez de deixar que os sabotadores a controlem.
Por
Maíra Amorim
Fonte
O Globo Online