Salário nem sempre (ou quase nunca) é sinônimo de
contentamento com o trabalho; veja quais os métodos mais eficazes para aumentar
seus níveis de felicidade no expediente
"A gente só consegue ir com outra pessoa quando
conseguimos ir com nós mesmos", diz Luiz Fernando Garcia
Há
muito se sabe que satisfação e motivação profissional não estão necessariamente
ligadas ao salário que entra na conta todo fim de mês. Talvez, exatamente, por
não existirem fórmulas prontas (e fáceis) haja tanta gente sem brilho nos olhos
e infeliz com as próprias carreiras.
O
problema é que a solução também não é fácil. E nem sempre está em uma mudança
de emprego ou carreira. Isso porque as raízes para a insatisfação podem ser
mais profundas e necessitam de uma minuciosa revisão da maneira como cada um
enxerga a própria vida e a si mesmo.
Mas,
para além deste processo de parar e reorganizar alguns conceitos dentro de si,
de acordo com especialistas, há algumas medidas práticas a adotar ainda hoje
para estimular os motivos para ter um sorriso firme no rosto – mesmo durante o
expediente. Veja quais são elas:
1 Durma e faça exercícios físicos
Sem
que perceba, a maneira como você lida com seu corpo influencia diretamente o
seu bom humor no trabalho. “Cada pessoa tem uma auto regulação fisiológica
própria de dopamina, serotonina e noradrenalina [neurotransmissores
responsáveis pelo humor]”, diz Luis Fernando Garcia, autor do livro
“Empresários no divã” (Editora Gente). “É como se uma pessoa estivesse com um
Uno Mille e outro com uma Ferrari”, brinca.
Nas
duas situações, ele afirma que é possível melhorar o “desempenho” do organismo
em questões de humor. E o sono é um dos principais aliados para isso. “Se a
gente dorme menos que seis horas, a intolerância e a inabilidade afetiva
(oscilação de humor) tendem a ser maiores”, diz o especialista.
Mas
dormir bem não é o bastante. É preciso encontrar espaço na agenda para praticar
exercícios físicos, no mínimo, três vezes por semana. “A partir do 21º dia, os
neurotransmissores começam a ser regulados”, afirma.
2 Pare 14 vezes por 3 minutos
O
segredo para fazer mais em menos tempo não é seguir com suas atividades diárias
sem parar um segundo sequer. Ao contrário: de acordo com especialistas, pausas
curtas cronometradas ao longo do expediente podem ser fundamentais para
melhorar a concentração e sensação de bem estar.
Garcia
aconselha 14 paradas de 3 minutos ao longo do expediente. Segundo ele, tais
pausas, contudo, não devem ser preenchidas com conversa, cigarro ou café. A
ideia é, realmente, parar. Esvaziar a mente por inteiros três minutos para,
enfim, voltar ao trabalho.
A
medida, segundo o especialista, pode aumentar a tolerância ao stress em até
25%. “No momento que a mente fica vazia, você libera a noradrenalina e, com
isso, consegue suportar o ritmo do dia com menos ansiedade”, afirma o
psicanalista.
3 Almoce e cochile
Uma
pesquisa da NASA feita na década de 90 constatou que controladores de voo que
tiravam um cochilo de 26 minutos durante o expediente eram 34% mais produtivos
e 54% mais concentrados.
Moral
da história? Pare de almoçar em frente ao computador ou aproveitar o horário do
almoço todos os dias para resolver problemas pessoais. Em vez disso, “almoce
tranquilamente, vá para uma praça e coloque o despertador para despertar”,
brinca o especialista.
4 Questione sua intolerância
Todo
incômodo tem uma razão. E quando se trata de relacionamentos com terceiros,
muitas vezes, o motivo pode ter mais relação com quem se incomoda do que com
quem gera o incômodo.
Complicou
tudo? Garcia explica: “Toda vez que a gente se irrita com alguém, há um lado
dentro de nós que projeta aquilo que temos e não conseguimos aceitar”. Em
outras palavras, é como se você olhasse para as pessoas como quem vê um espelho
e não gosta do que vê refletido ali.
Mas
não é só isso. Muitas vezes, o incômodo é gerado por uma admiração exacerbada
do outro, que quase beira à inveja. “Admira tanto que não tolera”, diz o
especialista.
Por
conta destes fatores é essencial fazer um mergulho para dentro de si a fim de
entender o que gera tanto estranhamento. Investigar as razões “aumenta o nosso
grau de empatia, a capacidade de entender as pessoas a partir da gente mesmo”,
afirma.
5 Mapeie os “gatilhos de stress”
Imagine
que você tem um copo em suas mãos e que, a cada situação estressante, despejasse
nele uma quantidade de água equivalente a um copo de plástico.
“Invariavelmente, depois de alguns momentos de stress, o copo grande
transbordará”, diz Garcia.
No
trabalho (e na vida), você até pode não ter um copo grande nas mãos, mas a lógica
se repete. O trânsito infernal, aquela reunião que tira você do sério, os
ponteiros do relógio denunciando o atraso, um bom dia mal atravessado e por aí
vai.
Diante
de tantos “gatilhos de stress”, seu copo mental tende a transbordar. Daí para
perder a cabeça e explodir é só um pulo.
Por
isso, Garcia recomenda: descubra quais são as situações que deixam você
estressado e evite-as (ou as procrastine para quando estiver de cabeça mais
fria).
Por
exemplo, se você se estressa com o trânsito logo cedo e precisa decidir entre
fazer uma ligação para falar sobre um assunto que também lhe rouba a sanidade,
opte por não fazer a ligação. Pelo menos, naquele momento.
“À
medida que a gente identifica os gatilhos de stress e os monitora durante o
dia, aumentamos nossa tolerância e bem estar”, diz Garcia.
6 Procrastine os impulsos
Diante
de um e-mail abusivo, sua primeira tendência é responder no mesmo tom (ou em um
pior) sem pensar? O autor de “Executivos no divã” aconselha o oposto. “Em
situações de estresse nas comunicações, nunca responda na hora”, diz.
Segundo
ele, o tempo de fissura (ou de raiva, digamos) é de 10 minutos. Neste período,
a fissura atinge seu auge durante três minutos. Se você vencer a vontade de
rebater na hora durante este tempo, a explosão de emoções tenderá a diminuir.
7 Planeje seu dia – e siga o roteiro
Autoconfiança
é uma palavra chave para os níveis de satisfação no trabalho. E o primeiro meio
para conquistá-la, segundo Meiry Kamia, psicóloga e coach, é não sabotando a si
mesmo nas atividades diárias.
“É
importante seguir uma agenda de atividades para poder olhá-la e concluir se
teve um bom dia”, diz a especialista. “Essa satisfação vai dar um autorespeito
maior, que traz autoconfiança”.
De
acordo com ela, é o acumulo destas pequenas vitórias diárias que trará mais
felicidade para a sua rotina e força para seguir em frente. “Se a gente fala
uma coisa e faz outra, não nos sentimos dignos do nosso próprio respeito”, diz.
E esta lógica só contribui para o rebaixamento emocional.
Agora,
se sua rotina é feita de fatos imponderáveis e você vice apagando incêndios,
não se fruste. A dica, segundo a especialista, é domar até mesmo aquilo que
você não pode prever. Como? Deixando espaços na agenda para o imponderável.
8 Concilie meta profissional com a missão da vida
Por
mais que muita gente aposte na ideia de que vida pessoal e profissional devem
ser separadas, em algum momento (ou em quase todos), elas confluem e se
influenciam mutualmente.
Diante
disso, é importante ter esta realidade clara desde sempre para planejar sua
carreira de acordo com suas metas de vida. Isso mesmo. Por exemplo: se sua
proposta é ter mais qualidade de vida, é quase impossível ser feliz se seu
trabalho possibilita pouco, ou nenhum tempo, para você mesmo.
“Nem
sempre a gente faz o que gostaria. Mas você tem que dar um significado para o
trabalho de hoje. Ele tem que ter alguma ligação com a estratégia que você tem
para alcançar sua meta de vida e de carreira”, afirma Meiry.
9 Veja a vida com bons olhos
“Como
você encara as situações é a chave”, diz a psicóloga. “Todos nós vivemos a
mesma realidade, às vezes, estamos no mesmo lugar, na mesma hora, mas cada um
interpreta o que vive de um jeito diferente, com um estado de espírito
diferente, e isso muda tudo”.
E
isso, segundo a especialista, é apenas uma questão de educação do olhar e, de
alguma forma, de si mesmo e dos próprios impulsos.
10 Consulte um profissional
Em
algumas situações, buscar a ajuda de um profissional é essencial para fazer um
mergulho para dentro de sim, trabalhar seu “lixo psíquico” e passar a se
aceitar mais.
“A
gente só consegue ir com outra pessoa quando conseguimos ir com nós mesmos. Na
medida em que eu me aceito melhor, passo a aceitar os outros. Quanto mais
andamos com nós mesmos psicologicamente, mais conseguimos andar com o outro”,
afirma Garcia.
Por
Talita Abrantes
Fonte
Exame.com