Comodidade e redução de custos estão entre as
vantagens do armazenamento em nuvem
- Segurança e queda na rede ameaçam dados
- Quase metade das empresas que usam o serviço relataram falhas
Apesar
de numerosas vantagens, é preciso ter cautela com o armazenamento em nuvem,
serviço queridinho de dez entre dez especialistas em tecnologia. Nas últimas
semanas, pessoas e empresas que concentram suas atividades em ambientes web
sofreram com problemas técnicos nos servidores e na infraestrutura de rede.
Além disso, especialistas alertam sobre a proteção dos dados contra a ação de
hackers. O serviço permite que os arquivos sejam acessados de qualquer lugar, a
qualquer momento, basta uma conexão. Porém, não é recomendável confiar
cegamente no ambiente virtual.
De
acordo com levantamento realizado recentemente pela Trend Micro, que ouviu 1,4
mil profissionais de Tecnologia da Informação de sete países, incluindo o
Brasil, 46% das empresas pesquisadas reportaram falhas de segurança de dados ou
problemas com serviços de nuvem neste ano.
Na
terça-feira passada, o Amazon Web Services, serviço de armazenamento em nuvem
da Amazon.com, ficou fora do ar para usuários que utilizam alguns servidores
com base em São Paulo, derrubando diversos sites hospedados por eles. O problema
afetou o programador Camilo Costa, que mantém uma rede social para fãs de
mangá.
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O meu portal ficou aproximadamente quatro horas fora do ar — conta.
Avanço da mobilidade traz mais riscos
Nos
dias 26 de novembro e 10 de dezembro, foram os clientes Google que sofreram. Na
primeira falha, a empresa SEO Marketing, especializada em marketing digital,
praticamente paralisou as operações durante aproximadamente uma hora, período
em que o sistema parou. O gerente Felipe Bazon lembra que estava pronto para
iniciar uma reunião que foi adiada porque os arquivos da apresentação estavam
armazenados no Google Drive, serviço de nuvem da gigante de buscas.
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Nesses momentos as pessoas percebem que são dependentes da nuvem — diz o
diretor técnico da ConexTI, Jackson Laskoski. — Além dos problemas com os
próprios servidores, no Brasil temos uma infraestrutura de rede frágil, o que
aumenta os riscos de queda da conexão.
O
diretor de Marketing da Trend Micro, Miguel Macedo, relembra o caso Carolina
Dieckmann, que influenciou a aprovação da lei que tipifica crimes virtuais,
batizada com o nome da atriz. Em maio, Carolina teve a conta de e-mail invadida
por hackers, que roubaram e divulgaram na internet 36 fotos dela nua e em poses
sensuais.
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Quando uma pessoa guarda os arquivos na nuvem, ela perde o controle sobre os
dados. Não sabe onde as informações estão guardadas e isso gera um temor. A
internet é um ambiente aberto, exposto — diz Macedo.
A
expansão do uso de smartphones traz ainda mais riscos para as pessoas.
Conectados à internet o tempo inteiro, muitos aparelhos oferecem a função de
compartilhar fotos, vídeos e contatos automaticamente com serviços de e-mail,
nuvens ou redes sociais.
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As pessoas podem pensar que se os arquivos estão no Facebook ou no Gmail, estão
seguros. Não é bem assim. A Google, por exemplo, diz nas regras de uso que não
se responsabiliza pela segurança das informações armazenadas por ela — alerta
Macedo.
Apesar
dos perigos, o armazenamento em nuvem oferece vantagens para pessoas e,
principalmente, para empresas. Maurício Cascão, diretor-executivo da Mandic,
aponta a comodidade e a redução nos custos como os principais benefícios do
serviço. Segundo ele, na rede, os arquivos ficam disponíveis para todos os
colaboradores de um projeto, mesmo que distantes fisicamente. E os custos são
menores, pois a contratante não precisa investir em servidores e pessoal
próprios para manter o sistema no ar.
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É a terceirização de um serviço. Em vez de ter que comprar as máquinas, pagar
pessoal de manutenção e operação, o empresário contrata um serviço de nuvem.
Como se fosse o aluguel de um espaço virtual — explica Cascão.
E
cresce o número de empresas seduzidas pelas vantagens do serviço. De acordo com
levantamento da consultoria Capgemini com 460 empresas de grande porte no
mundo, 76% delas possuem plano formal de investimentos em armazenamento
virtual. Segundo Cascão, essa é uma tendência irreversível, tanto para o
mercado corporativo como para consumidores finais, que usam cada vez os
serviços de compartilhamento de dados.
Senhas complexas e fotos dentro de casa
Sobre
os problemas de segurança das informações e queda dos servidores ou da
internet, o executivo afirma que computadores pessoais e corporativos, se
estiverem conectados à rede, também estão vulneráveis. Ele diz ainda que,
comparativamente, a nuvem fica menos tempo fora do ar que servidores in house.
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As empresas que prestam esse serviço são especializadas. Investem em
equipamentos e pessoal para manter o sistema no ar com percentual mínimo de
queda — afirma Cascão.
O
programador Camilo Costa concorda. Mesmo tendo seus serviços interrompidos por
quatro horas, não pensa em sair da nuvem.
—
Apesar desse problema, os serviços de nuvem são ótimas opções para startups —
diz.
Antes
de disponibilizar arquivos na rede, porém, é aconselhável tomar alguns
cuidados. Miguel Macedo dá algumas dicas de segurança.
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Quando o empresário escolhe a nuvem, ele pode negociar serviços adicionais de
segurança com a provedora do serviço. Custa um pouco mais caro, mas é melhor
pagar para prevenir do que sofrer com a crise. Para os consumidores, a velha
recomendação de senhas complexas, que devem ser trocadas regularmente. E para
as informações mais sensíveis, como fotos e vídeos pessoais, o melhor é deixar
dentro de casa mesmo.
Por
Sérgio Matsuura
Fonte
O Globo Online