A possibilidade de preservar o patrimônio que se tem,
na aposentadoria, é o que esses produtos oferecem. Hoje, VGBL e PGBL são os
destaques do setor
Com
o décimo terceiro salário chegando e a oferta maior dos bancos, nessa época do
ano, de planos que prometem conforto e tranquilidade na aposentadoria, é
preciso se informar para garantir a segurança que um investimento de toda uma
vida exige. Segundo os especialistas, toda pessoa que tem despesas mensais
acima de R$ 3.912, que é o teto de benefícios da Previdência Social no Brasil,
deveria investir nessa forma de preservar a qualidade de vida que se tem hoje
no futuro. A melhor opção, se um plano de previdência aberta ou fechada, apenas
em renda fixa ou com porcentagem de renda variável, PGBL ou VGBL, vai depender
do perfil e das expectativas de cada um. Mas uma coisa é certa: com o cenário
econômico de hoje do Brasil – com inflação anual de 5,5% e a taxa de juros
Selic a 7,25% ao ano – é preciso estar atento às condições contratadas para
fazer seu dinheiro efetivamente se multiplicar.
A
planejadora financeira certificada pelo Instituto Brasileiro de Certificação de
Profissionais Financeiros (IBCPF) e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Myrian Lund lembra, ainda, que é importante ter uma alternativa à Previdência
Social, uma vez que esse benefício já sofreu alterações em diversos países. E
não se sabe como vai ser o cenário em 20 ou 30 anos:
—
A previdência social foi feita para um determinado número de pessoas
contribuírem e algumas se aposentarem. Com o aumento do número de pessoas que
se aposentam, há uma tendência de falência. É preciso se prevenir. Mas não se
pode deixar de pagar o INSS. É uma garantia — alerta.
Fechada ou aberta, PGBL ou VGBL
Nos
chamados planos de previdência complementar fechada, empresas, grupos de
empresas, associações de classe ou sindicatos criam uma instituição para
administrar o dinheiro dos participantes. No caso das empresas, quando se
contribui, normalmente, o empregador também faz uma contribuição. Segundo
Myrian Lund, esses planos são sempre mais vantajosos do que os oferecidos no
mercado, porque a empresa negocia com taxas mais favoráveis e a rentabilidade,
graças aos depósitos, é maior. Para Mauro Calil, quem tem esse tipo de plano
deve concentrar suas contribuições nele, exatamente pela alta rentabilidade.
Planos fechados são fiscalizados pela Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc).
Os
planos abertos podem ser contratados por qualquer pessoa, não há barreiras à
sua entrada. Hoje, os mais comercializados são o Plano Gerador de Benefícios
Livres (PGBL) e o VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres). Segundo a Federação
Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), que representa 22
seguradoras e 13 entidades de previdência aberta complementar no país, de
janeiro a agosto de 2012, os planos VGBL ficaram na liderança do volume de
depósitos em previdência aberta, com 63,12% de participação no mercado,
seguidos por PGBL (23,59%), planos tradicionais (13,11%) e outros produtos
(0,17%), categoria que inclui o Fundo de Aposentadoria Programada Individual
(Fapi).
Nos
dois modelos – PGBL e VGBL –, contribui-se de forma mensal ou esporádica para
acumular uma poupança, que pode ser recebida, após o tempo de contribuição, de
uma só vez ou de forma parcelada. Não há uma garantia de rentabilidade mínima.
O PGBL permite a dedução, da base de cálculo (ou do total dos rendimentos
tributáveis do ano) do imposto de renda, de até 12% da renda bruta anual. Esse
imposto vai ser cobrado na hora do resgate do dinheiro sobre seu valor total. O
VGBL, por sua vez, não tem o benefício do imposto de renda. Mas, ao resgatar o
dinheiro, a taxação será apenas sobre os rendimentos. É indicado para quem faz
declaração simplificada e aplica mais de 12% de sua renda anual na previdência.
Há,
ainda, os planos de previdência ditos tradicionais, que ofereciam uma garantia
de rentabilidade da inflação mais 6% ao ano de juros, mas não são mais
comercializados no mercado. Quem ainda tem um plano desse tipo, no entanto,
deve permanecer com ele, aconselha Myrian Lund, porque não se encontra mais tal
rentabilidade em planos de previdência aberta, e o banco não pode suspender o
que foi contratado, à revelia do cliente.
Já
o Fapi foi criado para garantir a acumulação de recursos sem estabelecer período
para a contribuição. Mas apresenta desvantagens em relação a outros planos,
como a cobrança sistemática de imposto de renda sobre os rendimentos e a
incidência do Imposto sobre Operações Financeiras. Há ainda planos como o Vida
Remuneração Garantida e Perfomance (VRGP) e Vida com Atualização Garantida e
Performance (VAGP), que teriam um rendimento mínimo garantido pela instituição
financeira, mas são poucas as empresas que oferecem os oferecem no mercado.
Para
o educador financeiro e autor do livro “Separe uma verba para ser feliz”, Mauro
Calil, é preciso escolher o plano mais adequado ao seu perfil e ao prazo que se
tem. Quanto maior o prazo, melhor será o plano de previdência, diz. Em segundo
lugar, não se deve encarar o plano de previdência como uma aplicação, mas como
um seguro contra a falta de renda.
—
Há quem acompanhe as mudanças todo mês e deposite mais ou menos conforme o
rendimento. Estraga-se o longo prazo com a preocupação de curto prazo. O ideal
é que um plano tenha 20 anos ou mais. Com isso, consegue-se atingir seu
objetivo. Com prazos menores de 10 anos, corre-se um grande risco de não dar
certo.
O momento de começar é já
Na
ponta do lápis, estimativa feita pela planejadora financeira Myrian Lund mostra
que uma pessoa que deseja ter uma aposentadoria de R$ 10 mil aos 60 anos
precisaria juntar R$ 1,3 milhão se contribuir com a Previdência Social. Assim,
considera-se que ela ganharia R$ 6.500 por mês da previdência complementar e R$
3.500 do INSS. Nesse caso, aos 30 anos, seria preciso depositar R$ 1,3 mil por
mês num fundo de renda fixa; e R$ 375 num fundo com 49% de renda variável. Já
aos 40 anos, considerando que o tempo de contribuição seria de 20 anos, o
depósito num fundo de renda fixa teria de ser de R$ 2.875, e, num fundo com 49%
em ações, de R$ 1.375.
Sem
INSS, seria preciso juntar R$ 2 milhões num esforço muito maior: num produto de
renda fixa, com 30 anos, a parcela mensal seria de R$ 1.995 e, com 40 anos, de
R$ 4.330. Com 49% de ações em renda variável, aos 30 anos, o depósito mensal
seria de R$ 575 e, aos 40, de R$ 2.030.
Nesse
projeto de uma vida inteira, o ideal é começar já, defendem os especialistas.
Para Mauro Calil, a acumulação deve começar logo no início da vida
profissional. Ao menos 10% do salário deveriam ir para a previdência:
—
Mais importante que o montante é o prazo. Temos um jargão que diz que o tempo é
o senhor das finanças. Quanto mais cedo se começa, menor é o esforço mensal.
Para
Myrian Lund, o maior diferencial dessa forma de acumulação é gerar o compromisso
psicológico de que aquela renda está reservada para a aposentadoria. Com outras
formas de poupança, a tendência em investir em viagens e outros projetos é
maior, diz.
O
segredo é contribuir sem sentir, nem contar com esse dinheiro. Por isso, o
desconto tem de ser logo que se recebe o salário.
Por
Renata Cabral
Fonte
O Globo Online