Foram
felizes para sempre. O dia seguinte ao final feliz sempre me fascinou.
Felizes
para sempre é até quando? O que aconteceria com o final feliz, se a história
continuasse além da lua de mel? Um ano depois, por exemplo?
Será
que princesa ronca? Acorda com a cara amassada? Tem mau hálito de manhã? Vomita
pelo palácio na gravidez? Teria ciúmes das amigas do príncipe do Facebook?
Quanto
a nós, simples mortais, acho que vivemos
também, de certa maneira, num conto de fadas.
Há
dias em que as coisas acontecem como que por encanto. Uma fada madrinha atenta
adivinha seus desejos mais secretos. A vida é leve. Você flutua satisfeito.
Há
dias em que a bruxa está solta. E as fadas somem num sacudir de varinha.
Querem
seu coração na bandeja. Só te oferecem maçã envenenada. Tudo desanda. A vontade
é de dormir cem anos. E só acordar
quando tudo estiver resolvido.
Há
dias em que temos um príncipe. Do tipo lindo, perfumado, nos trazendo flores e
todo seu amor. E há dias, complicados, em que o príncipe vira um sapo. Um sapo
bem difícil de engolir. Dias em que você precisava de um desbravador com espada
em punho para ir na frente, decidir, escolher, facilitar. Mas o máximo que
consegue é um anão. Esperando você para cozinhar.
Há
dias de espelho camarada. Você olha e ele te reflete linda. Sim, de todas a
mais bela. Até deu uma emagrecida. Você fica eufórica. Ganha o dia. Já sai
feliz.
Há
dias em que aquele espelho safado mostra que você virou uma abóbora. A frio.
Sem dó nem piedade. Você cogita se vingar. Mas, desiste. Pior que ser abóbora,
é ser uma abóbora com 7 anos de azar. Cruzes!
Há
dias de realeza. Luxo, festa, perfume francês. Você desfila glamurosa. Os
olhares se voltam para você. Outros, dias de faxina, o borralho em pessoa. Rabo
de cavalo, vassoura e esfregão. Fedendo a fritura, suor e poeira.
Dias
de carruagem, música escolhida no pen drive, ar e direção hidráulica. Outros
dias de sardinha. Enlatada no vagão do metrô. Sacode em pé, funk ao fundo. Se
equilibrando, sem nem ter onde cair.
A
vida é um lindo conto de fadas? Eu acredito nisso. Uma história de fadas,
bruxas, bons e maus. Principalmente, de bravos lutadores. O pessoal rala muito
nos contos de fadas. Enfrenta bruxas,
feras, adversidades. Sofre.
Aproveita
o que tem enquanto luta. Não para por ter que lutar com dragões. Enfrenta-se.
Assim, as páginas vão virando. E a história se desenrola. Essa é a mágica. Nem
precisa de fada. É preciso saber virar as páginas para dar andamento aos fatos
da vida.
O
que os personagens dos contos têm que nos encantam tanto e os torna eternos?
A
capacidade de acreditar que serão felizes. E a determinação de que é preciso
lutar por isso. Enquanto não são felizes para sempre, são felizes um dia de
cada vez. Felizes para sempre é uma conquista diária.
Por
Mônica El Bayeh - http://poesiatodaprosa.blogspot.com.br/
Fonte
Época Online