Sete semanas depois de ser colocado à venda, a Hewlett-Packard matou seu tablet TouchPad, o concorrente da empresa para o iPad, da Apple. No ano passado, a Microsoft pôs fim aos seus celulares Kin apenas 48 dias depois de serem colocados à venda.
Em anos recentes, as empresas de tecnologia têm cortado seus prejuízos com rapidez crescente. O Google lançou orgulhosamente o Wave, sua plataforma de ferramentas de trabalho colaborativas, ao grande público em maio de 2010. A empresa cancelou o Wave 77 dias mais tarde. A Palm anunciou seu primeiro tablet, o Foleo, em 30 de maio de 2007. Em 4 de setembro, a empresa interrompeu o desenvolvimento e o produto nunca foi vendido.
A Pure Digital, fabricante da filmadora Flip, havia planejado lançar a Flip-Live em 13 de abril, mas a Cisco, que adquiriu a Pure Digital em 2009, fechou a divisão inteira em 12 de abril.
Nos tempos recentes, as grandes empresas de tecnologia – particularmente aquelas nas hipercompetitivas indústrias de smartphones e tablets – estão começando a lembrar estúdios cinematográficos de Hollywood. Todo lançamento precisa ser um megassucesso e a única medida disso é a arrecadação do fim de semana de estreia. Há pouco ou nenhum lugar para o sucesso independente e inesperado que gera um bom boca a boca para ter um desempenho sólido no decorrer do tempo.
Quando a Microsoft lançou o Xbox 360 em 2005, houve problemas generalizados de confiabilidade e o console enfrentou séria concorrência do Nintendo Wii.
Porém, a empresa resistiu e agora o Xbox é um dos consoles de videogame mais vendidos de todos os tempos. Esse tipo de tenacidade parece estar diminuindo.
Alguns analistas ligam a origem dessa mentalidade de tudo ou nada à Apple.
Cada lançamento dos populares iPads e iPhones da empresa transforma-se num evento para a grande mídia. Al Hilwa, analista da firma de pesquisas IDC, descreveu o acelerado ciclo de vida de hardware de alto nível como sendo darwiniano. “Há um nível de desespero de qualquer um cujo nome não seja Apple”, disse Hilwa.
A atração de blogueiros de tecnologia e adeptos precoces craques em Twitter que relatam todas as notícias – boas e más – sobre novos celulares e tablets também levanta a questão em torno de quão bem se saem novos produtos no mercado. “Você sabe bem depressa e de modo extremamente público se um produto é bem-sucedido ou não”, disse Hilwa.
Semelhante à semana de estreia no cinema, se as primeiras resenhas que chegam à Web criticam severamente um novo tablet ou celular, isso pode ser desastroso para seus fabricantes. “Uma vez que você perde o impulso inicial, é difícil reconquistá-lo”, disse Chris Jones, analista na Canalys.
O rápido ciclo de vida dos produtos pode brincar com os afetos dos consumidores, que podem se apressar para serem os primeiros em sua vizinhança com um novo produto apenas para descobrir que o fabricante cancelou qualquer suporte ou desenvolvimento futuro semanas depois de ter sido colocado à venda.
Neal LoCurto, proprietário da TeamLogic IT, empresa de consultoria de tecnologia da informação em Syosset, Nova York, disse que comprou seu TouchPad na manhã em que foi colocado à venda. “No dia do lançamento eu fui à Best Buy naquela manhã e esperei na porta”, disse. “Fui o primeiro a entrar e o primeiro a sair”.
LoCurto, que posteriormente ficou insatisfeito com o TouchPad por causa da falta de aplicativos, recebeu um reembolso por seu aparelho, mas diz que não confia mais na HP. “Sinto como se tivessem mentido para nós. Eles não deram uma chance”, declarou.
Segundo Jim McGregor, diretor de pesquisas da firma de pesquisa de mercado In-Stat, as empresas matam novos produtos mais rapidamente agora por causa do custo mais alto de permanecer competitivo. Pôr fim rapidamente a um fracasso óbvio faz sentido, embora possa ser embaraçoso.
“Os ciclos de vida são muito curtos porque há obviamente uma imensa concorrência”, disse McGregor. “Mesmo que você tenha um arrasa-quarteirão, sabe que vai ser passado para trás em seis meses. Você tem de aparecer com algo que realmente arrebenta e então dar sequência. Não dá para simplesmente ficar sentado e dizer: 'Ei, eu tenho um sucesso”'.
Segundo o especialista, no caso do TouchPad, os analistas concordam que ele fracassou porque seu sistema operacional, o webOS, tinha poucos dos aplicativos que fizeram o iPad da Apple um grande sucesso. O Kin, da Microsoft, tem um problema semelhante.
McGregor disse que o Google TV, acessório para televisão do Google conectado à internet, caiu na obscuridade por causa de um retrocesso dos provedores de conteúdo, que declinaram da ideia de disponibilizar o material que produzem.
O gigante da internet conquistou diversas parcerias, incluindo LG, Toshiba e Sharp, apenas para dizer a muitos deles em dezembro para atrasar o lançamento de seus produtos para o Google TV. Enquanto a estratégia do Google para o Google TV permanece obscura, nenhum desses parceiros apareceu com um produto da Google TV.
“O conteúdo vale mais do que o dispositivo”, disse McGregor. “Se você não tiver tudo – o conteúdo, os aplicativos e a experiência – poderia perfeitamente baixar âncora e saltar do navio”.
Mesmo a poderosa Apple nem sempre foi tão habilidosa. Como outras empresas hoje, ela sofreu um período de azar com novos produtos mais de uma década atrás e, como elas, cortou seus prejuízos. A empresa matou o computador de mesa Power Mac G4 Cube em 2001, após apenas 11 meses, porque os consumidores acreditavam que o preço era alto demais e relutaram em ter de comprar um monitor separadamente.
Dois após anunciar que mataria o TouchPad, a HP começou a se livrar de seu estoque via liquidação. O desconto exagerado – 80 por cento do preço original – conseguiu desencadear um frenesi de compras que os executivos da HP haviam esperado para quando apresentassem o dispositivo.
A loja online da HP, junto com Best Buy, Target e Walmart, ficou rapidamente sem TouchPads após colocá-los à venda por US$ 100 para a versão 16G e US$ 150 para a versão 32G. Quando originalmente disponíveis em julho, eles estavam listados a US$ 500 e US$ 600.
As pessoas planejavam estratégias em painéis de mensagens online sobre como encontrar um TouchPad. O call center da HP ficou sobrecarregado. “Todo esse clamor pelo TouchPad é meio que uma mistura de prazer e sofrimento”, disse o ramo de serviços ao consumidor da HP num post no Twitter.
By Jenna Wortham e Verne G. Kopytoff
From The New York Times News