A pandemia de coronavírus provocou uma
ruptura brusca em nossas vidas, que deixará como legado novos hábitos de
comportamento. É a essa conclusão que a consultoria McKinsey chega no estudo “O
novo consumidor pós covid-19”, divulgado este mês.
O material aponta quais as principais
preocupações dos brasileiros com a crise, que fazem desta diferente das
anteriores que o país já enfrentou. A origem sanitária coloca no topo da lista
de preocupações a saúde pública em geral, a disseminação do vírus, os cuidados com
a família, a segurança e a incerteza quanto ao tempo de duração da pandemia. Somente
depois vem a preocupação econômica.
A partir deste cenário atual, o estudo
mapeou como os brasileiros adaptaram sua vida ao distanciamento social e à
redução da atividade econômica. E a partir daí, projetou qual consumidor
emergirá da pandemia. O E-Investidor lista, a partir do estudo, os
10 mandamentos deste novo consumidor.
1 – O digital estará em todas as dimensões
das nossas vidas. O confinamento em casa apresentou diversas faces do mundo
digital a milhões de brasileiros. Segundo o estudo, 72% dos brasileiros tiveram
sua primeira experiência com plataformas de streaming, 48% recorreram a video-chamadas
para bater papo nos finais de semana, 43% descobriram o TikTok e 42% usaram
plataformas de ensino à distância para si próprio ou para os filhos. As compras
digitais, naturalmente, também cresceram: 40% passaram a usar mais o comércio
eletrônico, mesmo tendo cortado gastos.
A aceleração do marketing digital será obrigatória
para atender a esse novo consumidor. Aprimorar a experiência do usuário, captar
mais dados para melhor entender o consumidor e aproveitar novas oportunidades
de negócios será mandatório. As lojas físicas terão de ser repensadas.
2 – Eu preciso mesmo consumir isso? Milhões
de brasileiros perderam receita com a pandemia, seja por corte de salários ou
demissão. A insegurança financeira deixará marcas nos hábitos de compra. A
tendência é o consumidor se perguntar várias vezes se precisa mesmo daquele produto.
Mesmo quando precisar, não se incomodará de adquirir de segunda mão.
As empresas devem ficar de olho nos novos
padrões indicados pelos pontos de venda. E a comunicação terá de deixar muito
claro que aquele produto ou serviço vale o quanto custa.
3 – Novas marcas. Com maior fidelidade. Os
brasileiros têm experimentado o novo nas compras durante a pandemia: 25% estão
frequentando novas lojas (mesmo que virtualmente); de 30 a 40%, comprando novas
marcas. Explorar as conexões afetivas e ter produtos disponíveis em canais
chave será fundamental para as marcas laçarem esses novos clientes. Quem
conseguir, terá conquistado consumidores leais.
4 – Consumir presencialmente deve ser algo
seguro. A reabertura do comércio físico dificilmente levará a lojas imediatamente
lotadas. O medo de contaminação com o vírus acompanhará os brasileiros por
longo tempo. Isso fará a limpeza das lojas ser mais importante que o preço. Não
permitir aglomerações, mais atraente do que o comércio ser perto da casa do
cliente.
O layout das lojas terá de ser repensado
para transmitir a sensação de maior segurança. Máscaras serão parte do novo
normal e algumas categorias serão afetadas, como maquiagem. Quem seguir
apostando em vendas remotas ganhará mais fôlego para recuperar a venda
presencial.
5 – Saúde (e qualidade de vida) é o que
interessa. Em uma pesquisa de suporte ao estudo, 60% dos entrevistados disseram
estar consumindo mais produtos frescos e não industrializados do que antes. Do
mesmo universo, 80% garantem estar fazendo alguma atividade física dentro de
casa. Será necessário expandir o portfólio de produtos e ofertas para atender a
essa nova aspiração por saúde e qualidade de vida.
6 – Ficar mais tempo em casa será o novo
normal. O coronavírus obrigou os brasileiros a passarem mais tempo em casa. Mesmo
quando a pandemia passar, o lar deve ser um espaço de permanência maior do que
antes. Seja para manter hábitos e conexões adquiridos durante o confinamento; seja
porque as dificuldades econômicas não permitirão muito consumo fora de casa.
Para atender esta face do novo normal, a
arquitetura e o layout das casas passarão a incorporar espaço de trabalho, bem
como a internet terá de suportar as horas de home office e de streaming. Explorar
o “faça você mesmo” para cuidados pessoais e culinária ou práticas de
relaxamento serão boas oportunidades de atingir os consumidores.
7 – Na hora de se vestir, mais conforto e
menos tendência. O enfraquecimento da fronteira entre casa e trabalho chegou
também ao guarda-roupa. E pra ficar. 73% dos entrevistados na pesquisa que
suporta o estudo disseram privilegiar o conforto na hora de se vestir durante a
quarentena. Somente 19% disseram levar em conta a última moda.
O setor de beleza terá forte demanda por
produtos e serviços que as clientes possam consumir por conta própria, sem sair
de casa. As coleções de roupa terão de privilegiar também o conforto, a
qualidade do material e a durabilidade, deixando o “conceito” no fundo da
gaveta.
8 – A sustentabilidade será critério
determinante de escolha. Ser sustentável deixará de ser um conceito abstrato
para a maioria dos consumidores para passar a ser um critério de escolha. Segundo
o estudo, a pandemia fez crescer nas pessoas o impacto do consumo no meio
ambiente, levando a medidas práticas para reduzir essa consequência. As marcas
terão de levar essa preocupação para sua produção e para a entrega dos serviços
ou produtos. E quem errar a mão, será punido.
9 – A preocupação com a sociedade importa. Ao
lado da sustentabilidade crescerá a importância do propósito. O consumidor já
aumentou durante a crise a preocupação com o papel que as marcas procuram ter
perante a sociedade. Na retomada, será necessário ser mais contundente na
aplicação dos propósitos e reforçar a conexão afetiva com os consumidores.
10 – A cidade nunca mais será a mesma. O
coronavírus deixou as ruas das cidades vazias. (Ok, estão começando a ser
reocupadas antes do adequado). Mesmo assim, haverá marcas no comportamento do
consumidor. Para muitos, trabalhar em casa se tornará o expediente definitivo. Por
um longo tempo haverá preocupação com a transmissão do vírus – e isso pode
levar muita gente a morar em cidades menores e mais baratas.
Para as marcas, a tarefa é direcionar
esforços de marketing para este novo comportamento, olhar para o interior como
um mercado com clientes que deixaram os centros urbanos e redistribuir a rede
física.
Por Veruska Sayonara
Fonte JusBrasil Notícias