Especialistas dizem quais são os comportamentos que
realmente tiram os recrutadores do sério — e como evitá-los
O
mau momento do mercado de trabalho brasileiro faz com que os candidatos cheguem
cada vez mais nervosos, aflitos e angustiados às entrevistas de emprego. É
compreensível — mas todo esse estresse é mais nocivo do que parece.
Luís
Fernando Martins, diretor da consultoria de recrutamento Hays Response, diz que
a urgência em conseguir uma recolocação, ironicamente, faz com que muita gente
apresente comportamentos que terminam por afastar oportunidades.
Em
doses exageradas, a ansiedade tira a atenção, acentua cacoetes, atrapalha a
espontaneidade da conversa e impede que o candidato revele plenamente o seu
potencial na entrevista.
“O
recrutador normalmente dá um desconto, porque sabe que a crise deixa as pessoas
mais tensas”, diz Tatiana Penteado, gerente de mercado na consultoria
Produtive. Mas às vezes o afobamento é tanto que se torna irritante e, para o
prejuízo do candidato, acaba por desviar o foco do que realmente importa.
Mas
quais atitudes realmente tiram os recrutadores do sério e devem ser evitadas a
qualquer custo? Martins e Penteado fizeram uma lista com as principais.
Confira:
1. Não largar o celular
Parece
surreal, mas até pessoas que estão precisando urgentemente de trabalho não
conseguem desgrudar dos smartphones durante a entrevista de emprego. Às vezes o
apego à telinha é sutil: o candidato apenas checa rapidamente se há alguma
notificação entre uma frase e outra. Parece pouco, mas é o bastante para
sugerir ao recrutador que ele não está tão interessado na oportunidade.
“A
impressão que fica para nós é a de superficialidade, embora muitas vezes o
gesto seja irracional, automático, ligado a uma necessidade cada vez maior de
estar conectado o tempo todo”, diz Martins. “É lamentável, porque as pessoas
estão deixando de viver o momento presente e perdem oportunidades de
relacionamento”.
Para
cativar o entrevistador, o conselho do especialista é dedicar toda a sua
atenção a ele enquanto durar a conversa. Se tiver algum problema pessoal
naquele dia, explique de antemão que talvez precise atender um telefonema
urgente no meio da entrevista. Se não, o smartphone deve estar bem guardado e
no modo avião.
2. Exagerar na autopromoção
É
óbvio que todo candidato tentará “se vender” em uma entrevista de emprego. Mas
há várias maneiras de fazer isso — e a prática do autoelogio não é a melhor
delas. “É cansativo quando o profissional adota um tom muito narcisista na
conversa, dizendo que é muito competente e que todos os seus resultados são
exclusivamente por mérito próprio”, diz Penteado.
O
princípio é o mesmo que vale para os currículos: quando o candidato se define
como alguém perseverante, criativo, dedicado e carismático no “resumo de
qualificações”, na verdade está dizendo que é arrogante, prepotente e ingênuo.
Além
de ineficaz, o elogio ao próprio comportamento não convence ninguém. “O
recrutador acredita em quem consegue se promover de forma inteligente, com base
em exemplos e histórias reais, que façam o outro tirar suas próprias conclusões
sobre o seu talento”, diz a gerente da Produtive.
3. Não avisar que vai se atrasar
Traço
da cultura brasileira, a falta de pontualidade não pega bem em processos
seletivos. É claro que imprevistos acontecem — mas é obrigatório avisar que
você chegará atrasado caso seja surpreendido por um engarrafamento, por
exemplo.
O
melhor, claro, é evitar a demora. Mesmo que o dia pareça tranquilo, sem
trânsito ou previsão de chuva, saia com antecedência para chegar pelo menos 15
minutos mais cedo do que seria necessário. Além de evitar o problema em si,
isso fará com que você tenha tempo para relaxar um pouco antes de entrar na
sala da entrevista.
Se
mesmo assim acontecer, é importante ligar para o recrutador. Além de explicar
claramente o motivo do atraso, é bom dar uma estimativa de quanto tempo extra
você necessitará para chegar. “Sem isso, a impressão que fica é que a pessoa
não tem um bom planejamento e, principalmente, que não tem interesse na vaga”,
diz Martins.
4. Falar demais (ou de menos)
O
nervosismo às vezes se manifesta de formas opostas, mas igualmente incômodas: a
pessoa se torna verborrágica, dando detalhes desnecessários sobre sua
trajetória, ou se comporta de forma lacônica, exigindo que o outro precise
extrair informações a conta-gotas.
No
primeiro caso, a situação fica ainda pior se a tagarelice incluir mentiras.
Alguns candidatos “aumentam” algumas informações sobre si mesmos: dizem que
concluíram cursos que só foram iniciados, afirmam ter inglês fluente quando
dominam apenas o básico e até exageram o tamanho das equipes que lideraram.
O
detalhe é que todos esses dados podem ser (e muitas vezes são) checados pelos
entrevistadores. “Às vezes perguntamos ao candidato qual foi o motivo de uma
demissão, mesmo quando já sabemos a história que a empresa nos passou”, diz
Martins. “Quando as versões são diferentes, fica uma sensação de desconfiança”.
Por
Claudia Gasparini
Fonte
Exame.com