Qualquer
advogado que sinta medo no exercício da profissão não está sozinho. Se não
quiser olhar para os colegas a seu lado, pode se mirar nos advogados do
primeiro mundo.
Há
um recado do advogado Bill Rotts, de Columbia (Missouri):
“Nós
nos movemos em uma atmosfera de medo. Essa é uma força intrínseca à profissão”.
Por que sentir medo é positivo?
O
professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de Missouri, John
Lande, pesquisou a fundo os medos dos advogados, para escrever o livro Escaping
from Lawyers’ Prison of Fear (“Escapando da Prisão do Medo dos Advogados",
em tradução livre).
Ele
afirma que o medo é um fator necessário para se desempenhar bem a profissão. O
medo leva o advogado a se preparar muito até que se sinta mais confiante em seu
desempenho.
Ele
compara a atuação de advogados à de soldados na frente de batalha. Todos
convivem com um tipo de medo que os leva a estar alerta, a ser cuidadoso e a
responder prontamente a ameaças.
“Há
um sentimento de se estar em um combate. Você está lidando com um inimigo
perigoso, que está sempre pronto a atirar, e você deve antecipar seus
movimentos e estratégias”, ele diz.
O medo e suas categorias
Em
seu livro, ele distingue categorias desse sentimento: medo realista, medo do
desconhecido, medo derivado da ansiedade, medo ilógico e medo de falhar.
E
de sua pesquisa, para escrever o livro, ele aponta os maiores medos dos
advogados americanos (que, em boa parte, se aplica a promotores, obviamente).
Os 32 mais comuns são os medos de:
·
Perder
uma causa (e frustrar as expectativas do cliente, da banca e de si mesmo);
·
Perder
o controle (de uma causa, do funcionamento do escritório, etc.);
·
Mudanças
nos procedimentos familiares;
·
Parecer
tolo por fazer certas perguntas;
·
Expressar
com toda a franqueza seus pensamentos e sentimentos;
·
Dar
“más notícias” ao cliente;
·
Ser
intimidado por superiores no escritório;
·
Ser
intimidado por juízes (ou mesmo oponentes);
·
Pedir
favores a oponentes em um caso ou receber pedidos de favores de oponentes;
·
Parecer
“bonzinho”;
·
Ser
culpado (por qualquer coisa que saia errado, por exemplo);
·
Falar
em público;
·
Faltar
qualificação e confiança, devido à experiência limitada em julgamentos;
·
O
cliente dar um falso testemunho;
·
Falhar
na busca ou na apresentação da prova essencial;
·
Frustrar
os interesses dos clientes;
·
Descobrir
que o oponente foi mais inteligente (ou esperto);
·
Ser
avaliado injustamente pelos jurados;
·
Sofrer
retaliações por pedir desqualificação do juiz ou por relatar má conduta
judicial;
·
Sofrer
“a dor, a humilhação e a vergonha da derrota”.
Negociações nervosas
Não
é apenas o contencioso que induz ao medo. A negociação também faz isso, de
acordo com a pesquisa de John Lande. Alguns são os medos de:
·
Se
sentir inseguro ou despreparado na hora da negociação;
·
Fazer
perguntas;
·
Ser
questionado agressivamente pela outra parte;
·
Parecer
tolo;
·
Ficar
em silêncio por não saber o que falar;
·
Parecer
fraco;
·
Ser
dominado ou explorado pela outra parte;
·
Falar
demais – como prestar informações que podem prejudicar a posição do cliente;
·
Cometer
erros de tática ou estratégia;
·
Avaliar
incorretamente o caso;
·
Deixar
de prever possíveis problemas e ser surpreendido;
·
Não
conseguir chegar a um acordo;
·
Não
conseguir um resultado suficientemente bom para o cliente;
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Conjur