Pensando em ser estudante novamente? Confira um
roteiro de reflexões para descobrir se essa é a melhor opção para a sua
carreira
O
momento amargo do mercado de trabalho tem levado muitos brasileiros a
questionar suas escolhas profissionais. Estagnação no emprego atual, demissões
inesperadas e dificuldades para conseguir emprego trazem a sensação de que é
preciso passar a carreira a limpo, do zero.
Investir
em um segundo curso de graduação é uma das formas de fazer isso — mas está
longe de ser a única. A não ser que você esteja muito insatisfeito com a
profissão que escolheu na juventude, existem soluções melhores para se
reinventar e se relançar ao mercado de trabalho.
“Voltar
para a faculdade só vale a pena se você quer mudar radicalmente de área”, diz o
consultor em gestão de pessoas Eduardo Ferraz. Apostar numa pós-graduação ou
até sair do país para aperfeiçoar o inglês são algumas alternativas com melhor
custo-benefício em grande parte dos casos.
É
claro que alguns profissionais podem ganhar muito com uma nova faculdade. Para
Jorge Martins, sócio da consultoria de recrutamento Bullseye Executive Search,
um exemplo típico é o do advogado que trabalha numa consultoria tributária e
decide cursar ciências contábeis — um diploma obrigatório para fazer
assinaturas técnicas e liderar determinados tipos de projetos.
No
entanto, os casos em que é necessário acumular dois diplomas são bastante
específicos e raros. Via de regra, diz o especialista, o investimento de tempo,
dinheiro e esforço necessário para a aventura é desproporcional aos ganhos para
a carreira.
Mas
como ter certeza de que a decisão de fazer uma 2ª faculdade realmente é (ou não
é) para você? A pedido de EXAME.com, Ferraz e Martins propuseram o seguinte
roteiro de perguntas para orientar a sua reflexão:
1. Por que (realmente) quero fazer uma 2ª faculdade?
Você
pode até pensar que já respondeu a essa pergunta, mas talvez seja necessário
repeti-la e dar uma resposta mais completa. Se, no fundo, a sua ideia é
simplesmente “embelezar” o seu currículo com um segundo diploma de faculdade na
tentativa de impressionar possíveis recrutadores, esqueça.
Ao
contrário do que muita gente pensa, os headhunters costumam estranhar
trajetórias com essa característica. “O candidato transmitirá falta de foco se,
depois de 15 anos trabalhando com marketing, ele decide fazer uma graduação em
fisioterapia, por exemplo”, afirma Martins. “Se você só quer passar a ideia de
que é muito estudioso ou ousado, o tiro pode sair pela culatra”.
E
qual seria uma razão justa para se lançar à aventura? Para o especialista, é o
desejo de recomeçar a sua vida profissional do zero, porque você já não suporta
mais o que escolheu para si. Transformar drasticamente a sua carreira não é
impossível — em muitos casos dá certo. Se essa é a sua motivação, o próximo
passo é avaliar se você tem condições de colocar o seu plano em prática, como
mostrará o próximo item.
2. Tenho todos os recursos necessários?
Tempo,
dinheiro, energia física e disposição mental para ser estudante novamente serão
variáveis fundamentais para sua a tomada de decisão, diz Ferraz. É importante
desmembrar essa reflexão em várias perguntas.
Qual
é o valor das mensalidades, caso a faculdade seja particular? Quanto custa o
cursinho, se a ideia é tentar uma vaga numa universidade pública? O período de
estudos seria matutino, vespertino ou noturno? Poderia ser conciliado com um
emprego? Se não, é possível abdicar de uma renda temporariamente? Qual seria o
tempo dos deslocamentos entre casa, emprego e faculdade? Você teria mesmo
energia suficiente para estudar diariamente e fazer provas?
Parece
complexo — e realmente é. Para colocar tudo isso na ponta do lápis, diz Ferraz,
um profissional precisa fazer planos com pelo menos um ano de antecedência. A
preparação também deve incluir boas doses de networking: você precisará ter
contatos para começar a ingressar num mercado totalmente novo, e é importante
prospectá-los o quanto antes.
3. A hora é boa?
De
acordo com Martins, não é uma boa ideia fazer um segundo curso universitário
logo depois de ter se formado na primeiro. “Espere um pouco, experimente, tente
colocar o que você aprendeu em prática”, aconselha ele. É preciso confirmar se
realmente você não gosta da sua área original antes de buscar uma nova.
Por
outro lado, é possível que em algum momento seja tarde demais para tomar a
decisão? Para o recrutador, a resposta é não. As chances de sucesso nunca serão
nulas, mas podem ser bem mais baixas à medida que o profissional envelhece.
“Quanto mais maduro, maior fica o seu custo de vida e mais estreitas se tornam
as portas para um novo mercado”, explica ele.
Para
quem é mais velho e quer fazer uma 2ª graduação, a dica é tentar aproveitar sua
experiência anterior na nova carreira. É o caso de um médico com muitos anos de
profissão que decide fazer um curso de Direito, por exemplo, para se tornar
advogado de hospitais. Ele aproveitará o conhecimento acumulado sobre o
universo da saúde para se diferenciar da concorrência e abocanhar um nicho em
que as duas formações se cruzam.
4. Todas as outras possibilidades estão realmente
descartadas?
Voltar
para os bancos da faculdade exige bons motivos, recursos suficientes e muito
planejamento. É um movimento arriscado e custoso, diz Ferraz, e deve ser feito
somente depois que todas as alternativas tiverem sido consideradas.
Em
muitos casos, a melhor saída é a pós-graduação. Além de ser mais rápido e
adequado às necessidades de quem está trabalhando, esse tipo de curso é mais
eficaz para quem quer se aprofundar num assunto sem entrar em detalhes muito
básicos ou técnicos do assunto. Se você é formado em psicologia e quer
trabalhar com publicidade, por exemplo, não vale a pena fazer uma graduação na
área: é melhor buscar uma pós em marketing ou comunicação mercadológica.
“Na
crise, cada vez menos pessoas têm optado por uma segunda faculdade, porque é um
investimento a longo prazo, muito caro e incerto”, afirma Ferraz. Por outro
lado, a pós-graduação costuma ser uma aposta mais garantida, porque é mais
valorizada pelo mercado de trabalho já se consolidou como item obrigatório em
currículos de quase todas as áreas.
Por
Claudia Gasparini
Fonte
Exame.com