Nos
Estados Unidos, a maioria dos novos advogados não tem vida fácil. Sempre há
alguém disposto a lhes dizer que não são bons em seu trabalho. Uns dizem isso
porque é verdade. Outros porque querem intimidá-los. E outros, por pura
maldade, diz o advogado Sam Glover, editor do site Lawyerist.
O
fato é que os advogados, especialmente os que atuam em contencioso, precisam
ter inteligência emocional para aguentar a “guerra”. Do contrário, não serão
bons em seu trabalho. O bullying, tão comum nas escolas, não termina com a
formatura. Apenas toma novas formas. E a forma mais devastadora para os novos
advogados é a praticada por alguns advogados mais antigos, que procuram
intimidá-los, para levar vantagens nas disputas judiciais, diz Glover.
Não
são as notas ruins durante o curso de Direito tornam um bacharel um mau
advogado. Há uma brincadeira sobre isso, considerando o sistema de notas
americano, que usa letras para classificar os alunos. A anedota diz que
formandos com nota “A” se tornam professores universitários, com nota “B” se
tornam juízes, e com nota “C” se tornam os melhores advogados de contencioso.
O
que faz um mau advogado é a incapacidade de lidar com as críticas, com as
tentativas de depreciação e todas as demais formas de bullying, palavra que se
traduz como “intimidação”. E isso acontece no tribunal, onde o advogado é
intimidado por colegas que representam a outra parte e às vezes por juízes e
promotores. E pode acontecer até mesmo no escritório, onde a concorrência é
grande.
“Muitos
dos advogados que enfrentei nos meus primeiros nove anos de carreira me
disseram que eu era estúpido, um crédulo que acreditava em clientes que estavam
mentindo, que minhas demandas eram frívolas e que eu teria sorte se conseguisse
extinguir minha própria ação. Me ameaçaram de muitas coisas inúmeras vezes, mas
99% das vezes nada aconteceu”, conta Glover.
“Mas
eu sei que não sou estúpido, meus clientes raramente mentem para mim sobre
alguma coisa importante, eu não movo ações frívolas e dificilmente pensaria em
extinguir minhas ações voluntariamente. Mas a prática da advocacia nem sempre é
colegial e se encolher sob fogo não é uma opção para o advogado”, ele diz.
O
profissional precisa ter casca grossa, o que significa manter o controle de
suas emoções e responder a provocações e tentativas de intimidação
apropriadamente, sempre. O advogado precisa fazer isso porque seu trabalho é
servir o cliente. Por isso, deve ignorar os “fanfarrões”, ficar calmo e tomar
boas decisões mesmo que sob pressão, ele afirma.
“Por
mais que um oponente deprecie você, não se esqueça de que seus sentimentos são
irrelevantes em uma disputa judicial. Suas obrigações profissionais requerem
que você tome as decisões certas em todos os momentos, não importa como você se
sinta”, diz Glover.
Muitas
vezes, advogados mais experientes “explicam” aos menos experientes,
pessoalmente ou por telefone, porque seu caso é fraco, aponta problemas e junta
a isso uma dose de insultos. O advogado inexperiente passa a defender seu caso
e, nesse momento, acaba revelando ao mais experiente algumas informações
fundamentais do caso – exatamente o que ele queria descobrir.
“Não
julgue seu caso junto com o advogado oponente. Quem deve julgar é o juiz. Nem
lhe dê informações que o ajudarão a lutar contra você no tribunal”, recomenda
Glover.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Consultor Jurídico