Suas
despesas andam superando suas receitas? Se a resposta for sim, mas você não tem
ideia do que fazer para reduzir seus gastos e voltar a ver o orçamento em azul,
as dicas a seguir podem ser um bom ponto de partida.
As
sugestões incluem não apenas cortes específicos, mas mudanças no jeito de lidar
com as finanças e na forma como você encara o assunto dinheiro. Confira a
seguir alguns hábitos que você deve interromper imediatamente para finalmente
parar de gastar à toa.
1) Achar que uma série merece mais tempo do que o seu
planejamento financeiro
Enquanto
o planejamento financeiro for jogado para escanteio, as mudanças de hábito
dificilmente vão acontecer. Assim como você dedica tempo ao trabalho, aos
estudos e a assistir a uma série, parte do seu tempo também deve ser dedicada a
refletir sobre seus gastos.
Cássia
D'Aquino, especialista em educação financeira, defende que a mudança só
acontecerá de fato se você der algum sentido a ela. “Ninguém muda um
comportamento ao ler dicas em uma reportagem ou porque é sensato. É preciso
encontrar razões que te deem prazer e te motivem a economizar. ”
A
especialista recomenda investigar a raiz do problema, avaliando de maneira
profunda o que leva a gastar mais que a conta. “O que me preocupa é que algumas
pessoas vão vivendo, levando no automático, sem ter nenhuma noção do motivo que
as levam a ter um hábito ruim”, diz Cássia.
2) Gastar para compensar frustrações
No
livro O Poder do Hábito (Editora Objetiva), Charles Duhigg mostra que os
hábitos são criados a partir de um ciclo composto por três fases: o gatilho, a
ação e a recompensa.
O
gatilho pode ser a vontade de fazer compras após um dia estressante no
trabalho. Em seguida, você passa à ação, e gasta dinheiro sempre que o dia for
difícil. Ao fazer a compra, o cérebro libera dopamina, que traz a sensação de
satisfação e de recompensa. Com esse processo, o cérebro passa a buscar a
recompensa sempre na mesma ação e o vício passa a ser reforçado e acionado.
Portanto,
se você gasta mais do que deve sempre que passa por uma frustração, tente
trocar esse hábito por outro igualmente prazeroso, como ver seus amigos, ir ao
cinema, ou qualquer outro que facilite a substituição do hábito pródigo por
outro menos prejudicial às finanças.
3) Fazer birra com o cartão de crédito
Quem
não gostaria de poder satisfazer todas suas vontades, sem se preocupar com o
rombo que elas podem causar nas finanças? Mas, a realidade é dura e o orçamento
limitado. O lado bom, porém, é que encarar a frustração de não comprar algo
pode ser mais fácil do que lidar com uma dívida e todo o estresse que ela pode
causar.
Cássia
D’Aquino tem uma visão bem prática sobre isso. “Não há ninguém nesse mundo que
não tenha frustrações, faz parte da vida. Ninguém vai morrer por deixar de
fazer uma compra. Mas é como se algumas pessoas voltassem à infância, quando se
jogavam no chão por não conseguir algo. Acontece que birra de adulto é sacar o
cartão de crédito e isso tem implicações.”
4) Ignorar dicas para economizar com o supermercado
Sim,
as compras de supermercado estão caríssimas e comendo boa parte do nosso
salário, mas lamentações não farão os preços caírem. Nesse caso, pode ser mais
efetivo seguir algumas dicas para driblar os altos custos, como fazer compras
em atacarejos, observar calendários de promoções – às quartas-feiras, por
exemplo, é comum encontrar ofertas de frutas e verduras – e comprar produtos de
marcas próprias do supermercado.
Outra
dica essencial é fazer uma lista. Ainda que a sugestão seja bem batida, talvez
seja a hora de rever como você faz isso. O ideal é que a lista seja feita com
um olho no papel e outro na despensa ou na geladeira para que ela inclua apenas
o que está faltando e nenhum item repetido. “Eu também costumo fazer um
cardápio semanal para basear as compras nas refeições que serão preparadas”,
diz Cássia D’Aquino.
Veja
a matéria completa sobre como economizar no supermercado.
5) Jantar fora com frequência
Uma
pesquisa feita pelo app de controle financeiro GuiaBolso com 858 brasileiros
que em 2015 gastaram menos do que ganharam, não caíram no cheque especial e
investiram parte do salário, revelou que para 23% deles a diminuição das idas a
bares e restaurantes foi o principal fator responsável pela economia no ano. A
segunda mudança crucial, mencionada por 12% deles, foi levar comida de casa
para o trabalho.
“É
senso comum que os gastos com bares e restaurantes são altos, mas a questão é
que as pessoas gastam muito mais do que imaginam com isso. Reduzir esse tipo de
despesa pode fazer uma grande diferença”, afirma Thiago Alvarez, CEO do
GuiaBolso.
Para
diminuir esses gastos sem sofrimentos, Cássia D’Aquino sugere usar a
criatividade: “Se você não pode mais frequentar toda semana aquele restaurante
que tem aquele prato especifico que você ama, que tal aprender sua receita?”.
Veja
dicas de nutricionistas para economizar na alimentação sem engordar e abrir mão
da saúde.
6) Ser desorganizado e deixar a arrumação sempre para
depois
Segundo
a empresa Seja Personal Organizer, especializada em serviços de gestão de
rotina, uma vida mais organizada pode gerar uma redução de até 30% dos gastos
mensais. Ao administrar todos seus pertences, desde suas roupas até seu imóvel,
é possível se dar conta do trabalho que você tem para administrar tudo isso e
avaliar o que é realmente necessário e o que te faz perder tempo.
Ao
organizar seu guarda-roupas, por exemplo, é possível encontrar algumas roupas
que você tinha esquecido e levar para o conserto peças que estão com defeito,
evitando a necessidade de comprar roupas novas.
A
organização deve englobar desde as tarefas do trabalho até os afazeres
domésticos. Se você contrata uma diarista que passa suas roupas às quintas, por
exemplo, e você precisa delas limpas na véspera, ao se organizar para fazer
isso você não subutiliza um trabalho que já será pago e de quebra ainda
economiza tempo – e tempo é dinheiro, claro.
7) Dizer sim quando o vendedor pergunta: "Vai
parcelar?"
Thiago
Alvarez afirma que os gastos parcelados abocanham, em média, 40% do valor total
das faturas de cartão de crédito dos cerca de dois milhões de usuários do
GuiaBolso. “Os parcelamentos vão se acumulando, a fatura começa a misturar
prestações que estão no quinto mês, no segundo, ou no terceiro e o cartão vira
algo incontrolável”, diz.
Ele
recomenda, portanto, que você pense sempre duas vezes antes de aceitar o
parcelamento de uma compra e só faça o pagamento a prazo quando o gasto for
realmente necessário e não houver alternativas. "O ideal é que os gastos
parcelados sejam feitos no máximo uma vez a cada três meses", recomenda
Alvarez.
Veja
quando parcelar ou não suas compras.
8) Subestimar os pequenos gastos
A
sugestão aqui não é condenar o docinho que você compra após o almoço ou a
cervejinha do happy hour e sugerir que você não gaste mais um centavo com itens
supérfluos, mas apenas propor uma reflexão sobre esse tipo de gasto. Ao anotar
até os cafezinhos é possível entender exatamente qual é o destino do seu
dinheiro e fazer melhores escolhas, evitando o consumo desnecessário.
A
coach financeira Ana Paula Hornos diz que a definição do que é prioritário é
algo muito subjetivo, mas ela sugere restringir os gastos que sustentam seu
padrão de vida a 70% da receita, destinando 20% a reservas e 10% a doações.
“Dentro dos 70%, cada um escolhe sua própria distribuição. O importante é
acompanhar no detalhe todos os gastos, inclusive os menores, para garantir que
o orçamento seja respeitado.”
9) Manter altos gastos fixos
Se
o objetivo é economizar, não faz sentido discutir gastos menores, como idas a
restaurantes e roupas, e ignorar gastos altos, certo? No entanto, é comum que
os papos sobre redução de gastos foquem exatamente no corte de itens não
essenciais e ignorem os gastos fixos e mais pesados, como financiamentos,
condomínio, contas de luz etc.
“As
pessoas assumem compromissos grandes como financiamentos de carros e imóveis
sem calcular direito se a parcela caberá no bolso. E às vezes não tem jeito, a
solução pode ser mesmo ir para um financiamento mais barato. Eu já me mudei
duas vezes para buscar um imóvel mais barato”, diz Thiago Alvarez, CEO do
GuiaBolso.
Ainda
que a decisão não seja simples, ao morar em apartamento menor ou ir para um
bairro com um estilo de vida mais modesto, você pode economizar não só com o
valor do imóvel em si, mas com custos paralelos, como o condomínio, as
padarias, supermercados etc.
É
uma questão de avaliar o que compensa mais: viver em um lugar maior ou em um
bairro mais sofisticado e conviver com um orçamento mais apertado, ou abrir mão
de alguns metros quadrados, mas voltar a ter uma folga no orçamento e
aproveitar o apartamento para fazer um bom jantar, ou fazer boas viagens.
10) Não fazer doações
Como
uma doação pode ser algo indicado para reduzir gastos exatamente? Segundo Ana
Paula Hornos, ao abrir mão de parte da sua renda todo mês para ajudar outras
pessoas você exercita a paciência e a gratidão, virtudes que contribuem para
regular o egoísmo em relação ao dinheiro.
"A
gratidão aumenta nosso senso de satisfação e felicidade, independentemente da
situação financeira. Já paciência é o fiel da balança entre estar endividado e
poupar. Se eu sei esperar, junto dinheiro para uma compra à vista; se não
consigo, antecipo a compra, parcelo, ou assumo dívidas”, afirma Ana Paula.
Ela
também sugere manter o hábito de agradecer diariamente por três coisas boas que
aconteceram na sua vida e treinar a paciência com atividades que envolvam
etapas e exijam alguma espera (como cozinhar, pescar, meditar, etc). "O
equilíbrio emocional é fundamental para lidar melhor com o dinheiro", diz.
Por
Priscila Yazbek
Fonte
Exame.com