Qualquer
pessoa pode ser aprovada num concurso público? Sim e não. Em princípio, os
concursos são acessíveis a qualquer pessoa que possua os requisitos exigidos
para o cargo e se disponha a estudar o conteúdo cobrado. Há oportunidades para
todos os níveis de escolaridade – desde o fundamental incompleto – e para
cargos de variadas complexidades. Não é exigida experiência anterior e não há
discriminação por sexo, idade, classe social, religião ou qualquer outra. Então,
parece que qualquer pessoa é capaz de conquistar a sua vaga.
Perfil específico?
Mas
há um requisito fundamental, não expresso nos editais: determinação e
capacidade de lidar com frustrações. Sim, para qualquer concurso é necessário
preparação, seja ela intelectual, física ou ambas, mas também uma dose
extraordinária de resistência a dificuldades.
Em
muitos casos, pode ser preciso estudar durante anos. Os editais podem demorar a
sair e a aprovação dificilmente vem nas primeiras provas. Pode também acontecer
de a nomeação não acontecer logo após a homologação do concurso, e demorar até
quatro anos (o prazo máximo de validade dos concursos é de dois anos e pode ser
prorrogado por igual período). Portanto, o projeto que tanta gente ataca como
sendo para pessoas acomodadas parece ser, na prática, coisa para quem tem fibra
de verdade.
Boa base escolar ou capacidade intelectual resolve?
Por
outro lado, a questão intelectual não é fator tão determinante como poderia
parecer. Não faltam casos de candidatos com boa formação, mas que apresentam
muita dificuldade para se dedicar à preparação. Outros, ao contrário, enfrentam
suas limitações em relação aos conteúdos de forma incansável, até saírem
vencedores.
Envolver-se
Os
que desistem - ou que mesmo depois de muitos anos não parecem apresentar
evolução no seu desempenho - são os que não se envolvem com o projeto como
deveriam. Apenas dizem que estão se preparando para concursos, porque gostariam
de estar, mas essa não é a realidade. A pessoa, por exemplo, frequenta um
curso, mas não consegue ter a dedicação necessária fora de aula. Segue a vida
como antes, sem abrir mão de outras atividades, fato que permitiria ampliar ao
máximo o tempo dedicado ao aprendizado dos conteúdos.
Quase
todo dia acontece algo que adia ou interrompe o momento de efetivamente
sentar-se e estudar e a pessoa passa o tempo a se justificar. E é sabido que o
tempo de assimilar os conhecimentos é aquele dedicado a reler a teoria, fazer
exercícios, revisões, provas anteriores. Sem isso, não há aprovação.
Rotina de estudo
O
curioso é que desde muito pequenos somos habituados a cumprir rotinas: vamos à
escola diariamente e, quase sempre, temos deveres e trabalhos a serem entregues
em determinados prazos. Quando nos tornamos adultos e começamos a trabalhar,
também precisamos cumprir o horário e desempenhar as atividades para a qual
somos pagos. E, se a pessoa for aprovada, terá de dar conta das suas
atribuições como servidora pública. Por que então parece ser tão difícil manter
o compromisso de estudar a sério para conquistar a vida que a pessoa escolheu?
Por que a cada dia a energia é consumida em novas desculpas e adiamentos, como
se o projeto não fosse importante?
A
única explicação que encontro é o fato de que a pessoa não está conseguindo
lidar com a liberdade de escolha, de poder estudar ou não. E não percebe o
quanto essa postura inconstante compromete o resultado que poderia obter.
Acontece que concurseiro que se preze não tem mais ninguém mandando estudar. É
uma opção pessoal. De outro jeito, será apenas uma tentativa de enganar que
está estudando.
Amadurecer
Nesses
casos, realmente será bastante difícil atingir a aprovação. Antes, será preciso
enxergar honestamente a própria atitude e amadurecer o comportamento. Que, a
propósito, é um posicionamento diante da vida. A principal preparação será
aprender a deixar de colocar a responsabilidade nos outros, ou no acaso, e
descobrir que só você pode caminhar para onde deseja chegar. Porque não se
engana a vida.
Por
Lia Salgado
Fonte
G1