Comprometimento
é substantivo masculino que significa assumir compromisso, arriscar-se e envolver-se.
No mundo empresarial reconhece-se que “profissionais comprometidos e engajados
com a organização se empenham mais, se dedicam mais e, consequentemente,
produzem com maior qualidade”.[1] Evidentemente, no universo das profissões
jurídicas não é diferente.
O
comprometimento, tanto na área do Direito como nas demais atividades, sofre,
atualmente, certo desgaste. Faz parte do mundo contemporâneo uma espécie de
conduta que relativiza o compromisso. Algo como um pacto implícito de não ir a
extremos na dedicação. Cumprir a obrigação e não ir além disso.
O
comprometimento ou não de uma equipe faz toda a diferença nos resultados. É de
todo evidente que um grupo dedicado, compromissado em alcançar um resultado,
supera todas as expectativas e alcança maior sucesso do que outro que,
burocraticamente, se limita a cumprir suas funções.
Mas
a quem importam esses resultados? A todos, com certeza.
Em
um primeiro momento, aos destinatários do serviço. Por exemplo, a vítima de um
crime, que deseja lavrar o Boletim de Ocorrência, sairá mais reconfortada da
delegacia de Polícia se for atendida com respeito e receber o documento em
pouco tempo. Isso dependerá muito — ainda que não exclusivamente — do
comprometimento de quem a atenda.
O
comprometimento pode ser visto a partir de dois pontos de vista: a) do líder,
ou seja, aquele que influencia toda a equipe e consegue resultados altamente
positivos; b) com foco individual, é dizer, a forma como cada um se entrega às
suas atividades profissionais. Aqui a análise será feita apenas com foco na
atitude de cada um, individualmente.
Para
que isso ocorra é preciso que cada um questione a si mesmo, perguntando:
“quanto estou envolvido com a organização em que trabalho? Será que tal
envolvimento é suficiente para eu fazer a diferença e proporcionar resultados
importantes?”.[2]
Comecemos
pela Faculdade de Direito. Um professor pode ter dois tipos de atitude: dar
suas aulas, cumprir o plano de ensino e avaliar os alunos ou ir além,
aprimorando-se sempre, auxiliando os alunos nas suas dificuldades, procurando
novas formas de transmissão de conhecimentos, passando lições de vida. A
segunda maneira de agir revela comprometimento.
O
professor que se aprimora (por exemplo, publicando artigos em revistas
especializadas), auxilia sua faculdade na pontuação exigida pelos órgãos do
Ministério da Educação. Por outro lado, dedicando-se aos alunos além da rotina
de classe, contribuirá para que eles sejam profissionais realizados e úteis ao
país.
Mas,
no outro lado da moeda, há o necessário comprometimento do aluno. Se ele se
dedicar aos estudos, com certeza terá bons resultados. Engrandecerá sua
Faculdade e crescerá culturalmente. Porém, se passar cinco anos alheio a tudo,
seu nome não será lembrado nem na foto dos formandos. Nos estágios durante o
curso o comprometimento será decisivo. Alunos interessados acabam sendo
aproveitados depois de formados ou indicados a terceiros. Imagine-se um
estagiário em uma Promotoria de Justiça. Se for dedicado terá grande chance de
ser lembrado depois de formado, como estagiário de pós-graduação e nesta
atividade poderá preparar-se para o concurso de ingresso no MP.
Servidores
do Judiciário, quando comprometidos, fazem a diferença. Alguns preparam-se para
o concurso e, tão logo assumem, comportam-se como burocratas. Não trabalham um
minuto depois do horário de expediente. Esquecem-se das boas coisas que acompanham os cargos públicos: vencimentos
geralmente acima do mercado de trabalho, recesso judiciário (além das férias) e
estabilidade no cargo. Mesmo que surjam decepções (p. ex., a indicação de
alguém para função gratificada por interferência política e não por mérito), é
preciso lembrar que um servidor comprometido, mais cedo ou mais tarde, será
reconhecido.
Associações
de classe e sindicatos também exigem comprometimento. Quem assume um cargo na
diretoria não pode queixar-se de telefonemas nos momentos mais inapropriados,
como véspera de Natal. Ao assumir uma posição, o eleito deve contas aos colegas
e tem o dever de atender com sacrifício cordialidade e sacrifício pessoal.
Nos
cargos espinhosos também há dever de comprometimento. Quem assume as
atribuições de corregedor-geral do MP de um estado não pode fechar os olhos às
queixas dos advogados de uma comarca do interior, que reclamam do fato de o
Promotor não estar presente às segundas e sextas-feiras. É dever do Corregedor
dar solução ao problema, pois, ao assumir esse espinhoso cargo, comprometeu-se
a zelar pela instituição. Caso seja omisso, por comodismo ou porque deseja ser
eleito, pela classe, procurador-geral, deve ser publicamente execrado.
Os
cargos de administração do Poder Judiciário também exigem comprometimento.
Imagine-se um juiz de Direito que, empossado como Diretor do foro de uma
comarca de grande porte, dez dias depois entra em férias. Tal ato seria a
demonstração do mais absoluto descomprometimento e mereceria, por si só,
destituição das funções.
Na
Justiça Federal um juiz substituto, atualmente, leva oito ou mais anos para ser
promovido a titular. Tribunal Regional Federal, nem pensar, são poucos e
pequenos. Praticamente não há mais carreira. Porém, para um juiz comprometido
sempre haverá espaço. Comissões, associação de classe, assessoria ao Corregedor
ou ao Presidente, Escolas da Magistratura e outras oportunidades.
Um
procurador de órgão público pode fazer muito pelo bem comum, se for
comprometido. Há uma crença que nada pode ser feito, porque deve ser obedecido
incondicionalmente o princípio da legalidade. Não é verdade. A vida apresenta
situações em que, sem risco pessoal, pode ser amenizado o sofrimento alheio.
Por exemplo, lutando para e formalizando acordos em desapropriações, com
autorização superior, evidentemente, para pagamento, assim evitando a espera,
por décadas, a que se submetem os expropriados.[3]
Um
advogado que atue como empregado de um escritório também precisa ser
comprometido, mesmo que o salário não seja dos mais estimulantes. Deve
empenhar-se em manter a boa imagem, esforçar-se para aumentar a clientela e
jamais fazer críticas em locais públicos. Na verdade, o advogado empregado
precisa avaliar o conjunto e não apenas o quanto recebe por mês. No pacote
entra a experiência que está adquirindo, o conhecimento que lhe está sendo
transmitido e a oportunidade de crescimento pessoal que está tendo. Se a
insatisfação, ainda assim, persistir, o melhor a fazer é agradecer e tomar seu
rumo.
Necessidade
comum a todas essas atividades é o comprometimento com horários. As pessoas
programam-se para executar suas tarefas e fazê-las esperar, sem motivo de força
maior, é a mais clara demonstração de falta de envolvimento. É óbvio que alguém
com esse perfil não pode ser levado a sério e não se recomenda dar-lhe qualquer
tipo de atribuição de importância.
Em
suma, individualmente, comprometimento é a base do sucesso de uma pessoa. Já a
soma dos comprometimentos individuais será, certamente, a razão do sucesso coletivo. No âmbito das
instituições públicas, pessoas individualmente compromissadas farão com que
elas funcionem. É preciso afastar a crença de que a ineficiência é uma moléstia
à qual estamos condenados eternamente.
Finalmente,
sempre é bom lembrar que a dedicação e o serviço bem prestado, sem interesse em
qualquer tipo de vantagem, são a via mais certa da felicidade pessoal. Os
cínicos, desiludidos, com uma palavra amarga para qualquer tipo de boa
iniciativa, com certeza não são modelos a serem seguidos. E 2021 com
mais comprometimento e realizações.
[1] Instituto Brasileiro de Coaching, José Roberto
Marques, em:
http://www.ibccoaching.com.br/tudo-sobre-coaching/quais-os-5-tipos-de-comprometimento-organizacional/,
acesso em 25.12.2015.
[2] Armando Corrêa de Siqueira Neto, em:
http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=b9f9ebd4-f794-45c0-a642-ea81147aeb12&groupId=10136,
acesso 26.12.2015.
[3] Assim já foi feito na Justiça Federal/RS:
http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=pagina_visualizar&id_pagina=eventos_dnit,
acesso em 26.12.2015.
Por
Vladimir Passos de Freitas
Fonte
Consultor Jurídico