O
medo de falar em público é a fobia número um nos EUA. Bate, embora por pouco, o
medo da morte. E um pouco mais o medo de aranhas e de baratas. De acordo com as
pesquisas, ocupa o primeiro lugar no ranking das 10 maiores fobias dos
americanos, em uma situação que se repete em todo o mundo. Ou seja, se você tem
medo de falar em público, não está sozinho. A boa notícia é que esse medo, como
qualquer outro, é superável.
Para
um advogado, que é, em essência, um comunicador, essa superação é imperativa.
Advogados e promotores têm de falar em congressos, seminários, workshops e
enfrentar públicos seletos, como o do tribunal do júri ou de um plenário pleno
de tribunal superior. É claro que, com o desenvolver da carreira, esse medo vai
se dissipar. Afinal, o medo é isso: uma espécie de fantasma que desaparece
quando você o encara.
Em
vez da palavra “medo”, talvez seja mais conveniente (ou politicamente correto)
usar a palavra “nervosismo”, uma consequência da ansiedade, da insegurança e de
uma série de pensamentos inapropriados que as pessoas cultivam dentro de suas
próprias mentes.
Seja
o que for, é um problema que precisa ser enfrentado, porque, de outra forma,
ele vai resultar em muitas perdas na carreira, como, por exemplo, a de ser
relegado em promoções. Afinal, altos cargos exigem, frequentemente, que o
espírito de comunicador em massa do advogado se sobressaia.
No
caso de advogados que atuam no tribunal do júri, o nervosismo pode comprometer
não só a carreira do profissional, como a vida de seu cliente. Basta que o
nervosismo impeça o advogado de se lembrar de algum fato ou alegação
fundamental, para se consumar o desastre.
Há
muitas formas de vencer o nervosismo, além de buscar a ajuda de profissionais
como psicólogos. Uma delas é fazer curso de teatro. Outra é formar grupos de
pessoas interessadas em desenvolver suas habilidades para falar em público,
para treinamento e trocas de ideias sobre o desempenho de cada um.
Tribunal do júri
Nas
faculdades dos EUA, se ensina que uma maneira de relaxar o palestrante e a
audiência é fazer uma piada sobre si mesmo. Isso até pode ser feito em
palestras, mas não no tribunal do júri. O advogado e escritor Elliot Wilcox,
editor do TrialTheater, apresenta três sugestões bem simples para minimizar o
nervosismo durante um julgamento:
1. Prepare-se.
A
falta de preparação é a causa mais comum de nervosismo no tribunal. Nada o fará
sentir mais tranquilo do que saber que está bem preparado para o julgamento.
Com todos os fatos, provas, legislação e jurisprudência em mãos e uma
preparação adequada para interrogar testemunhas e para as alegações iniciais e
finais, o nível de confiança sobe junto com o de tranquilidade.
Também
ajuda ter um plano B para um possível não comparecimento de testemunha, para a
quebra (ou não funcionamento) de equipamentos e qualquer outro problema que
ocorrer durante o julgamento. Sem uma boa preparação, nenhuma outra dica vai
ajudar muito.
2. Não se dirija ao júri.
Dirija-se
a um jurado de cada vez. Falar com todos os jurados de uma vez (especialmente
em uma sala de julgamento lotada) desperta o velho medo de falar em público.
Não importa se são seis ou doze jurados ou 100 pessoas. Grupos de pessoas
sempre constituem uma audiência “ameaçadora”. O truque, segundo Wilcox, é falar
com um jurado de cada vez. Afinal, ninguém se sente desconfortável em falar com
apenas uma outra pessoa.
“Ao
apresentar suas alegações para o júri, faça um contato visual com um jurado de
cada vez — um contato visual relativamente curto, porque o longo provoca
desconforto no jurado e em você. Faça um contato visual com próximo jurado e
assim por diante. Você se esquecerá de que está falando em público e o
nervosismo irá desaparecer”, garante Wilcox. Além disso, dar atenção para um
jurado de cada vez é uma técnica que funciona muito bem no tribunal do júri.
3. Faça uma lista dos principais pontos.
Anotações
são mais confiáveis do que a memória mais afiada. Especialmente em um
julgamento, em que há muita coisa para desafiar o cérebro e o equilíbrio
emocional. E, ainda por cima, há o nervosismo para complicar tudo. O quadro é
perfeito para se esquecer de pontos essenciais do julgamento.
Por
isso, a velha lista, como uma de compras em que pode se riscar o que já foi
coberto, é um elemento precioso para se organizar as coisas. Pode se ter uma
lista para cada inquirição de testemunha, para cada apresentação de provas e
para as alegações. Uma palavra pode ser o suficiente para despertar a memória.
Uma
lista de conferência pode não eliminar totalmente o nervosismo, mas ajuda
porque minimiza uma de suas causas, a insegurança. “Ficar nervoso é normal,
para muitos advogados e promotores. O que não pode acontecer é deixar o
nervosismo estragar a apresentação da defesa ou da acusação”, diz Wilcox.
Por
João Ozorio de Mello
Fonte
Consultor Jurídico