quarta-feira, 15 de junho de 2016

CUIDADO COM O QUE POSTA NAS REDES SOCIAIS. ISSO PODE SE VOLTAR CONTRA VOCÊ

Mensagens publicadas nas redes sociais podemer usadas contra autor até em ações judiciais

Antes de clicar em “publicar”, é bom pensar bem nas consequências do que está postando na internet. Tudo o que for dito ou mostrado nas redes sociais pode ser usado a seu favor ou contra você. Até uma foto sorrindo numa cachoeira, com a legenda “Não estou me aguentando de tanta felicidade”, pode se transformar num indício de fraude, se a autora está brigando na Justiça para conseguir auxílio-doença do INSS por depressão. O caso aconteceu em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. E, segundo a Advocacia Geral da União (AGU), que representa o INSS em processos, com base em postagens como essa, o perito judicial reviu o laudo médico emitido anteriormente. Na sentença do juiz, o benefício foi cancelado a partir da data da primeira publicação “feliz” da segurada.
Apesar de defender que as postagens em redes sociais jamais poderiam servir de base para um diagnóstico de depressão, a psiquiatra Magda Vaissman alerta para as consequências do excesso de exposição na internet:
— O médico só pode fazer um diagnóstico quando atende e avalia uma pessoa. Não é pelo rosto que se pode ver se ela está melhor ou não. O que se vê numa rede social não diz nada. Além disso, a pessoa pode ter melhorado no decorrer do processo judicial.
É o que alega a advogada de defesa da segurada, que pediu para não ser identificada, a fim de preservar a cliente — após a repercussão do caso, a mulher estaria com dificuldades de arrumar emprego:
— Minha cliente teve o benefício negado pelo INSS e, por isso, entramos na Justiça, em fevereiro de 2014. Em abril, o perito judicial deu um laudo favorável a ela. Em setembro, a AGU anexou à ação as postagens do Facebook, do período de abril a julho. Com base nisso, o juiz ouviu novamente o perito, e este reafirmou que, entre janeiro e abril, minha cliente estava com depressão. Ao longo do processo, ela apresentou uma melhora e saiu do quadro grave. Por isso, o juiz concedeu o benefício de janeiro a abril.
Para a AGU, no entanto, as fotos no Facebook eram provas de “que o estado de saúde da segurada não coincidia com os sintomas de portadores de depressão grave”, e serviram para evitar “o pagamento de benefício indevido”.

Trabalhadores devem ter bom senso ao se expor
Vanessa Vidutto, advogada do escritório Gueller Portanova e Vidutto, reforça que uma foto sorrindo, por si só, não pode invalidar o diagnóstico atestado por um profissional legalmente habilitado.
— Uma fotografia registra um momento apenas. No entanto, a exposição nas redes sociais denotando reiteradas condutas incompatíveis com o quadro que gerou a incapacitação pode levar a questionamentos e até ocasionar a cessação do benefício — alertou.
Isto significa que, se a pessoa está inapta para o trabalho por apresentar um quadro depressivo, é no mínimo contraditório aparecer em diversas fotografias passeando, sorrindo, se divertindo com amigos e postando frases que denotam sensação contrária à que foi atestada no laudo médico.
— Um segurado afastado por problema na coluna não pode ser compatível com alguém, por exemplo, passeando de bicicleta. O bom senso deve prevalecer — explicou a especialista.
Vanessa lembra ainda que a responsabilidade, nos casos de fraude, é estendida a médicos peritos do INSS, se estes concedem o auxílio mesmo sem necessidade:
— Quem assina o atestado pode sofrer um processo criminal, juntamente com o segurado, quando a situação atestada não for condizente com a realidade.

A cada curtida, cérebro libera dopamina
A necessidade de postar sobre momentos felizes e até hábitos cotidianos nas redes sociais vem sendo analisada por pesquisadores do mundo todo. Segundo a psicanalista Priscila Gasparini Fernandes, um estudo realizado na Inglaterra revelou que, a cada curtida no Facebook, o cérebro do autor da postagem libera neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
— Essas pessoas têm a necessidade de serem admiradas entre os seus pares. Isso é muito prazeroso para elas. Mas o que se vê nas redes sociais é um mundo ideal. Nem sempre é real — disse Priscila, ressaltando que um quadro de depressão não pode ser avaliado por meio de fotos e postagens de Facebook, como ocorreu em Ribeirão Preto.
O excesso de exposição, no entanto, pode dizer, sim, sobre a necessidade de aprovação e de afirmação de que tudo está bem. E tudo iss pode ser usado a favor ou contra a pessoa.

Por Flavia Junqueira e Priscila Belmonte
Fonte Extra – O Globo Online