As mudanças que o corpo sofre durante a terceira idade
exigem uma alimentação diferente das outras fases da vida
Alimentação na terceira idade: os cuidados devem
começar na aquisição dos alimentos, observando o prazo de validade, o
armazenamento e a conservação
A
dieta alimentar na terceira idade é, em geral, bastante diferente das demais
etapas da vida. O processo de envelhecimento vem acompanhado de uma série de
mudanças na função hormonal, no metabolismo energético e na atividade diária, o
que afeta a necessidade de nutrientes. Nessa fase, olfato e paladar ficam
progressivamente comprometidos. É comum o idoso se desinteressar por doces e
salgados. A produção de saliva também é reduzida e aparecem as dificuldades no
processo de mastigação e deglutição, que causam impacto significativo na quantidade
e qualidade da ingestão do alimento. Além disso, a presença de doenças crônicas
pode levar a restrições dietéticas, que associadas ao uso de diversos
medicamentos (polifarmácia), reduzem o apetite ou interferem na absorção de
vitaminas e minerais. Tudo isso se soma às alterações naturais nos mecanismos
de defesa que tornam a pessoa idosa mais suscetível a infecções alimentares.
Outro
fator de atenção é a redução da mobilidade que dificulta a compra e o preparo
de alimentos e, às vezes, até o ato de se alimentar. Todas essas alterações
requerem cuidados especiais com a alimentação na terceira idade. Os cuidados
devem começar na aquisição dos alimentos, observando o prazo de validade, o
armazenamento e a conservação adequados. Ainda no preparo das refeições, o
processo de higiene pessoal e do ambiente, incluindo os utensílios a serem
utilizados, reduzem o risco de contaminações.
O
planejamento de ambientes, móveis e utensílios seguros, de fácil higiene, que
exijam mínimo esforço físico e previnam quedas são parte integrante da boa
alimentação. A identificação dos alimentos com etiquetas de fácil leitura, com
letras de tamanhos apropriados e codificações por cores também podem contribuir
para um ambiente alimentar seguro para o idoso.
Para o consumo dos alimentos, um ambiente agradável, iluminado, arejado,
limpo, com facilidade para higiene das mãos e móveis com cantos arredondados,
que estimule a companhia de outras pessoas e não ofereça muitas distrações (TV,
por exemplo) tem um grande efeito no desfrute da refeição e na manutenção de
bom estado nutricional.
Buscando
superar as eventuais dificuldades e estimular um envelhecimento saudável, o
Ministério da Saúde publicou, em 2010, um Manual de Alimentação Saudável para a
Pessoa Idosa que sugere medidas simples para tornar o dia a dia do idoso mais
prazeroso, favorecendo a autonomia, o entrosamento social e a segurança
alimentar e nutricional. Para facilitar, descrevo essa receita de bons hábitos
em dez passos:
1º
– Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois
lanches saudáveis por dia. Não pular as refeições e comer devagar, mastigando
bem os alimentos, é fundamental. Em caso de dificuldade para mastigar alimentos
sólidos como carnes, frutas, verduras e legumes, pode-se picar, ralar, amassar,
desfiar, moer ou batê-los no liquidificador.
2º
– Ingira diariamente seis porções do grupo dos cereais (arroz, milho, trigo,
pães e massas), tubérculos como a batata e raízes como o aipim. Dê preferência
aos grãos integrais e aos alimentos na sua forma mais natural.
3º
– Coma pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e
três porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.
4º
– Garanta o feijão com arroz no prato de cada dia ou, pelo menos, cinco vezes
por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e dá
energia.
5º
– Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes,
aves, peixes ou ovos. Retire a gordura aparente das carnes e a pele das aves
antes da preparação.
6º
– Limite óleos vegetais, azeite, manteiga ou margarina a no máximo uma porção
por dia.
7º
– Evite refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e
recheados, sobremesas doces e outras guloseimas. Limite esses alimentos a no
máximo duas vezes por semana.
8º
– Diminua a quantidade de sal na comida. Para temperar e valorizar o sabor
natural dos alimentos utilize temperos como cheiro-verde, alho, cebola e ervas
frescas e secas ou suco natural de frutas, como limão.
9º
– Determine a ingestão de pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água
por dia. O baixo consumo de água pelo idoso, associado a uma série de
alterações nos mecanismos de controle de água no organismo, leva muito
facilmente à desidratação. A redução da água corporal total do idoso é em torno
de 20%. Quem convive com idosos frequentemente escuta “não sinto sede”, “não
gosto de água”. Incentivar o consumo de água é fundamental na alimentação
saudável de qualquer pessoa e especialmente do idoso.
10º
– Pratique pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias e evite as
bebidas alcoólicas e o fumo.
Iniciativas
como esta, do Prêmio Jovem Cientista, levam os jovens a refletir sobre os
cuidados com a alimentação dos idosos com quem eles convivem e a cultivar seu
próprio capital vital, ampliando suas chances de ter uma vida saudável e
prazerosa por mais tempo.
Por
Dr. Carlos Alberto Chiesa é diretor de operações do Hospital Placi — Cuidados
Extensivos
Fonte
Revista Época Online