Não transformar conversas em discussões e saber
estabelecer metas realistas são atos importantes para manter a calma;
Especialistas dão orientações de como ser mais tolerante
Para
desenvolver projetos em longo prazo, manter relacionamentos saudáveis, reduzir
a ansiedade e aceitar que nem sempre se pode controlar tudo é necessário
desenvolver a paciência, virtude cada vez mais rara numa sociedade marcada pelo
imediatismo e acostumada a resolver os problemas de forma quase instantânea com
um clique no Google.
“Na
vida real, existem alguns setores que não funcionam com um clique. De alguma
maneira, a conjuntura atual nos força a perder um pouco da capacidade de lidar
com a espera. A modernidade nos força a ter uma resposta e a buscar conclusões
e tomadas de decisão rápidas”, diz ao Delas a estudiosa em Ciência
Comportamental Adriana Rodopoulos.
As
situações que levam à perda da paciência podem ser tanto externas – o trânsito,
o transporte público abarrotado, a longa fila do banco, a espera no atendimento
do restaurante – quanto internas, motivadas pela ansiedade gerada por questões
pessoais para finalizar projetos ou atender expectativas, próprias e alheias.
“Muitas
pessoas se impõem metas impossíveis de alcançar. É preciso entender a diferença
entre o que se planeja e o que se é capaz de executar”, aconselha Adriana.
Exercício de tolerância
“A
paciência se desenvolve no exercício da tolerância. É o controle necessário e
muito importante para qualquer projeto. Identifique o que pode ser controlado
por você e faça o melhor trabalho que puder com aquilo. Quanto ao que não pode
dominar, deixe acontecer. Aceite que é impotente em algumas circunstâncias e
você será menos infeliz”, recomenda a psicanalista Cristiane M. Maluf Martin.
“Não
gaste tempo tentando controlar os outros. Ser paciente significa saber
gerenciar a si mesmo, o que requer atenção a pensamentos, atos e palavras”,
aconselha Cristiane. É importante observar como se portar nos relacionamentos
para ampliar a paciência, tendo consciência, ainda, de que a tolerância às
imperfeições do outro é fundamental para ampliar a paciência.
“Renunciar
às pequenas coisas que nos aborrecem, principalmente nos relacionamentos
afetivos, que oferecem as melhores oportunidades de aprendizado, deve ser regra
básica de convivência”, afirma Cristiane, acrescentando que o exercício da
paciência nos relacionamentos nos prepara para aprender a esperar pelo momento
ideal de abordar algum assunto delicado.
Manter a calma
Desviar
o foco de atenção de situações que fogem do controle e que geram impaciência é
uma dica para lidar com momentos de intolerância.
“Devo
aproveitar o trânsito para pensar em algum projeto, ouvir uma música ou
conversar com alguém em vez de pensar no atraso e consequências”, recomenda
Adriana.
“Diante
de qualquer dificuldade, deve-se sempre procurar manter a calma, ser comedido e
evitar atitudes súbitas que certamente resultarão em arrependimento e
tristeza”, adverte Cristiane.
“A
paciência é uma virtude de quem interioriza que ‘tudo na vida passa’, é a
premissa básica para manter o nosso controle emocional”, completa.
A
impaciência raramente leva a conclusões ou soluções mais rápidas.
“As
pessoas estão confundindo um pouco o ser proativo com ser intolerante ou
impaciente. Proativo não é aquele que propõe uma solução mais rapidamente, mas
aquele que começa a trabalhar para a solução muito prontamente”, esclarece
Adriana.
O outro lado da impaciência
Apesar
de ser considerada como um estado negativo, a falta de paciência ajuda na
própria sobrevivência e na defesa humana.
“Há
situações em que a intolerância é fundamental, por exemplo, quando a vida está
ameaçada. Se fôssemos muito tolerantes à fome, frio, violência, nós nos
colocaríamos em situações de perigo. A alto nível de impaciência funciona bem
em contextos primitivos”, diz Adriana.
“Vivemos
em uma sociedade na qual a paciência está sendo substituída pela emergência, e
que não fazer algo ou não atingir um objetivo é sinal de fraqueza, burrice e
incapacidade, dando a impressão que tudo tem que ser para já, para agora”,
contextualiza Cristiane.
É
preciso considerar caso a caso para saber se a impaciência vivenciada no
momento é necessária ou se apenas funciona como uma demanda da modernidade.
“A
impaciência não é uma doença mental, porém seus sintomas podem desencadear um
transtorno de ansiedade”, alerta a psicanalista.
Veja as dicas para exercitar a paciência:
Comemore pequenos avanços
"Ao
concluir 10 páginas de um trabalho, por exemplo, leve-se para jantar fora. Isso
dará um ânimo para continuar o projeto", diz Cristiane.
Desvie o foco
Na
fila do banco ou outra situação sobre a qual você não tem controle, aproveite
para mentalizar um lugar para onde deseja ir e distraia-se com isso.
Respire
Quando
se perceber prestes a perder a paciência, esvazie a mente e foque na respiração
por alguns minutos até retomar o equilíbrio.
Seja compreensivo
Impaciência
ou intolerância não vão contribuir para terminar o trabalho, alcançar uma meta
ou finalizar um projeto mais rapidamente. Mantenha isso em mente.
Alimente-se bem
Não
pule refeições e consuma a quantidade necessária de energia por dia para
garantir um bom funcionamento cerebral.
Faça caminhadas diárias
Saia
do foco de tensão e encontre coisas novas em um lugar por onde passa todos os
dias. Observe os detalhes de sua própria rua, por exemplo.
Reflita
Reserve
um tempo ao final do dia para a reflexão e identifique o que é incômodo. Pense
em maneiras de resolver o problema com calma.
Escute
Não
transforme conversas em discussões, procure ouvir os argumentos das pessoas e
fale os seus de forma calma, mesmo que não concorde com o outro.
Sorria
O
ato faz com que você se sinta melhor consigo. Pratique no espelho e veja quanto
tempo você é capaz de manter o sorriso.
Relembre bons momentos
Em
situações difíceis, escolha suas lembranças favoritas. Voltar a uma época ou
situação que nos fez feliz ajuda a manter a calma.
Supere-se
Busque
sempre se adaptar ao que acontece no dia a dia e aproveite o que há de positivo
em todos os momentos e situações. Seja resiliente e se molde.
Controle a ansiedade
"O
futuro vai chegar independente da forma como nos deslocamos para o amanhã. O
melhor é tentar fazer o percurso da melhor forma possível, e com
tranquilidade", aconselha Adriana.
Por
Susan Souza
Fonte
iG Comportamento