A disposição para fazer dieta, economizar ou
fazer uma poupança para o futuro pode ser trabalhada – aprenda com os
especialistas como garantir um futuro financeiro tranqüilo. Todos queríamos não precisar contar dinheiro,
mas para a maioria não é assim.
Se qualquer pessoa perguntar qual é a fórmula
mais simples para conseguir o sucesso financeiro, a resposta vem rápido: “Gaste
menos do que ganha, reserve para emergências e guarde para o futuro”. Falando
assim, o conselho parece simples e fácil de seguir, mas não é assim que
funciona na prática.
Além da dificuldade em construir um orçamento,
mais complicado ainda é se manter dentro dele, sem as famosas escapadinhas que
drenam a conta no banco. Nesse caso, fica uma dúvida. Afinal, qual a diferença
entre os pobres mortais e aquelas pessoas com histórias fantásticas de realização
de sonhos, grandes aquisições, uma carreira brilhante, entre outros?
A resposta é simples e certamente já é sua
velha conhecida: força de vontade.
É fato que algumas pessoas já nascem com um
pouco mais de tolerância, ou um pouco mais capazes de segurar as vontades no
presente para conseguir melhores benefícios no futuro. Um clássico desse raciocínio
é o chamado Experimento do Marshmallow, criado pelo psicólogo e professor
Walter Mischel, de Stanford, na década de 1960.
Crianças eram postas sozinhas em uma sala,
com um marshmallow (ou biscoito ou outros doces). O pesquisador fazia a oferta:
se as crianças esperassem até o retorno dele para consumir o doce, ganhariam
mais um. Se quisesse, poderia comer naquele momento mesmo, mas não ganhariam o
adicional.
Esse experimento foi repetido centenas de
vezes em outras escolas desde então, mas o resultado observado por Mischel foi
claro. As crianças que, na década de 60, resistiram ao doce para conseguir o
benefício adicional, se tornaram adolescentes com melhor desempenho na escola
e, hoje, são adultos com melhores estruturas financeiras e de carreira.
Parece óbvio que quanto maior o
autocontrole, maiores as chances de conseguir melhores resultados na carreira
ou nas finanças. Até aqui, nada de novo. A boa notícia é que você pode dar um
empurrãozinho nas suas habilidades e na sua capacidade de autocontrole.
“Força de vontade é como um músculo, você consegue
exercitá-la, mas ela sempre tem um limite”, afirma André Massaro, educador
financeiro e consultor da MoneyFit. Não vale desistir, senão o seu músculo do
autocontrole pode atrofiar, nas palavras do especialista.
No entanto, é preciso conhecer os seus
limites e buscar estratégias para não se expor tanto à voracidade do mercado de
consumo. “Essa força é finita. Pessoas que precisam usar da força de vontade em
muitas frentes da vida tendem a esgotar esse recurso rapidamente”, pontua
Adriana Rodopoulos, especialista em psicologia econômica da Oficina de Escolhas.
Quer aprender como esticar sua força de
vontade? Confira as sugestões dos dois especialistas.
Pequenos objetivos
te fazem se sentir mais capaz de realizar grandes feitos
1 – Crie pequenas
metas
Assim como um alongamento muscular, aos
poucos você vai esticando sua capacidade de autocontrole. Comece, por exemplo,
estipulando uma meta para o seu gasto diário. Pequenas metas vencidas
diariamente acrescentam alguns “centímetros” de tolerância para aqueles
momentos de vontade incontrolável de comprar um sapato ou o celular da última
geração.
A dica de Adriana é dividir a sua receita em
fatias diárias. Sabendo que você tem um gasto fixo por dia é mais fácil não
ultrapassar a barreira, que se renova a cada 24 horas. “Se pensarmos em um orçamento
mensal, é mais fácil se perder e o prazer da compra dura muito pouco para um mês
de meta”, explica. “Com metas diárias o prazer de comprar uma coisa ou outra
acaba sendo melhor aproveitado e rapidamente renovado.”
Uma vez vencida a temporada de metas diárias,
você estará pronto para os objetivos do mês, do trimestre, e assim por diante.
2 – Exercite
pequenas metas (em vários aspectos da vida)
O exercício mental de se manter sob controle
pode ampliar sua capacidade, independentemente de onde esse esforço esteja
concentrado. Aguentar a vontade de beber refrigerante após o almoço, por
exemplo, dia após dia, te ajudará a exercitar o auto controle. No futuro, seu
bolso vai agradecer.
“Vale mexer em diversas áreas. Muitas
pesquisas relacionadas ao sucesso, de uma forma geral, apontam que há uma
enorme correlação entre o sucesso e a capacidade de postergar as recompensas”,
diz Massaro.
Seja coerente: leva
tempo até que sua mente se acostume com outro formato de operação
3 – Suporte os
prazos (e os desconfortos)
Conforme-se com um fato. Não há mudança de
comportamento sem esforço nem em curto prazo. Massaro ressalta que a maior
questão entre o homem e o próprio sucesso está na falta de consistência. “Estatisticamente,
quanto mais as pessoas estudam, maior é o sucesso profissional e financeiro. Aí
as pessoas lembram do Steve Jobs ou do Bill Gates e se esquecem de notar que
essas são pessoas fora da curva e não o contrário”, diz. “Somos extremamente
inconsistentes. ”
“Assim como adquirir mais conhecimento é um
trabalho típico de consistência, a maioria das pessoas é ansiosa e não consegue
abandonar a zona de conforto para provocar uma real mudança nas suas vidas.”
4 – Fuja das tentações
(mas não muito)
O fato é que, de tanta exposição às tentações,
uma hora todos acabamos cedendo. Por isso, há especialistas que defendem o máximo
de proteção possível – evitar os canais de compra, os sites de e-commerce, não
andar com muito dinheiro, com cartões de crédito ou até mesmo fugir dos
shopping centers. Em certa medida, tem razão, uma vez que quanto maior for a
sua exposição, maiores as chances de falha.
No entanto, a não ser que escolhamos ser
ermitões, dificilmente é possível fugir do bombardeio do consumo. “A gente quer
nunca mais sentir vontade, para não ficar assistindo a briga entre a vontade e
a racionalidade”, explica Adriana.
Vale lembrar que assim como as crianças
resistentes ao marshmallow, uns são mais fortes que outros naturalmente. “Na
maior parte das mentes, esse momento de ‘comprar ou não comprar’ é coordenado
pelo sistema cerebral acionado pelos conflitos. Em algumas pessoas, essa
batalha fica fora do ‘ambiente’ do conflito, o que torna a resistência mais
alta sem tanto esforço.”
Mais do que isso, Massaro lembra que a falta
de exposição ao conflito, novamente, atrofia o músculo do autocontrole. “A
verdadeira consistência de objetivos implica em infringir algum desconforto em
si mesmo que, mais tarde, vira zona de conforto.”
Por Bárbara Ladeia
Fonte iG Economia