Sim, ter uma vida financeira saudável e enriquecer dá
trabalho; veja como a preguiça, o imediatismo, a ganância e as lamúrias podem
sabotar seu planejamento
Quem
nunca quis aplicar em um investimento melhor que a poupança e, ao se deparar
com as opções, pensou “nossa, vai dar muito trabalho, vou ficar na poupança
mesmo!” E quem nunca fez a resolução de Ano Novo de fazer aquela faxina na vida
financeira, nunca mais se endividar no cartão de crédito, abrir espaço no
orçamento para conseguir poupar, trocar de banco ou de aplicação financeira,
mas sempre deixa para amanhã o primeiro passo do processo?
Há
ainda aqueles que se queixam do fato de a renda não ser a desejada, dos altos
preços e demais obstáculos, mas que pouco ou nada fazem pela própria vida
financeira. Na pior das hipóteses, cometem grandes erros. Está se
identificando? Calma, você não é o único. Ou melhor, pertence à maioria. Há
inclusive explicações evolutivas para isso. Mas a cultura e um punhado de
crenças limitadoras tornam a tarefa de ter uma vida financeira saudável ainda
mais difícil.
Será
mesmo que é quanto você ganha, quanto tempo livre você tem (ou não tem), ou as
mazelas do Brasil que impedem o seu enriquecimento? Ou será que a esses
obstáculos que dificultam sim a sua vida financeira se somam outros que você
mesmo criou? Preguiça, procrastinação, hábito de se queixar, imediatismo. Veja
como esses e outros pecados capitais atrapalham as suas finanças:
1 A procrastinação: Na segunda-feira eu começo
Montar
um orçamento, cortar gastos, escolher aplicações financeiras, ler sobre
investimentos e acompanhá-los dá trabalho, isso é fato. Por isso mesmo, até
quem é dotado de imensa boa vontade para organizar as próprias finanças e
multiplicar o patrimônio sofre do hábito de adiar o início dos trabalhos
indefinidamente. O primeiro passo nunca é dado hoje, mas na segunda-feira, no
ano que vem, quando eu ganhar um aumento, ou na melhor das hipóteses, amanhã.
2 A preguiça: Ah, dá muito trabalho! Vou permanecer
onde estou
Dá
trabalho mesmo. Consumir, poupar e investir bem dá trabalho sim. Formar
poupança leva tempo; consumir de maneira inteligente requer pesquisa de preços
e resistência a certas tentações; pegar um financiamento exige pesquisa de
taxas em diferentes instituições financeiras; e investir bem precisa de certo
estudo sobre as opções de investimento, entendimento dos riscos e a busca da
melhor instituição financeira para o seu objetivo.
Toda
essa pesquisa de preços e empresas pode desestimular muita gente. O resultado
pode ser a solução financeiramente mais venenosa: a opção por uma aplicação
financeira de baixo rendimento e altas taxas, no seu próprio banco, indicada
por um gerente que deseja bater metas, mas que não necessariamente vai indicar
a aplicação mais adequada ao seu perfil; a compra de um produto caro na
primeira loja em que se entra; ou a adoção das linhas de crédito mais caras – e
cômodas – do mercado: o cartão de crédito e o cheque especial.
3 O imediatismo: Aposentadoria? Eu quero é juntar
dinheiro para viajar!
Muito
se fala sobre investir para o longo prazo – tanto para pagar menos na compra de
um bem à vista ou com o mínimo de financiamento, quanto para garantir uma
aposentadoria confortável ou ainda obter a melhor rentabilidade com produtos
financeiros mais arriscados e de maior retorno.
Mas
falar é fácil. Na prática, a maioria das pessoas está mais preocupada em juntar
dinheiro para viajar nas próximas férias ou com o limite do cartão de crédito
do que propriamente em poupar para prazos mais longos. O consumo imediato nos
parece muito mais atraente do que o conforto no futuro distante. Quem nunca
ouviu chavões como “a vida é curta”, “é preciso viver o agora” ou “viva o dia
de hoje como se fosse o último”?
4 O “mimimi”: Eu não ganho o suficiente para
enriquecer & etc.
Realmente
a renda é um fator limitador para o quanto uma pessoa pode enriquecer. Mas não
é preciso ter uma renda altíssima para fazer algo de bom pela sua vida
financeira. Muitos problemas financeiros, como alguns casos de endividamento,
consumo excessivo ou péssimas escolhas de investimento, são mais um problema de
organização e disciplina do que propriamente de renda.
Ainda
assim, reclamar dos desafios parece ser mais fácil. Quem nunca disse – ou ouviu
– uma das seguintes “desculpas” ao se falar sobre poupança, investimentos e
planejamento financeiro: “eu ganho pouco”, “não tenho tempo”, “dá muito
trabalho” ou “já aceitei que vou morrer pobre mesmo”?
5 O comodismo: Ele tem talento para ganhar dinheiro,
mas eu não
Na
opinião do consultor financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro
Calil, uma das maiores falácias que levam à imobilidade na vida financeira é o
mito do talentoso. Trata-se da crença de que se alguém tem sucesso profissional
e financeiro é porque essa pessoa tem talento, é abençoada ou tem sorte.
“Ninguém
nasce campeão. O campeão precisa de preparo. A gente cultua quem tem dom, o
grande craque, mas mesmo um Pelé, que nasceu com talento, se não tivesse sido
preparado não chegaria lá”, diz Calil. Para ele, essa é uma crença limitadora
clara para quem quer ganhar mais dinheiro e ter uma vida financeira saudável.
Afinal, se o outro leva jeito para ganhar dinheiro e você não, você não precisa
nem se dar o trabalho de tentar.
6 A ganância: Quero pôr todo o meu dinheiro no
investimento mais rentável do momento
Não
são poucas as histórias de pessoas que venderam tudo o que tinham para investir
no que seria a sua grande tacada. Algumas concentram todo o dinheiro em ações e
outros produtos financeiros altamente arriscados; outras acreditam em promessas
de rentabilidade irreais ou esquemas para ganhar dinheiro fácil que se revelam
fraudes. Há ainda aqueles que investem na aplicação mais rentável do último
ano, sem atentar para o fato de que as condições econômicas mudam e que os
investimentos mais rentáveis no passado não necessariamente serão os mais
rentáveis no futuro.Na opinião de Mauro Calil, essa busca por atalhos para
enriquecer é o que leva os esquemas de pirâmide a angariarem tantos seguidores.
O tiro, porém, acaba saindo pela culatra, e a pessoa pode perder tudo que tem.
É por isso que os especialistas em finanças recomendam a diversificação – o que
também dá trabalho.
7 A demonização do dinheiro: Se ele tem dinheiro, boa
coisa não deve ser!
Calil
cita frequentemente que uma das crenças mais limitadoras da vida financeira
saudável é a aversão que muitas pessoas, notadamente no Brasil, têm ao
dinheiro. O dinheiro frequentemente é visto como algo sujo, que corrompe as
pessoas. Mas segundo o consultor, o dinheiro em si não é bom nem mau.
Aqueles
que endeusam o dinheiro de fato podem acabar desenvolvendo um comportamento
ganancioso e antiético para obtê-lo. Mas isso não necessariamente ocorrerá com
aqueles que enxergam o dinheiro como o que ele de fato é: um instrumento para
se alcançar alguns sonhos. “Muita gente gosta de dizer ‘Sou uma pessoa simples,
me contento com pouco’. Mas ter dinheiro não tem nada a ver com se contentar
com pouco ou ter bom caráter”, diz Calil.
Por
Julia Wiltgen
Fonte
Exame.com