Estudo: o cérebro também opta por focar naquilo que é
razoável e que já conhecemos, poupando energia, diz especialista
No
currículo, as certificações e diplomas saltam aos olhos do recrutador. Cursos e
mais cursos chamam a atenção para a qualificação. Mas o quanto de todo este
conteúdo o profissional realmente aprendeu e sabe aplicar na prática? Grandes
chances de ter sido bem pouco, de acordo com Rogério Boeira, especialista em
desenvolvimento de pessoas e fundador da escola Cultman - Management &
Education.
Para
ele, o aumento na procura por formação e treinamento, assim como a escalada na
escolaridade do brasileiro, gera uma percepção errada de que os profissionais
estão cada vez mais bem preparados. É que indivíduos realmente capacitados
continuam em falta no mercado.
Mas
como isto é possível? Estamos aprendendo errado, explica o especialista. E o
problema é mais grave do que parece já que aprender da forma tradicional não é
mais suficiente. Entenda por quê:
1 A importância é dada à certificação e não ao
conteúdo
“As
pessoas buscam diplomas sem ter a responsabilidade sobre o conhecimento que
aquela certificação implica”, diz Boeira. É o famoso estudar para passar e
garantir o pedaço de papel que comprova a qualificação. “Pensamos que sabemos
mais do que sabemos, de fato”, diz.
Assim,
como num passe de mágica a pessoa que carrega aquele diploma está apta a
exercer plenamente determinadas funções. “O quanto de conteúdo a pessoa guarda
dos cinco anos de faculdade, por exemplo”, pergunta o especialista.
Aprovação
não é sinônimo de conhecimento, como muita gente pensa. “O ato de aprender
requer uma grande dedicação, seja de atenção, seja de tempo e possui um custo
emocional muito mais do que temos consciência”, diz Boeira.
2 Lei do mínimo esforço
A
mente tem a prerrogativa da autopreservação, o que significa que trabalha sob a
lei do mínimo esforço, segundo Boeira. “Gasta menos energia do que deveria, é
algo natural”, explica.
Daí
pode-se entender a dedicação que é necessária para manter a concentração
durante períodos mais longos de tempo. O cérebro também opta por focar naquilo
que é razoável e que já conhecemos, poupando energia.
Por
isso, muita gente prefere concentrar esforços no que lhe mais palpável e deixa
de lado o domínio de outras ferramentas com a quais têm mais dificuldade. Além
disso, assim que conseguimos atravessar os conteúdos mais complexos para a
nossa mente, eles são rapidamente esquecidos. “São tirados do caminho”, diz.
3 Não há estímulo ao questionamento
Embora
esta realidade venha mudando, ainda há pouco estímulo ao questionamento.
Merecem nota máxima aqueles alunos que decoram o conteúdo e o reproduzem nas
provas discursivas.
Se
quando criança o ato de perguntar pode muitas vezes ser motivo de chacota entre
os colegas, no mundo adulto questionar é relacionado a chamar a atenção para
si. Quem muito pergunta, quer mesmo é aparecer, dizem muitos profissionais
pelos corredores e cafés das empresas.
“Quando
adulto a principal questão é exatamente a falta de questionamento, não há
permissão para a dúvida”, diz. O desenvolvimento do novo, o rompimento com o
que já está estabelecido não é fácil. Admitir novas formas de raciocínio e
novas dimensões para as questões se faz necessário. Ao estimular e estruturar a
dúvida, segundo o especialista, os profissionais conseguirão aumentar a
eficiência das respostas e oferecer melhores resultados, além de antecipar
problemas.
4 Pouca reflexão
“A
gente nunca aprendeu a aprender”, lembra Boeira. E talvez este seja um dos
motivos por que a reflexão é escassa durante o processo de aprendizagem.
Valorizar
os diferentes níveis de experiência e a livre associação de ideias é essencial
na hora de internalizar assuntos discutidos, segundo o especialista.
Uma
dica importante é todos os dias procurar ter um tempo para refletir sobre o que
aconteceu no trabalho. De preferência, anotar os pontos em que se sentiu mais
desconfortável ou vulnerável”, diz.
Por
Camila Pati
Fonte
Exame.com