Explorada por consultorias, a neurociência pode
contribuir para o bom desenvolvimento de uma companhia
Cérebro humano: a neurociência pode ajudar na gestão
do tempo e até no aumento da produtividade de uma corporação
Entender
como funciona o cérebro humano pode ajudar não só os relacionamentos
interpessoais, como os processos práticos dentro de uma organização. Por isso,
diversas consultorias utilizam a neurociência para otimizar treinamentos
corporativos. Os benefícios vão desde o aumento da produtividade à melhoria do
ambiente de trabalho. Veja o que sua empresa pode conquistar com a compreensão
da neurociência:
Aumento da produtividade
Dentro
da neurociência, há um segmento chamado "cronobiologia", que consegue identificar em quais horários do dia o organismo humano produz mais
substâncias químicas para a atividade física e mental. Se o gestor souber
explorar tais períodos, pode conseguir um aumento significativo de
produtividade.
"A
esmagadora maioria das pessoas é mais produtiva entre as 6h e 10h e entre 16h e
20h. No restante do tempo, o corpo precisa se esforçar mais, então o volume e
qualidade do trabalho são menores", explica a neuropsicóloga e fundadora
da Tai Consultoria, Inês Cozzo.
Ainda
segundo ela, logo depois das refeições (chamado período pós-prandial), o
organismo se concentra em fazer a digestão e, por isso, neste período, as
pessoas ficam com o raciocínio mais lento.
"É
também quando acontece o maior número de acidentes de trabalho. Funcionários de
uma empresa que conseguem tirar um cochilo logo após o almoço, voltam às suas
funções com energia e concentração redobradas". Está explicado o porquê de
as "salinhas do cochilo" serem tendência entre companhias inovadoras.
Evitar conflitos desnecessários
Uma
pessoa tem um ciclo máximo de concentração de 15 minutos, mesmo quando está
muito interessada no assunto tratado. Depois deste tempo, inevitavelmente a
atenção é desviada por frações de segundo. "Acontece o tempo todo, mas
você nem nota. O sol batendo no relógio de alguém que passa pela sala de
reuniões pode desviar a sua atenção, mas você nem se dá conta disso",
exemplifica Inês. Segundo ela, o sistema nervoso humano recebe 400 bilhões de
bits (unidades de informação) por segundo, mas só libera 2 mil para o cérebro.
"É
por isso que acontece aquele clássico impasse de uma pessoa ter certeza de ter
dito algo a outra, mas a segunda estar convicta de que nunca ouviu sobre
aquilo", explica a neuropsicóloga. "Em uma empresa, se você tem
consciência de como isso funciona, pode evitar muitos conflitos. Não entrou nos
2 mil bits: o que fazer agora? Quando não se conhece o processo, pode acontecer
de um funcionário culpar o outro, como se ele estivesse mentindo ao dizer que
não recebeu aquela informação".
Eficiência em treinamentos
O
aprendizado neurológico tem 4 etapas: a aquisição de dados; a informação (que é
a repetição dos dados recebidos, mesmo que eles ainda não tenham significado
compreensível), o conhecimento (quando o significado é compreendido); e o saber
(quando o conhecimento está gravado nas células, não é mais esquecido).
De
acordo com Inês, "pouquíssimos treinamentos ministrados em empresas chegam
até a última etapa", por isso muitos deles precisam ser repetidos. "O
conhecimento é a etapa que coloca significado na informação. Quando a sabedoria
sai da boca de quem está falando, ela só é informação. Só a pessoa que a recebe
é que pode colocar significado nessa informação, com suas experiência de vida e
alcance de compreensão", explica ela.
"Não
se pode enviar uma pessoa para um curso e pedir que ela transmita aquele
conhecimento para todo mundo, isso é neurologicamente impossível, a menos que o
curso a tenha preparado como multiplicadora. A maioria dos treinamentos é
expositiva, só repete informações, quando deveria 'ensinar a ensinar'".
Além
disso, segundo Inês, o aprendizado só pode ser feito pela repetição, ou pela
emoção, o que significa que os treinamentos precisam ser práticos a todo tempo,
ou emocionar. "Ele deve ser divertido, instigante, curioso, motivador. É
preciso saber quais estímulos usar", afirma Inês.
Melhoria do ambiente de trabalho
Quando
parte de uma equipe não está conseguindo entregar os resultados esperados,
geralmente se imagina que falta motivação ou comprometimento por parte dos
funcionários. Segundo Inês, em 99% das vezes que ela foi consultada para
investigar esse tipo de problema em uma empresa, descobriu-se que não se
tratava de falta de interesse, mas sim de mudanças na organização que deixavam
os colaboradores com medo.
"Quando
há uma mudança de gestão, ou de processos, o medo aparece e não permite que a
informação seja processada. O cérebro recebe a informação de que não está
preparado para aquela novidade. Ele precisa de um tempo para se adaptar, e aí a
produtividade cai", explica a neuropsicóloga. "A liderança das
empresas precisa ter consciência disso e orientar o seu pessoal, o que
contribui para um ambiente de trabalho muito mais saudável, em que as pessoas
são mais felizes".
Melhor gestão do tempo
Assim
como o cérebro tem dificuldades para processar informação em tempos de mudança,
ele também fica reativo quando há alguma expectativa e só volta a funcionar
normalmente quando se sente seguro, de acordo com o médico e coach do Instituto
Brasileiro de Coaching (IBC) Rogério de Fraga. "Quando vão ocorrer
demissões, ou troca de liderança em uma empresa, os funcionários ficam em clima
de expectativa e o trabalho pára. Se a liderança souber identificar isso ele
pode trabalhar para diminuir a ansiedade da equipe", explica Rogério.
Uma
maneira de amenizar esse problema é estabelecer um prazo para que as mudanças
aconteçam, segundo ele. "O tempo pré-determinado cria um arrefecimento da
expectativa, torna a situação mais fácil. Mas os prazos têm que ser cumpridos,
caso contrário o efeito é reverso".
Por
Luísa Melo
Fonte
EXAME.com