Tique-taque.
Para quem passa as noites sem conseguir dormir, o relógio é cruel. Na arrastada
luta contra a insônia, remédios calmantes surgem como armas rápidas e
infalíveis para vencer o problema. Dados da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) mostram que os benzodiazepínicos, como são chamados
tecnicamente, estão no topo da lista de remédios controlados mais vendidos no
Brasil. E a comercialização cresce a cada ano, embora os efeitos colaterais e o
risco de dependência sejam amplamente conhecidos.
—
Definitivamente, há um exagero no consumo destas medicações. Vivemos na era do
imediatismo. As pessoas querem soluções fáceis para problemas e, por isso,
recorrem a “pílulas mágicas” — analisa a neurologista especialista em insônia
Christianne Martins, do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Usados
no tratamento de transtornos de ansiedade e epilepsia, benzodiazepínicos acabam
agindo contra a insônia por terem influência sobre o sistema nervoso central,
promovendo estado artificial de relaxamento.
Segundo
o psiquiatra Marcelo Campos Castro Nogueira, essas drogas também produzem
efeito sobre o centro de recompensa cerebral, desencadeando a liberação de
substâncias que dão sensação de prazer. O mecanismo caracteriza um potencial
gerador de dependência, que se torna maior com o uso crônico de
benzodiazepínicos.
— Outros
riscos são o desenvolvimento de tolerância, quando é preciso quantidades cada
vez maiores da substância para obter o efeito inicial dela, e de abstinência,
quando a retirada da droga causa agitação e náuseas — explica Nogueira.
Tiro sai pela culatra
De
acordo com a neurologista Christianne Martins, em longo prazo, o uso de
benzodiazepínicos pode piorar a insônia, tornando-a crônica e mais difícil de tratar.
— A
mudança de hábitos de vida é o que realmente vai fazer diferença (contra a
insônia), mas requer esforço, disciplina e paciência — diz a médica, explicando
porque existe abuso no consumo desses medicamentos.
Segundo
o psiquiatra Marcelo Nogueira, benzodiazepínicos trazem efeitos colaterais como
aumento do risco de quedas e acidentes, sedação excessiva e comprometimento da
memória e das funções cognitivas. Boca seca e enjoos são outras prováveis consequências
adversas.
Pacientes
que desenvolvem dependência são tratados com a descontinuação gradual do uso do
remédio.
Por
Fonte
Extra- O Globo Online