Pagar as contas, fazer compras, comparecer à
reunião de trabalho e matar as saudades de quem mora longe. Com a correria do
dia a dia, dar conta de todos esses afazeres fica cada vez mais difícil e, em
alguns casos, até mesmo impossível. Porém, com as facilidades oferecidas pela
internet é possível fazer tudo isso em apenas alguns cliques, sem precisar sair
da comodidade de casa.
Por trás de toda praticidade da internet
existe um mal com consequências graves para o usuário. A dependência desse meio
de comunicação pode acarretar prejuízos no trabalho, perda de contato com
amigos e familiares, entre outros problemas. Conheça as causas, consequências e
como evitar esse mal.
Reconhecendo os
sintomas
Segundo Dora Sampaio Góes, psicóloga do
Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas de São Paulo, o tempo que o usuário permanece conectado não é o fator
mais determinante para identificar a dependência de internet. "O
diagnóstico é traçado a partir das respostas referentes a oito critérios. Para
que o paciente seja considerado um dependente de internet, ele deve se encaixar
em pelo menos cinco desses oito pontos", explica a psicóloga.
Abaixo quais são os critérios utilizados
pelo Instituto de Psiquiatria do HC para diagnosticar a dependência de
internet.
- Preocupação
excessiva com internet
- Necessidade
de aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação
- Exibir
esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da internet
- Apresentar
irritabilidade e/ou depressão e buscar conforto navegando na internet
- Quando
o uso da internet é restringido, apresenta instabilidade emocional
- Permanece
mais tempo conectado do que o programado
- Trabalho
e relações sociais (amigos e família) em risco por conta do uso excessivo
- Mentir
para os outros a respeito da quantidade de horas que fica conectado
Os sintomas são muito parecidos com os apresentados por quem sofre com dependência de substâncias ou comportamentais, explica Monica Levit Zilberman, pós-doutora em dependência e gênero. Ela ainda acrescenta: "a pessoa fica conectada por um tempo muito maior do que o que gostaria, com inúmeros prejuízos, seja do ponto de vista familiar, social ou mesmo profissional. Outros afazeres e atividades antes valorizadas deixam de ser prioritárias ou até de serem realizadas", explica Monica.
A pós-doutora ainda revela que muitos
pacientes chegam a comparar a internet com uma droga, pela qual eles tentam se
livrar de todas as outras atividades, para poderem ficar conectados sem serem
interrompidos. "Nesse estágio começam as mentiras sobre o quanto se está
usando ou mesmo desculpas como 'estou só dando uma checadinha nos e-mails'. Os
parceiros tendem a se irritar com esse comportamento, pois são os primeiros a
serem deixados de lado", conclui Monica.
mento
A popularização da internet veio com muitas
melhorias, principalmente na abrangência do serviço e velocidade de conexão. O
preço tem se tornado atrativo também, apesar do serviço de internet no Brasil
ter os custos mais elevados do mundo, segundo estudo divulgado pelo Comitê
Gestor da Internet, em outubro de 2011. A facilidade de conexão ocasiona diversas
situações de isolamento do indivíduo, indo de casos mais simples aos mais
complexos, com comprometimento severo no trabalho e vida social. Conheça as
causas apontadas pelas especialistas para essa dependência.
Causas
Segundo as psicólogas, ainda não há estudos
que comprovem quais são as origens dessa dependência, porém, alguns fatores são
comuns entre os dependentes. Os quadros dos pacientes geralmente trazem
características de pessoas tímidas, com baixa autoestima, transtornos
psiquiátricos, transtornos impulsivos, predisposição pessoal e disponibilidade
de acesso. "Em uma época onde o acesso à conexão é muito rápido, aumenta a
possibilidade daqueles indivíduos que tenham alguma vulnerabilidade se tornarem
'viciados' em comportamentos repetitivos, tornando-se dependentes. Quando a
conexão era mais difícil, lenta e caía com frequência, isso aborrecia as
pessoas. As chances delas se viciarem eram menores", explica Monica
Zilberman.
Consequências
As maiores perdas, segundo as psicólogas,
são em relação aos relacionamentos sociais dos dependentes de internet. Isso
porque a vontade de ficar conectado ao mundo virtual é mais forte do que
sustentar os laços com os amigos ou até mesmo a própria família. "O
isolamento acaba causando brigas com a família e o indivíduo chega a deixar os
estudos e até mesmo o trabalho de lado para se dedicar à internet",
comenta Dora. Além desses fatores, a psicóloga explica que nem mesmo quem já
está casado escapa dos problemas causados pela dependência. "Muitas
pessoas procuram ajuda apenas depois que o casamento terminou. Além da questão
de isolamento, muitos relatam casos de traição virtual", complementa a
psicóloga Dora Góes.
As inovações no campo de comunicação pela
internet contam também com a ajuda dos dispositivos móveis, como celulares e
tablets. Por conta disso, segundo Monica Zilberman, quanto maior a facilidade
de acesso, mais rápido as pessoas que já tem alguma tendência se tornam
dependentes. Dora Góes explica que ainda não há estatística que comprove o
aumento de casos de dependência de internet por conta do acesso em smartphones
e tablets, porém, a probabilidade é que essa facilidade ao acesso contribua sim
para aumentar as estatísticas.
Crianças
É natural que os pais também se preocupem
com a dependência de internet por causa da exposição de conteúdo ao qual seus
filhos são submetidos diariamente. Dora Góes explica que os pais precisam
monitorar o tempo e o conteúdo que seus filhos estão acessando, mas não de
forma policialesca. "O ideal é que os pais saibam como eles usam, quanto
tempo usam e que proponham atividades além da internet. Eles devem ficar atento
se os filhos não estão deixando de lado as atividades de escola e com os
amigos. Quando a criança prefere ficar na internet do que na companhia dos
amigos, os pais devem conversar para saber qual é o motivo. Dar limites é
fundamental e, se for o caso, buscar ajuda profissional para resolver o
problema", orienta Dora.
Evite a dependência
Monica explica que é preciso buscar
estratégias para controlar o alcance desse comportamento no dia a dia. A
sugestão da psicóloga é estabelecer horários para conexão e não se manter
conectado o tempo todo. "É preciso evitar o uso de dispositivos móveis de
conexão, principalmente durante atividades sociais ou durante a noite",
explica a pós-doutora em dependência.
Fonte Portal BBel