Casais
se separam e a rapidez com que alteram seu “status” no Facebook já dá o sinal
do quanto a separação foi traumática/cheia de raiva ou amistosa/mantendo o
carinho. Amigos se desentendem por uma coisinha à toa mas a mágoa torna-se
irremediável quando o outro não só deixa de ser amigo na rede social como até
bloqueia o acesso da pessoa às suas postagens.
Uma
leitura rápida no perfil de alguém no Facebook nos dá hoje a medida dos
relacionamentos e do comportamento em sociedade. As relações que se estabelecem
na rede virtual, justamente por serem fáceis, podem também ser frágeis. As
ações não requerem muito mais do que um clique para deletar alguém da sua rede
de relacionamentos, e isso parece mais simples e menos difícil de lidar do que
o contato cara a cara, com todas as suas penosas interações.
Porém,
o que se faz virtualmente pode ter conseqüências reais, e não parece que as
pessoas estão tendo a noção exata disso. Este mês, uma pesquisa da Universidade
de Denver revelou que 40% das pessoas ouvidas evitam pessoalmente alguém que as
tenha excluído do seu Facebook. E por que excluem? Os motivos são os mais
simples, como excesso de posts, conteúdos irrelevantes, visões políticas ou
religiosas conflitantes. Ou seja, por causa do comportamento nas redes sociais,
o outro é riscado da nossa vida pessoal. Sem mais delongas, nem explicações,
nem conversas. Nada de olho no olho, típico de uma amizade estável e madura.
Trocando em miúdos, a interpretação é: se você me excluiu da sua rede no
Facebook, é porque tampouco deseja ser meu amigo em carne e osso.
Isso
nos leva a outra pergunta: até que ponto o Facebook influencia nossas decisões,
nosso modo de ser? Será o Facebook a lente através da qual temos visto o mundo?
É pela internet que levantamos nossas bandeiras, sentados confortavelmente em
nossos lares em vez de ir às ruas em protestos reais? É nos posts polêmicos que
expomos nossos pontos de vista, comprando brigas com gente que nem conhecemos?
É nessa rede social que medimos quem são nossos amigos de verdade?
Sistemas
complexos — Quem explica esse fenômeno das novas interações baseadas quase que
exclusivamente no que se passa no mundo online é Niraldo Nascimento, doutorando
em Ciência da Informação e professor do MBA em Modelagem de Sistemas Complexos
da Universidade de Brasília. Segundo ele, as redes sociais podem ser comparadas
a sistemas complexos, em que o mais importante é o volume de interações entre
seus participantes, e não o número de membros. Em outras palavras, é através
das mensagens trocadas que se pode analisar, inferir e até predizer
comportamentos, utilizando ferramentas específicas.
Embora
permitam às pessoas assumir traços de personalidade diferentes do mundo real,
as redes no fundo funcionam de maneira parecida. “As pessoas passam a lidar com
“avatares”, entes virtuais ou pseudo-personalidades, só que em outra dimensão.
Na vida real, lidamos, igualmente, com personas, temos afetos, amores e
desavenças”, diz Nascimento. E, da mesma forma, existem “jogos” de poder,
persuasão, crítica, conivência, apatia, etc. – on e offline.
Em
resumo, dá para inferir que o comportamento nas redes sociais não está
descolado do comportamento na vida real. Você pode até ser um “ente” no mundo
virtual e outro diferente no mundo real, mas “ignorar os laços umbilicais
inerentes ao comportamento humano em todas as esferas pode levar a falsas
conclusões”, atesta o professor Niraldo Nascimento.
Por
isso, pense até que ponto você está sendo coerente com os seus comportamentos e
relacionamentos no universo digital e no universo de carne e osso.
Por
Mariela Castro
Fonte
Exame.com