As viagens internacionais de longa duração
fazem com que o viajante permaneça sentado por várias horas. Isto pode ter
conseqüências muito importantes em termos de saúde. A imobilização das pernas
faz com que o sangue que retorna ao coração pelo sistema venoso tenha uma
dificuldade maior para vencer a gravidade já que a pessoa viaja na maior parte
do tempo sentada. Em algumas pessoas, o acúmulo de sangue nas pernas faz com
que se formem coágulos que podem se despregar da parede das veias das pernas,
seguindo junto com o sangue para o coração. No coração, esses coágulos passam
pelo átrio direito, pelo ventrículo direito e saem para o pulmão pela artéria
pulmonar. À medida que a circulação pulmonar se ramifica, esses pequenos coágulos
podem bloquear os capilares, impedindo que o sangue que corre por esse capilar
capte oxigênio. Dependendo do tamanho dos vasos que ficam obstruídos a pessoa
ter uma insuficiência respiratória, porque o sangue que vai para o pulmão não
consegue descarregar o CO2 e capturar mais oxigênio. A formação de coágulos nas
pernas (membros inferiores) recebe o nome de trombose venosa profunda.
A trombose venosa profunda às vezes é de fácil
diagnóstico porque as pernas ficam muito inchadas e com uma coloração arroxeada
pelo acúmulo de sangue. Quando um pedaço de coágulo formado na perna se
desprende e vai para o pulmão impedindo a troca de oxigênio e gás carbônico
recebe o nome de embolia de pulmão ou tromboembolismo pulmonar. A embolia de
pulmão é uma doença grave com alto índice de mortalidade mesmo quando tratada
no início.
Esse assunto tem ficado tão comum que vários
cientistas começaram a estudar o problema. Dois artigos de revisão foram
publicados tentando mostrar que o risco de trombose associado às viagens de
longa duração é realmente muito elevado, e quais seriam as pessoas com alto
risco para essas complicações tromboembólicas. Uma revisão de todos os estudos
realizados até o momento mostrou um risco aproximadamente 3 vezes maior de
apresentar uma trombose nos membros inferiores em pessoas que viajaram de avião
em relação às que não viajaram. Esse risco aumenta quando a pessoa que viaja
preenche algumas condições como idade elevada, presença de varizes e outros
sinais de insuficiência venosa, como inchaço de membros inferiores, história de
trombose venosa prévia, pessoas com doenças do sistema de coagulação que favoreçam
o aparecimento de tromboses, grávidas ou mulheres nos primeiros dois meses após
o parto e pessoas obesas ou que estiveram em extenso repouso no período prévio à
viagem.
Os estudos mostram que o risco também
aumenta nas viagens muito longas, com mais de 10 mil km ou duração maior do que
6 a 8 horas. Um outro fator é que o ambiente dentro do avião, muito seco pelo
uso do ar condicionado e com pressão na cabine inferior à que existe
normalmente no meio ambiente ao nível do mar, diminui a quantidade de oxigênio
no ar e favorece a desidratação, o que aumenta o risco de trombose.
Embora o número de casos de tromboembolismo
pulmonar típico seja muito pequeno, em torno de 1,5 caso por 1 milhão de
pessoas, quando o número de horas de viagem se eleva para mais de 8 horas, o número
de casos aumenta para 2,6 por 1 milhão de pessoas. Entretanto, um estudo que
analisou a presença de tromboses em pessoas que viajaram por muitas horas fazendo
um Doppler (exame que vê o fluxo de sangue nas veias a perna) de membros
inferiores depois da viagem mostrou que a freqüência de algum tipo de trombose -
mesmo que muito pequena e assintomática - nos viajantes era muito mais elevada,
sendo em torno de 1,6% em pessoas sem nenhum fator de risco, mas em torno de 5%
nas pessoas com algum fator de risco para trombose.
Vários estudos ainda mostraram que o uso de
meias elásticas de baixa e média compressão diminuiu consideravelmente a formação
de algum tipo de trombo em membros inferiores. O uso de medicamentos
anticoagulantes, como aspirina, e o uso de heparina não foram tão eficazes
quanto o uso das meias elásticas.
Por Isabela Benseñor