Muitos
advogados americanos já se convenceram de que publicar blogs na internet
resulta em mais clientes para o escritório. Via de regra, escrevem sobre temas
de sua área de especialização, o que a percepção geral sempre indicou ser a
melhor técnica. Mas uma nova ideia tende a mudar esse conceito. Pode dar mais
resultados escrever sobre a área de especialização do cliente.
Um
bom exemplo disso aconteceu em Filadélfia, por acaso. Segundo o site
philly.com, o advogado Michael Savett começou a escrever um blog dedicado
exclusivamente a alimentos que contêm glúten, uma substância proteica de
cereais. O assunto não tem a ver com a área de atuação do advogado, que é
especializado em seguros. Ele passou a escrever o blog porque seu filho de 11
anos morreu de doença celíaca, um distúrbio autoimune disparado pelo consumo de
alimentos feitos de trigo, cevada e centeio.
Savett
se tornou um especialista em alimentos que contêm e que não contêm glúten. Em
seu percurso, foi descobrindo outros produtos alimentícios que podem fazer mal
ou podem fazer bem à saúde das pessoas. Na condição de advogado, também
examinou os aspectos jurídicos de alguns problemas. Sem que isso fosse
planejado, ele se tornou "o advogado que entende tudo de alimentos",
para empresas da área de alimentação e para o público em geral.
"É
uma estratégia muito boa de marketing", diz o especialista Fox Rothschild.
"Empresários de todos os portes e cidadãos comuns fazem suas próprias
pesquisas de mercado online e topam com blogs relacionados ao que buscam. Você
vê empresários, executivos de grandes empresas e assessores jurídicos das
corporações buscando por advogados que entendem os negócios de suas empresas".
No
mundo das grandes corporações, onde o caminho normal é fazer parceria com
grandes bancas, sobra às firmas de pequeno e médio porte, bem como aos
advogados autônomos, encontrar o seu nicho de mercado — ou o nicho do nicho.
Para
chegar a um nicho específico, como, por exemplo, restaurantes, é melhor
escrever sobre cozinha, as atividades do ramo e tópicos relacionados, do que
sobre legislação tributária. Isso se o propósito é conseguir visibilidade na
internet e ser lido por empresários do setor, diz o site.
Foi
o que fez o advogado Hayes Hunt, que escolheu restaurantes e empresas que
fornecem produtos e equipamentos para essas firmas como seu nicho de mercado.
Ele publicou, por exemplo, uma sessão de perguntas e respostas com o célebre
chefe de cozinha Jose Garces. Certeza de leitura. Mas escreve também sobre
soluções jurídicas para os restaurantes afetados pelo furacão Sandy, por
exemplo.
Em
um workshop sobre marketing para advogados, ele aprendeu que um blog tem de
ser, antes de tudo, interessante. Aplicando a regra, conquistou muitos clientes
e já foi convidado para fazer palestras — muitas vezes, em um jantar.
Ressalve-se que seu objetivo, nos Estados Unidos, é mais fácil de ser atingido
do que no Brasil. A maioria das pessoas que pretendem abrir uma empresa no país
faz cursos de negócios. Nesses cursos, os futuros empresários aprendem o que é
necessário para abrir e manter um negócio. Uma providência indispensável, se
aprende, é contratar um advogado permanente para a empresa, da mesma forma que
se contrata um contador.
Um
ponto importante nessa ideia de escrever blogs sobre a área de atuação dos
clientes, em vez de escrever sobre temas eminentemente jurídicos, é a
linguagem. O texto não é jurídico. A terminologia deve ser popular, fácil de
entender, mesmo quando o assunto é jurídico. E a profundidade da discussão é
dispensável. "Em matéria de relógios, tudo que um empresário precisa
provavelmente saber é o horário. Ele não está interessado em saber da história
da fabricação suíça de relógios", diz o consultor Cordell Parvin.
O
estilo jurídico é mais apropriado quando o blog do advogado é dirigido a
colegas de profissão. Um exemplo de público-alvo jurídico é o formado por
assessores jurídicos de grandes corporações, que contratam advogados
especializados para solucionar algum problema da empresa. E também grandes
bancas de advocacia, que podem fazer a mesma coisa para solucionar um problema
específico de um cliente. "Mas só use uma linguagem eminente jurídica e
complexa, se seu público-alvo for desembargadores e ministros dos tribunais
superiores", diz ele.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte Consultor
Jurídico