Hora de tomar decisões para o ano novo. Para
muitos advogados empregados, o sonho de fazer carreira solo ou abrir sua própria
firma volta à pauta de todo fim de ano. Mas o sonho pode ser mau conselheiro. Aponta
um objetivo, mas não fornece os meios para se chegar lá. Vontade de ser o próprio
chefe? Pode ser uma motivação para deixar o emprego, não para levar uma firma
ao sucesso. O primeiro elemento que o advogado deve avaliar, se quer
desenvolver um empreendimento com êxito garantido é se tem ou não um espírito
empreendedor, diz a advogada Suzanne Meehle, em um artigo para o blog Solo
Practice University.
Essa é a chave do sucesso. Segundo ela, para
advogados sem espírito empreendedor, há três caminhos possíveis: 1) Fazer a
intenção, neste fim de ano, de encontrar motivação para ser feliz no emprego; 2)
abrir sua firma ou partir para carreira solo, mesmo sem esse elemento-chave,
sabendo que o caminho será árduo; 3) encontrar um sócio que tenha espírito
empreendedor.
Há diferenças fundamentais entre profissionais
com ou sem espírito empreendedor, diz Suzanne Meehle. O profissional sem espírito
empreendedor olha para o mercado e vê concorrência. O profissional com espírito
empreendedor, olha para o mercado e vê oportunidades. Um tem dificuldades para
enxergar o que vai diferenciá-lo da multidão de advogados no mercado; outro tem
facilidade para identificar seu nicho único, suas qualidades únicas.
O advogado que leva uma firma ao sucesso é antes
de tudo um empreendedor, afirma a autora do artigo. Um ser três-em-um, que é um
empresário, um marqueteiro e um profissional (não tem, necessariamente, de ser
um profissional excepcionalmente qualificado, porque poderá contratar
profissionais não empreendedores) — afinal, terá de cumprir as funções de cada
um deles ou dividi-las com sócios, se quiser que a firma prospere.
Empreendedores não se atrelam a horários de
trabalho, não se apegam ao conforto do lar, nos fins de semana, ou no horário
nobre da TV, nos dias úteis. Se são também marqueteiros, sempre há alguma atividade
apropriada para fazer marketing. Há que se frequentar associações profissionais
(de possíveis clientes ou de advogados); clubes (onde estão os possíveis
clientes), organizações comunitárias (de onde saem referências), além de
participar de congressos, seminários, encontros sociais, qualquer evento em que
será possível fazer relacionamentos. Ou mesmo ir a um "car wash" sofisticado,
aos sábados, para conhecer gente.
Um advogado não empreendedor se preocupa
muito com a necessidade de um bom capital para abrir a própria firma. Além dos
custos fixos, fazer marketing e conquistar clientes pode ser uma atividade cara.
Um advogado empreendedor considera que capital ajuda, mas não se trava diante
de parcos recursos. Basta fazer marketing de guerrilha, que exige mais motivação
do que verbas — e são muito utilizadas por empreendedores descapitalizados.
Muitas dessas estratégias já foram descritas
na ConJur, que já listou as "50 ideias de marketing de guerrilha para
advogados. Mas, a fonte de inspiração de advogados empreendedores é inesgotável.
E a criatividade, idem.
A advogada Deborah Gonzalez mandou imprimir
a logomarca de sua firma na capa protetora de seu iPhone — um item que pode
estar constantemente no ouvido, nas mãos, sobre uma mesa ou balcão no tribunal,
no restaurante, no shopping center, em qualquer lugar. Não é um caminhão ou uma
camionete com a logomarca de uma empresa, mas é um item visível.
A advogada colocou na capa de seu iPhone, além
da logomarca de sua firma, um slogan curto, que definia sua área de atuação,
com o custo de US$ 40. Ela disse à sua colega Susan Liebel que encomendou a
capa do telefone, já com a impressão, no site Zazzle.com. Susan não só fez a
mesma coisa, como escreveu em um artigo para o blog Solo Practice University,
como expandiu a ideia: por que não colocar adesivos no laptop e no tablet? O
adesivo pode trazer mais informações, como dados para contatos da firma (como
se fosse um cartão de visitas) — até para o caso de serem esquecidos, perdidos
e encontrados por uma pessoa honesta.
Em um artigo na Inc. Magazine, Eric
Schurenberg definiu empreendedorismo como "a perseguição de uma
oportunidade sem preocupação com os recursos atualmente sob controle". Isto
é, um empreendedor é alguém que percebe e persegue oportunidades, mesmo que não
disponha dos recursos (como capital) para fazê-lo. Para Suzanne Meehle, um
empreendedor é alguém que quer vencer por esforço próprio, com coragem para
dispensar um salário fixo, todo fim de mês. "Não é uma questão de disposição
para assumir riscos. É uma questão de carpe diem. ("viver cada momento"
da jornada em busca do sucesso).
"No meu caso, quando decidi abandonar
um emprego regiamente pago para abrir minha própria firma. A motivação não era
o meu ego, não era o desejo de ser minha própria chefe. Foi a oportunidade que
vi a minha frente, como uma fruta deliciosa em uma árvore, ao alcance da mão. Foi
só pegar. Minha vontade de ter meu próprio empreendimento, a paixão pela
oportunidade de praticar advocacia em meus próprios termos, eram maiores do que
meu apego a um ótimo salário e as perspectivas de fazer carreira na firma em
que trabalhava", escreveu.
No caso de Suzanne, foi mais fácil confirmar
que tinha um espírito empreendedor, na hora de decidir pela abertura de sua própria
firma. Ela descobriu isso aos 16 anos, quando começou a prestar serviços de babá
temporária para custear seus estudos. "Descobri que todas as babás
cumpriam sua obrigação: olhar as crianças. Mas eu queria ter mais clientes e
ser mais bem paga. Por isso, comecei a cozinhar para as crianças, estimulá-las
e ajudá-las a fazer as tarefas da escola e a apanhar os brinquedos espalhados
pela casa, depois de colocá-las para dormir. Não demorou muito para minha
agenda ficar cheia e para eu me tornar a babá mais bem paga da cidade", conta.
Se há um elemento que torna um país mais
desenvolvido economicamente que outro ou que torna um estado mais rico que
outro em um país, é a mentalidade empreendedora de seu povo.
Por João Ozorio de Melo
Fonte Consultor Jurídico