"Um
homem sensato pode apaixonar-se como um doido,
mas não como
um tolo."
(François de La Rochefoucauld)
Você
já parou para se perguntar até onde você conseguiria se flexibilizar diante de
uma contrariedade? Podemos dizer: depende da contrariedade. Obviamente que sim,
todavia, a questão nos remete ao estado de “estresse” que todos nós terminamos,
ou que vivemos, os nossos dias. A quantidade de vezes que nos deprimimos sem
razão, que nos entristecemos, que as coisas parecem perder o sentido... Estamos
em um momento importante onde a humanidade alcançou a maior curvatura referente
aos níveis de informação; atravessamos uma importante era tecnológica onde os
limites parecem não mais existir no mundo virtual.
Para
os grandes sábios, homens que refletem com profundidade e consistência, tudo
está em seu lugar; pode ser que nós estejamos deslocados. Será? Em plena era da
exteriorização existencial, vejo serem grandes e alarmantes os números de
pessoas que sofrem algum tipo de transtorno psíquico. As revistas espanholas
mais especializadas apontam números curiosos sobre a quantidade de jovens que
sofrem depressão, e acusam: já é a doença do século! Diferentes agências
americanas dizem que 50% das pessoas de todos o mundo já desenvolveram ou
desenvolverão algum tipo de transtorno existencial. Um fato que nos leva a
re-pensar se nossas atitudes diárias estão dentro dos limites naturais de nossa
existência.
À
medida que avançamos em nossas idades, independentemente de termos ou não
vividos boas ou más experiências, modificamos as nossas formas de conviver, de
levar com tranquilidade e sensatez um problema, de resolver uma situação
extrema; há quem diga que melhoramos e pioramos; crescemos e estagnamos nossas
mentes em função de toda esta mudança, de todo este “estresse” cotidiano. Nos
mínimos detalhes é possível perceber como a humanidade está ascendendo e
descendendo; será que conseguiríamos viver sem internet? Sem luz elétrica? Ou
em poucas horas o mundo se transformaria em um caos generalizado?
Por
mais que estejamos cientes de que todas estas circunstâncias favorecem alguns
pontos positivos, não é de agora que nossas verdades se vêem atravessadas por
ventanias de sentimentos, de ira, de raiva, simplesmente por não sabermos
flexibilizar. Quiçá, seja verdade que já há algum tempo que o ser humano se
esqueceu de perceber que existe um mundo interno que está torcido em relação ao
mundo exterior. Talvez seja verdade que este mesmo ser humano venha tentando se
adaptar à medida que se vê necessária a sua intervenção ao nível humano
(humanitário) e, em negativo, animal (bestial). Basta observarmos o trânsito, a
vida em sociedade... As pessoas, o dia, o todo, parece que estamos indo para
uma guerra; gritos, agressões verbais, buzinas... A falta de paciência, de
tolerância, é geral.
É
certo que estamos, ainda, em tempos de adaptação; ainda não nos habituamos aos
novos volumes de intervenção externa em nossos costumes. Uma quantidade
incrível de informações entram e saem de nossos ouvidos diariamente; atordoam
nossas mentes com verdades e mentiras que nos obrigam a estruturar nossas
personalidades e atitudes à partir de reações alheias e, mesmo assim, não somos
capazes de parar; de desacelerar, pensar um pouco; por esta razão somos muitos
os que nos encontramos isolados, perdidos, estagnados... Recordo-me um
professor que dizia: “Pare! Desacelere!... Conheça quem é você”.
A
profundidade desta colocação, por mais que pareça um aspecto “anti-natural”
para um jovem cheio de energia, remeteu-me, em sua época, à capacidade de me
olhar no espelho; de ver as circunstâncias sem as máscaras que nos são
apresentadas. Proporcionar o bem-estar a si mesmo significa realmente ser flexível
diante da dureza dos extremos. Dissolvê-las - as durezas - a ponto destas se
tornarem o ponto de alcance para atingir a libertação. Isso nos leva ao ponto
de olharmos para nós mesmos e, verdadeiramente, perguntarmo-nos se somos
felizes; se estamos bem, satisfeitos... Para alguns mestres que conheço, tal
processo significa superar as nossas qualidades negativas aperfeiçoando as
nossas qualidades positivas. Isso está diretamente associado à nossa
compreensão daquilo que somos em verdade. Como sabemos o quanto podemos nos
flexibilizar se não nos conhecemos?
"O homem
sensato constrói a própria sorte;
por isso
acontecem poucas coisas que ele não quer."
(Plauto)
Por
Jordan Augusto
Fonte
Sociedade Brasileira de Bugei