O grande problema com respeito à China – hoje principal parceiro comercial do Brasil – é a (falta de) informação qualificada. O Brasil precisa enfrentar o desafio de obter informações e análises qualificadas sobre a situação interna e externa da China. Para isso, é preciso aprender mandarim.
Agora é a vez da China.
Em alguma ocasião, ao longo de 2011, li o comentário de que na representação brasileira na China não havia um único diplomata que soubesse falar mandarim, a língua predominante naquele país. Se confirmada, a informação é assustadora. Se perpetuada, será desastrosa.
Faça-se uma ressalva necessária: sabidamente, o Itamaraty tem uma reputação mundial como “dono” de um dos melhores corpos diplomáticos do mundo, por formação e atuação. A nossa direita pode espernear quanto quiser (antes, até governo FHC, não esperneava a respeito – e a reputação é de fato muito antiga). O reconhecimento e o prestígio são conspícuos. Por isso mesmo aquela situação de desconhecimento do mandarim não pode continuar. É necessário enviar uma frota de diplomatas brasileiros para aprender mandarim – seja na China ou nas universidades alemãs (por exemplo).
Por que? Porque o grande problema com respeito à China – hoje principal parceiro comercial do Brasil – é a (falta de) informação qualificada. Não me refiro a dados como PIB, renda per capita etc. Mas sim ao que de fato, está acontecendo naquele país de regime político comunista, economia capitalista e postura neo-imperialista (inovadora, diga-se de passagem) no mundo inteiro.
Dá vontade de dizer: China, terra de contrastes! O regime é tão centralizado que a China, que a rigor deveria ter quatro fusos horários, só tem um: o de Beijing. Por outro lado, o país é tão diversificado, e cada vez mais, que é preciso mergulhar nos seus meandros para saber o que de fato está por vir naquela imensidão de especo e gente.
Ao contrário do que se pensa, o gigante econômico chinês não é tão sólido assim. E uma das razões é a própria informação: afinal, o quanto de dados absolutamente confiáveis o governo chinês manipula em suas (in)decisões? Haverá, por exemplo, um IBGE (órgão absolutamente confiável, pelos padrões internacionais) chinês?
Comentaristas como Paul Krugman assinalam, com alguma insistência, que a China pode estar à beira de um processo inflacionário que levaria a políticas de contenção de crédito, uma vez que o que se espera das autoridades chinesas é uma ortodoxia capitalista não muito diferente da do Consenso de Bruxelas – e imposta com a mesma mão de ferro.
Se isso acontecer, associado ao processo recessivo europeu, as conseqüências para o Brasil poderão ser desastrosas. Ou “virtuosas”, se o Brasil se preparar para enfrentar mais esse cataclismo de escala mundial. Mas de qualquer modo, o Brasil precisa enfrentar o desafio de obter informações e análises qualificadas sobre a situação interna e externa da China.
Para isso, é preciso aprender mandarim.
Por Flávio Aguiar
Fonte Correio do Brasil
Fonte Correio do Brasil