Nenhum tema simboliza melhor a necessidade de um novo paradigma para a Administração do que o velho e surrado conceito sobre Liderança. A maioria dos livros, cursos e palestras sobre esse tema ainda enfatiza atributos para uma realidade empresarial que já não existe mais. Por exemplo, ainda enaltecem as habilidades requeridas do líder para que obtenha resultados com seus subordinados. E restringem o escopo da liderança ao âmbito interno da empresa à qual o suposto líder pertence. Nada mais inapropriado nos dias de hoje. Afinal de contas, liderar subordinados é a parte mais fácil e simples das tarefas de um líder. E, cada vez mais no futuro, o exercício da liderança que produz resultados estará localizado fora das paredes das empresas.
Torna-se necessário repensar a Liderança de uma forma menos idealizada e mais pragmática ouvindo mais aqueles que de fato a exercem na linha de frente da vida empresarial. Várias transformações dramáticas no ambiente negocial do Brasil exigem uma nova maneira de pensar sobre o que caracteriza um líder eficaz e como identificar e treinar talentos com potencial de liderança. Infelizmente, muitos desses programas de treinamento em liderança têm sido apenas objeto de ajustes cosméticos, mantendo-se inalterada a velha concepção sobre o papel do líder.
O que precisamos aprender é como liderar em situações nas quais não temos a autoridade formal do comando. O teste de fogo do líder será o de comandar pessoas fora de sua equipe. Quando tiver que liderar seus pares. Ou o seu chefe. Ou seja, quando tiver que liderar para os lados ou para cima. Esses, sim, serão os momentos da verdade para qualquer candidato a líder.
Mais complicado ainda será quando tivermos que liderar pessoas que além de não serem subordinados também não fazem parte do organograma da empresa. Isso mesmo, temos que estar preparados para situações em que poderá ser necessário liderar um cliente importante ou um poderoso fornecedor do qual dependemos para salvar os preços daquela proposta que já encaminhamos ao cliente-chave da empresa. Ou liderar um projeto com um sócio representando uma empresa dez vezes maior. Ou na necessidade de liderar uma celebridade.
Você já deve ter deduzido das situações acima que uma habilidade importante no futuro será a de como liderar pessoas fora das paredes tradicionais da empresa. Acertou em cheio: cada vez mais o líder eficaz precisará obter resultados localizados mais no “lado de fora” que no “lado de dentro” das empresas.
Os líderes dessa Era do Comando que se finda foram especialistas em construir “paredes” que delimitavam muito bem o território de ação de seus departamentos ou da empresa como um todo. A mentalidade do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” bem ilustra a filosofia gerencial que prevaleceu até há pouco. Os líderes da Era dos Serviços que se inicia precisam derrubar essas paredes, mudar essa mentalidade e construir pontes internas e externas que liberem a criatividade dos talentos humanos, conectando-os melhor tanto entre si na empresa quanto externamente com os clientes, fornecedores e comunidades onde atuam.
Por César Souza
Fonte Exame.com