“La mystère de la femme française c’est que son homme sait qu’il peut la perdre à tout moment” (O mistério da mulher francesa é que o seu homem sabe que pode perdê-la a qualquer momento)
A fama das mulheres francesas não vem de hoje. Elas têm feito sucesso entre os homens – e os editores de livros – desde Honoré de Balzac, que se dedicou ao gênero feminino em estudos reunidos em livro intitulado As irresistíveis mulheres francesas. Mais recentemente, topamos com títulos como A elegância e os segredos da mulher francesa, As mulheres francesas não engordam, Os segredos das mulheres francesas, O que as mulheres francesas sabem. O mais recente da série é Mulheres francesas não dormem sozinhas, recém-lançado no Brasil. Escrito por Jamie Cat Callan, uma americana de origem francesa – sua avó materna nasceu na França -, o livro tenta, assim como os outros, ensinar mulheres de todo mundo a ser um pouco francesas.
E por que as mulheres de outros lugares teriam interesse em “afrancesar-se”? Segundo os autores dos livros, porque o charme e o poder da mulher francesa são incomparáveis, vide o exemplo das atrizes Catherine Deneuve e Marion Cottilard, que ilustram este post. De épocas diferentes, as duas dividem encanto que vai além da beleza física.
Não sei se concordo com a tese de que as mulheres francesas têm um quê a mais do que as de outras nacionalidades – afinal, cada mulher é uma e quem conhece mulheres de todos os países para dizer? Mas decidi dar um mínimo crédito e continuar a ler o livro de Mademoiselle Jamie Cat Callan.
E foi divertido.Uma leitura rápida e fácil. Isso se você rir dos conselhos mais absurdos, das classificações categóricas, das simplificações, das receitas. Falando em receitas, uma das melhores partes do livro são as receitas francesas. Minha habilidade na cozinha é limitada para avaliar a qualidade delas, mas dão água na boca. Tem desde os clássicos magret de canard (pato) e coq au vin (frango ao vinho) até lapin à la moutarde maison (coelho com mostarda) e petit gateau. Elas estão lá porque, segundo o livro, as mulheres francesas continuam adeptas do que nossas avós diziam: o caminho para o coração de um homem começa no estômago!
Surpresa? Há mais semelhanças entre as francesas e nossas avós. Ambas abusam de meias calças e saias e echarpes. É claro que é possível usar esses itens e ser contemporânea, mas eles não deixam de ser clássicos do vestuário feminino.
Mas as coincidências não vão muito longe – pelo menos não quando penso na minha vó! De acordo com Mulheres francesas não dormem sozinhas, um dos segredos bem guardados das francesas é a sedução. É preciso usá-la o tempo todo, flertar sem maiores consequências, com todos. Antes de uma ferramenta para conseguir um parceiro, o flerte é uma ferramenta para conquistar confiança. Essa autoestima elevada seria a base do charme da francesa. Alguém duvida que uma mulher confiante é mais sedutora? Fiquei só com uma dúvida: será que a francesa só é tão confiante porque passa o tempo todo usando sua sedução?
Além de flertar o tempo todo, o livro recomenda guardar segredo, fazer mistério. Não contar todo detalhe da sua vida, e até mesmo, deliberadamente, soltar uma informação que ninguém saiba como você obteve, sem explicar. Para que precisamos de tanta honestidade e transparência, perguntas-se a autora? Realmente, ninguém precisa saber se preciso ir ao dentista, mas que mal tem se souber, também? Esse tipo de informação “quebra o encanto” mesmo, como supõem as francesas?
Outra dica made in France é manter a independência em relação ao parceiro. Passar um final de semana ou outro longe. Ter um tempo para si própria sem comentar o que fez. E, segundo o livro, vale até manter um affair, desde que de maneira discreta.
Outra prática comum da francesa solteira (mas nunca sozinha, segundo a autora!) é não marcar encontros a dois – que se assemelhariam a uma entrevista! Em vez disso, a francesa prefere conhecer homens em jantares em grupos de amigos e avaliá-lo em uma situação social antes de conhecê-lo a sós. Além de poder examinar como o pretendente se comporta com as outras pessoas, ela tem uma vantagem: é o alvo de atenção de outros homens, não está a sós com ele, e isso a valorizaria aos olhos do pretendente. E, se os dois trocam telefone e combinam de se ver a sós, a francesa sugere uma caminhada por uma praça à tarde – em que ela também será, segundo o livro, admirada por outros homens – e não um jantar à luz de velas. Quando eles passam para a fase do jantar, ela já teve a oportunidade de avaliá-lo melhor e seduzi-lo na presença dos outros. Nada de primeiro-encontro-entrevista – e recorrer a sites de namoro, então, nem pensar! Talvez, de todas as dicas do livro, essa seja a que traga mais novidade para as mulheres daqui e, possivelmente, mais benefícios. O que você acha? Adotaria o modo francês de conhecer um homem?
Para esse modo de conhecer homens à francesa dar certo, é preciso seguir outras dicas do livro: criar e manter um grupo de amigos (e expandi-lo ocasionalmente com outros homens interessantes) e exercitar a habilidade de receber para festas e jantares. Embora classificada de francesa, essa dica me pareceu bem adaptável a todas as nacionalidades – e tem mais a ver com manter uma vida social saudável do que exercer charme.
Talvez a diferença seja que, na França, um esporte nacional durante essas ocasiões seja discutir política. Segundo Jamie Cat Callan, as mulheres não se eximem desse debate, como muitas vezes acontece por aqui. Por isso, tão importante quanto cuidar da pele, do corpo é cuidar da mente, lendo, se informando. É até mais comum encontrar mulheres de óculos na França – como Catherine Deneuve na foto – porque eles reforçam o ar intelectual, segundo o livro. É claro que só usar óculos não adianta…
Assim como não adianta só usar a lingerie combinando, como recomendam as francesas, ou fazer ar de mistério só no primeiro encontro, ou ultrapassar sem intenção o limite do flerte. Mas, afinal, tem como ser francesa sem ter nascido na França? Faz algum sentido tentar sê-lo?
Ainda que fizesse, fico me perguntando se os homens brasileiros saberiam lidar com a mulher francesa…
Por Letícia Sorg
Fonte Época.com – Mulher 7x7