A mentalidade orientada a dados está
atualmente enraizada em uma série de domínios. Setores como finanças, seguros, varejo
e saúde analisam imensas quantidades de dados gerados pelos clientes. A partir
dos dados coletados, empresas são capazes de identificar as dores dos clientes
para, então, desenvolver produtos sob medida e serviços cada vez mais
personalizados.
Gostem ou não, os profissionais da advocacia
também interagem com dados todos os dias. Ainda que a maioria não tenha se
formado para compreendê-los e interpretá-los, os dados são indissociáveis da
rotina dos advogados. O mundo jurídico está sendo orientando por dados. E a
cultura data-driven, consolidada em países como Estados Unidos, já está
mostrando sua face em solo nacional. É provável que você goste.
A cultura data-driven
Prova disso é o crescimento de lawtechs e
legaltechs focadas em análise de dados. Hoje, mais de 20 startups (incluindo
iniciativas em early stage) estão trabalhando com analytics e jurimetria. Enquanto
algumas das soluções envolvem o uso de softwares para aprimorar o processo de
tomada de decisões dos advogados, outras são capazes de antecipar resultados de
casos (ainda não) judicializados.
Imagine um cenário no qual o cliente
comparece ao seu escritório e relate os motivos que o levaram a procurar seus
serviços. Após ouvir o fato, você, como advogado (a) 4.0, digita algumas
informações no software de jurimetria de seu escritório. Surpreendentemente, em
poucos segundos, o programa de computador revela então a probabilidade de êxito
daquela demanda, caso venha a ser ajuizada.
Parece improvável, não? Mas algumas startups
estão caminhando para essa realidade. Chegar "lá" envolve concluir
etapas importantes, como estruturar dados dos tribunais, definir se as análises
serão realizadas com inteligência artificial ou estatística comum, treinar os
modelos de análise preditiva para perguntas e respostas complexas e, por fim, transformar
tudo isso em uma aplicação.
Compreendendo a
competência em dados
Os avanços das tecnologias de análise
preditiva têm levados especialistas a apostar na competência em dados como um
requisito essencial do profissional do futuro. A data competency, que está
diretamente conectada às áreas de Big Data e Business Intelligence, envolve
conhecer algoritmos, inteligência artificial, machine learning e linguagens de
programação, como C++ e Python.
A data competency é um habilidade
fundamental que todo (a) advogado (a) deve desenvolver. Profissionais com tal
competência são capazes de tomar decisões mais acertadas nos casos que
patrocinam. Além disso, são capazes de analisar dados de litígios para
determinar o melhor local para litigar (observadas as regras de competência) ou
não litigar (soluções alternativas de conflitos).
Embora muitos advogados possam vir a
adquirir softwares de análise preditiva no futuro, serão os profissionais com
competência em dados os que realmente aproveitarão as ferramentas. Isso porque,
ao combinar o poder computacional com a capacidade de interpretar os dados (fazendo
melhores perguntas para calibrar os algoritmos), o processo de tomada de
decisões se torna mais preciso.
O amanhã está
reservado para os profissionais capazes de interpretar os dados
O mundo jurídico está mudando. Há algumas
décadas, os advogados tinham de confiar apenas na própria experiência para
tomar decisões estratégicas. Hoje, os profissionais têm a pesquisa
jurisprudencial como aliada importante (mas nem sempre confiável) no processo
de tomada de decisões. No entanto, o amanhã está reservado para aqueles
profissionais capazes de interpretar os dados.
Em suma, advogados capazes de ler e
compreender dados tomarão decisões mais acertadas; potencializarão os
resultados das demandas por eles patrocinadas (judicializadas ou não); terão um
diferencial competitivo em seus escritórios de advocacia; e enxergarão mais
oportunidades no mercado jurídico do futuro. A competência em dados é, sem
dúvida, um imperativo dos novos tempos.
Por Bernardo de Azevedo e Souza
Fonte JusBrasil Notícias