terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

TRADUTOR AUTOMÁTICO, NEM PENSAR. OS CUIDADOS AO REDIGIR UM CURRÍCULO EM INGLÊS

Modo como se escreve pode denunciar se a pessoa tem ou não bons conhecimentos do idioma

Estrutura do currículo em outro idioma é semelhante a de um documento em português

Um currículo bem escrito é um desafio para o candidato, e um alívio para as empresas: de acordo com a Associação Brasileira de Recursos Humanos, de cada 10 currículos, somente dois são aproveitados. E muitas empresas multinacionais já consideram praxe adotar uma versão ainda mais complexa para os brasileiros: o currículo em inglês.
Mas, de acordo com o professor Elvio Peralta, diretor superintendente da Fundação Fisk, redigir um currículo em inglês não é um bicho de sete cabeças: a estrutura do documento é bem parecida com a do currículo em português, devendo-se colocar somente o essencial para o cargo pretendido. O principal diferencial, diz Peralta, é que, nas multinacionais, que pedem o currículo em inglês, é mais comum a solicitação de uma carta de apresentação e, por isso, o currículo deve ser ainda mais conciso.
— O segredo está nos detalhes, no modo como você escreve o documento. É aí que você denuncia se tem bons conhecimentos do inglês ou não — completa Peralta, ressaltando que currículos mais longos são recomendados somente para cargos mais elevados, de gerência, diretoria ou gestor de grandes projetos, que precisam informar mais detalhes.
Peralta alerta que a capacidade de síntese — formular sua apresentação de forma objetiva e clara — e habilidade na construção de frases são os principais pontos levados em consideração, tanto no currículo em português quanto no currículo em língua estrangeira.
O professor acrescenta que é sempre importante lembrar que o currículo em inglês (ou outra língua) não é para ser divulgado aleatoriamente: a maioria das empresas costuma especificar se precisa dessa versão, uma vez que ela serve como um primeiro teste para a empresa saber o nível de conhecimento do candidato no idioma solicitado. Logo, acredita, pode-se dizer que a maior dificuldade para redigir um currículo em outro idioma é justamente não ter conhecimento no idioma.
— Só se preocupe em ter um currículo em inglês ou em outro idioma se tiver, no mínimo, conhecimento intermediário da língua. Se candidatar a vagas de emprego que solicitam um determinado nível de conhecimento em língua estrangeira sem efetivamente tê-lo pode anular futuras oportunidades na mesma empresa, que não necessariamente exijam domínio em outros idiomas — aconselha o diretor da Fundação Fisk.
Para finalizar, sempre é importante que o candidato seja sincero na hora de se candidatar a uma vaga de emprego, reforçando suas capacidades, sem inventar habilidades:
— Se o que você almeja é um cargo em empresa multinacional, o inglês é essencial. Faça um curso, adquira fluência e aguarde o momento certo em que você se sinta seguro para falar, escrever e passar por testes no idioma.
O professor listou alguns itens que merecem atenção daqueles que vão redigir um currículo em outro idioma:
Estrutura. O candidato deve, logo após seus dados pessoais, citar o cargo ou área pretendida, e, na sequência, falar de sua formação acadêmica e experiência profissional, sempre de forma clara e objetiva, sem alongar os tópicos. É importante que o candidato consiga colocar isso tudo em uma folha ou, no máximo, uma folha e meia. O candidato também precisa saber filtrar o que é relevante ou irrelevante para a vaga almejada. Cursos complementares de outras áreas ou outras habilidades podem ser mencionadas em uma entrevista pessoal, por exemplo.
Tradutor automático: nem pensar. Um erro comum cometido por muitos candidatos é colocar as informações em português no tradutor automático. Nesse contexto, a ferramenta não deve ser utilizada em hipótese alguma, a não ser que o material possa ser revisado por alguém que tenha domínio no idioma, pois algumas traduções saem erradas dependendo do contexto.
Gramática. Cuidado com a gramática também é essencial: o uso do simple past e do present perfect faz uma grande diferença e deve ser usado um ou outro. De acordo com Peralta, o simple past é para situações que já aconteceram, que foram concluídas, enquanto o present perfect indica que você ainda realiza aquela função. É proibido misturar os dois tempos verbais: esse costuma ser um dos principais indícios de que o candidato não domina o idioma. Um exemplo:

I work at xxxx for 3 years (errado) x I have worked at xxxx for 3 years (correto)
Datas e numerais. Também pedem atenção especial. No caso das datas, não confundir com o formato brasileiro: em inglês, o mês vem primeiro, depois o dia. Nos numerais, onde em inglês se usa vírgula, em português se usa o ponto — e vice-versa. Exemplo:

1.000,00 (português) / 1,000.00 (inglês)
Ordem direta e pesquisa de cargos. Outra dica importante é utilizar a ordem direta — sujeito + verbo + complemento. Em português, é comum essa ordem inversa para enfatizar o tempo (De 2000 a 2005, na empresa xxxx, eu trabalhei como....). O uso de substantivos e adjetivos na ordem errada também costuma aparecer em currículos e tirar candidatos de processos seletivos.
— É essencial, ainda, verificar como dizer alguns cargos na língua do currículo. Caso comum é o cargo de “analista de sistemas”: a tradução correta é system analyst e não analyst of sistems — ensina o professor.
Fonte O Globo Online