Modo como se escreve pode denunciar se a pessoa tem ou
não bons conhecimentos do idioma
Estrutura do currículo em outro idioma é semelhante a
de um documento em português
Um
currículo bem escrito é um desafio para o candidato, e um alívio para as
empresas: de acordo com a Associação Brasileira de Recursos Humanos, de cada 10
currículos, somente dois são aproveitados. E muitas empresas multinacionais já
consideram praxe adotar uma versão ainda mais complexa para os brasileiros: o
currículo em inglês.
Mas,
de acordo com o professor Elvio Peralta, diretor superintendente da Fundação
Fisk, redigir um currículo em inglês não é um bicho de sete cabeças: a
estrutura do documento é bem parecida com a do currículo em português,
devendo-se colocar somente o essencial para o cargo pretendido. O principal
diferencial, diz Peralta, é que, nas multinacionais, que pedem o currículo em
inglês, é mais comum a solicitação de uma carta de apresentação e, por isso, o
currículo deve ser ainda mais conciso.
—
O segredo está nos detalhes, no modo como você escreve o documento. É aí que
você denuncia se tem bons conhecimentos do inglês ou não — completa Peralta,
ressaltando que currículos mais longos são recomendados somente para cargos
mais elevados, de gerência, diretoria ou gestor de grandes projetos, que
precisam informar mais detalhes.
Peralta
alerta que a capacidade de síntese — formular sua apresentação de forma
objetiva e clara — e habilidade na construção de frases são os principais
pontos levados em consideração, tanto no currículo em português quanto no
currículo em língua estrangeira.
O
professor acrescenta que é sempre importante lembrar que o currículo em inglês
(ou outra língua) não é para ser divulgado aleatoriamente: a maioria das
empresas costuma especificar se precisa dessa versão, uma vez que ela serve
como um primeiro teste para a empresa saber o nível de conhecimento do
candidato no idioma solicitado. Logo, acredita, pode-se dizer que a maior
dificuldade para redigir um currículo em outro idioma é justamente não ter
conhecimento no idioma.
—
Só se preocupe em ter um currículo em inglês ou em outro idioma se tiver, no
mínimo, conhecimento intermediário da língua. Se candidatar a vagas de emprego
que solicitam um determinado nível de conhecimento em língua estrangeira sem
efetivamente tê-lo pode anular futuras oportunidades na mesma empresa, que não
necessariamente exijam domínio em outros idiomas — aconselha o diretor da
Fundação Fisk.
Para
finalizar, sempre é importante que o candidato seja sincero na hora de se
candidatar a uma vaga de emprego, reforçando suas capacidades, sem inventar
habilidades:
—
Se o que você almeja é um cargo em empresa multinacional, o inglês é essencial.
Faça um curso, adquira fluência e aguarde o momento certo em que você se sinta
seguro para falar, escrever e passar por testes no idioma.
O
professor listou alguns itens que merecem atenção daqueles que vão redigir um
currículo em outro idioma:
Estrutura.
O candidato deve, logo após seus dados pessoais, citar o cargo ou área
pretendida, e, na sequência, falar de sua formação acadêmica e experiência profissional,
sempre de forma clara e objetiva, sem alongar os tópicos. É importante que o
candidato consiga colocar isso tudo em uma folha ou, no máximo, uma folha e
meia. O candidato também precisa saber filtrar o que é relevante ou irrelevante
para a vaga almejada. Cursos complementares de outras áreas ou outras
habilidades podem ser mencionadas em uma entrevista pessoal, por exemplo.
Tradutor
automático: nem pensar. Um erro comum cometido por muitos candidatos é colocar
as informações em português no tradutor automático. Nesse contexto, a
ferramenta não deve ser utilizada em hipótese alguma, a não ser que o material
possa ser revisado por alguém que tenha domínio no idioma, pois algumas
traduções saem erradas dependendo do contexto.
Gramática.
Cuidado com a gramática também é essencial: o uso do simple past e do present
perfect faz uma grande diferença e deve ser usado um ou outro. De acordo com
Peralta, o simple past é para situações que já aconteceram, que foram
concluídas, enquanto o present perfect indica que você ainda realiza aquela
função. É proibido misturar os dois tempos verbais: esse costuma ser um dos
principais indícios de que o candidato não domina o idioma. Um exemplo:
I work at xxxx for 3 years (errado) x I have worked at
xxxx for 3 years (correto)
Datas
e numerais. Também pedem atenção especial. No caso das datas, não confundir com
o formato brasileiro: em inglês, o mês vem primeiro, depois o dia. Nos
numerais, onde em inglês se usa vírgula, em português se usa o ponto — e
vice-versa. Exemplo:
1.000,00 (português) / 1,000.00 (inglês)
Ordem
direta e pesquisa de cargos. Outra dica importante é utilizar a ordem direta —
sujeito + verbo + complemento. Em português, é comum essa ordem inversa para
enfatizar o tempo (De 2000 a 2005, na empresa xxxx, eu trabalhei como....). O
uso de substantivos e adjetivos na ordem errada também costuma aparecer em
currículos e tirar candidatos de processos seletivos.
—
É essencial, ainda, verificar como dizer alguns cargos na língua do currículo.
Caso comum é o cargo de “analista de sistemas”: a tradução correta é system
analyst e não analyst of sistems — ensina o professor.
Fonte
O Globo Online