Os
antigos diziam “o futuro a Deus pertence”. Sem necessidade de polemizar sobre
termos, ou não, um destino traçado previamente, não custa nada tratarmos de
planejar nosso futuro. Evidentemente, sem prejuízo de aceitarmos de bom grado a
ajuda divina.
Apesar
de ser simpático à postura daqueles que deixam as coisas acontecerem, que
improvisam e não são muito fiéis aos compromissos, o fato é que organizar-se é
requisito básico do sucesso. Seja qual for a área, futebol, artes cênicas ou
Direito.
Na
verdade, tudo depende de qual projeto de vida se tem e aí começam os questionamentos.
Resumindo todos a uma só pergunta, vale questionar-se: “Onde quero estar daqui
a cinco anos?”
Esta
pergunta, regra geral, é feita pelos mais jovens. Porém, nada de discriminação,
vamos além dos jovens estudantes de Direito, alcançando ainda os mais maduros,
os que não perderam as ilusões na longa estrada da vida, aqueles cujos cabelos
embranqueceram, mas o brilho no olhar persiste.
Por
que cinco anos? A resposta é simples, em cinco anos espera-se que alguém já
tenha dado passos importantes em sua carreira e, se não os deu, possivelmente
não os dará em 10 ou em 20.
Comecemos
pelos jovens estudantes de Direito. Seja qual for o período que estejam a
cursar, é importante fixar metas e cumpri-las. Imagine-se que alguém esteja no
meio do curso, 5º período. Em cinco anos já terá dois anos de formado. Então,
no 5º período é bom estabelecer o seguinte: a) qual o limite de suas ambições
e, com base nisto, qual será a profissão escolhida? b) qual o estágio mais
conveniente a tal escolha? c) se o planejamento é de 5 anos, onde pretende
estar a cada ano?
A
escolha, regra geral, direciona-se à advocacia, ao magistério superior ou a um
concurso público.
Se
a opção for de advogar, é preciso levar em conta: a) quanto tempo será dedicado
ao estágio, quais os três melhores escritórios para tal finalidade e como fazer
para ser admitido; b) quanto tempo será reservado para o estudo direcionado ao
exame da OAB; c) qual área da advocacia será escolhida, a que, além de dar
prazer, permita uma sobrevivência com dignidade; d) será tentado o ingresso em
um escritório já consolidado ou será aberto um escritório próprio; e) nesta
última hipótese, quanto se gastará mensalmente (aluguel, IPTU, mobília,
telefone, secretária, estagiário, faxineira, água e luz); f) se for associar-se
a alguém, colocar em contrato como serão divididas as despesas e os honorários,
inclusive em caso de dissolução da sociedade; g) ainda em caso de sociedade, se
o futuro sócio é pessoa responsável, correta, trabalhadora; h) onde e como
espero estar na profissão escolhida daqui a cinco anos.
Parte
do grupo opta por concurso, geralmente por desejar mais segurança que sucesso
financeiro. E aí o encaminhamento é diverso.
Em
comum, todos os concursos têm o fato de que são difíceis. Não existe mais
concurso fácil, todos são disputados. Por isso, seja qual for a opção, é
preciso perguntar-se: a) quais serão as minhas opções de concurso? (sempre é
bom ter duas ou três); b) onde devo fazer o estágio, por quanto tempo e como
farei para ser admitido?; c) devo focar nas matérias mais exigidas nos
concursos escolhidos?; d) quem são e o que pensam os examinadores?; e) quantas
horas devo dedicar aos estudos a partir da minha formatura, a fim de concluir o
exame de todos os pontos?; e) farei concursos fora do meu estado, quais os prós
e os contras?; f) em quanto tempo espero tomar posse em cargo público?; g) como
me sustentarei durante esse período?
O
magistério superior tem despertado muito a atenção dos estudantes. A
remuneração melhorou, há boas perspectivas de trabalho, principalmente no
interior e na região Norte, e a Academia proporciona uma vida mais leve, não
exige o combate diário comum na advocacia. Aos que se direcionam para esta área
é preciso planejar e: a) além dos conhecimentos teóricos, fazer estágios para
ter conhecimento da realidade; b) participar de grupos de estudos e de projetos
de pesquisa (PIBIC); c) preparar um bom currículo, publicar artigos; d)
participar de projetos sociais promovidos pela Universidade ou fora dela; d)
habilitar-se para o mestrado, tendo em vista que tipo de pesquisa lhe desperta
interesse, qual a linha de pesquisa da Universidade e qual seria o professor
ideal para a orientação; e) aproximar-me dos professores que podem auxiliar
neste objetivo; f) ter conhecimento de línguas para as provas; g) informar-se
sobre bolsas de estudo; h) finalmente, perguntar-se como e onde quer estar 5
anos depois.
O
tempo passou, o estudante se formou e já completou 30 anos. Supõe-se que esteja
colocado profissionalmente. Mesmo assim, é preciso avaliar-se e programar-se.
Estou feliz? Sobrevivo sem a ajuda dos meus pais? Quais minhas chances de
evoluir profissionalmente? Nesta fase, fim da adolescência e início da vida
adulta, é preciso empenho. Atualizar-se em curso de pós-graduação, seja
especialização ou mestrado. Se estiver na advocacia, verificar as contas, o
número de clientes e as perspectivas de evoluir. Nas carreiras públicas, as
oportunidades de ascensão. Algumas geram frustração. O aprovado no cargo de
juiz federal substituto pode sentir-se estagnado por não ter qualquer
perspectiva de ser titular. Talvez seja a hora de estudar, escrever,
especializar-se em alguma área, atuar na associação, enfim, fazer algo além de
sentir-se vítima do sistema.
Passa
o tempo bem mais rápido do que se imagina. Aos quarenta as circunstâncias são
outras, muitas vezes casamento, filhos, pais ficando idosos, nos homens uma
calvície prematura e nas mulheres as indesejáveis “marcas da existência”, tudo
a tornar o tempo menor e as mudanças mais difíceis. Nesta fase já deve haver
estabilidade profissional. Por exemplo, se estiver lecionando, já deve ter
mestrado concluído, turmas organizadas, respeito na instituição, prestígio com os
alunos, doutorado concluído ou à vista, participação em atividades
administrativas, artigos e livros publicados. E daí mirar à frente e ver-se no
futuro. Como e onde estarei daqui a 5 anos? Tenho segurança quanto à minha
aposentadoria? Se não fiz plano de previdência privada, ainda dá tempo?
Após
os cinquenta as coisas já estão definidas. Dificilmente alguém que não se
realizou conseguirá satisfazer suas ambições. Mas isto, absolutamente, não deve
ser motivo para desânimo. Um Procurador Regional da República pode aspirar e
conseguir ascender a Subprocurador-geral e, em Brasília, enfrentar novos
desafios e renovar-se. E será bom programar-se: a) quanto tempo ficarei lá?; b)
vale a pena levar a família, tirar os filhos do seu “habitat”? Um desembargador
pode cogitar de concorrer ao STJ. É uma empreitada cara e trabalhosa. Deve
perguntar-se se é este realmente o objetivo de sua vida. Compensa a mudança? Se
achar que sim, e se este for o pensamento de sua parceira (ou vice-versa), deve
traçar um plano quinquenal, que inclui seguidas idas a Brasília, participação
em congressos onde estejam os que votam, contatos políticos para eventual fase
de indicação em lista tríplice e outras medidas. Se não der certo em 5 anos ou
mesmo em menor tempo, partir para novos planos. Inclusive, preparar-se para a
aposentadoria.
Os
sessentões ainda têm muito a fazer. Nos Tribunais muitos aspiram chegar à
presidência. Em alguns, a disputa é acirrada e quem vai para o embate político
deve adaptar-se ao sistema. Traçar um plano estratégico, que inclui convites
aos colegas, jantares, solidariedade nos momentos difíceis e atividades afins.
Uma tabela de metas, com datas para consumar cada passo, é uma medida
produtiva.
E
quem, da área jurídica no serviço público, chegar aos setenta anos e receber o
aviso constitucional de “vá para casa”, não precisa, só por isso, entregar-se a
lamúrias nostálgicas, incomodando os outros com as suas repetidas histórias.
Atualize-se, entre no Facebook, procure seus velhos amigos e, se tiver fôlego,
atue profissionalmente, mesmo que em serviço voluntário. Empreste toda a sua
experiência em benefício de seus amigos, parentes e do seu país.
Em
suma, ter planos, em qualquer idade, facilita a realização das ambições.
Programá-los de forma concreta, colocá-los no computador ou em local visível,
cobrar-se o cumprimento, tudo pode ser decisivo para um passo adiante e uma
vida melhor.
Por
Vladimir Passos de Freitas
Fonte
Consultor Jurídico