Em 20 anos, as células-tronco do sangue de cordão já foram utilizadas para substituir o transplante de medula óssea
A corrida desenfreada para registrar as patentes dos tratamentos está causando obstáculos ao progresso científico
Por meio do congelamento, o ser humano encontrou uma maneira de preservar o que o tempo degenera. Depois de dominar a conservação de alimentos, o homem aprimorou técnicas que permitem congelar formas de vida, protegendo-as do envelhecimento e da morte.
O congelamento de unidades vivas, tais como as células-tronco, é um exemplo de como a ciência pode ajudar o ser humano. Estas células, base da chamada Medicina Regenerativa, podem ser utilizadas para reparar tecidos danificados e tratar enfermidades incuráveis como câncer, lesões da medula espinhal, diabetes, entre outras.
Em 20 anos, as células-tronco do sangue de cordão já foram utilizadas para substituir o transplante de medula óssea, no tratamento da leucemia, linfoma, e algumas enfermidades imunológicas. Graças a pesquisas em andamento, podemos esperar que, num futuro próximo, essas células sejam utilizadas no tratamento de doenças cardíacas, neurológicas e endócrinas.
Apesar do seu potencial revolucionário, os problemas com o manuseio das células-tronco em embriões levaram especialistas de diversos países a optar pelo sangue do cordão umbilical, que é regenerativo e não compromete os princípios da bioética. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, existem bancos privados dedicados exclusivamente a esta tarefa, como a Criogênesis, com 10 anos de existência e pioneira do País no armazenamento do sangue do cordão umbilical.
Após o parto, geralmente o cordão umbilical é descartado pelas equipes de obstetrícia. Hoje, existe a opção de coletar e armazenar as células do cordão após o nascimento. O procedimento é totalmente seguro, pois o sangue só é retirado após a separação do bebê e da mãe. Os pais que optam pelo congelamento do sangue do recém-nascido, estão, na verdade, fazendo um backup celular, que poderá no futuro garantir o tratamento de várias doenças. A finalidade é garantir ao doador uma reserva celular 100% compatível.
Com relação às doenças da medula óssea, a dificuldade de se encontrar doadores compatíveis é expressiva, principalmente no Brasil, devido à intensidade da miscigenação racial. A chance de compatibilidade entre irmãos é de 25% e entre não aparentados é de somente 0,000025%. O sangue de cordão torna-se uma opção estratégica nas famílias atuais que possuem um único filho.
A utilização das células-tronco provenientes da placenta para transplante apresenta inúmeras vantagens em relação à utilização de medula óssea, pois são mais jovens, disponíveis imediatamente, possuem menor potencial de rejeição e são coletadas de maneira não traumática e indolor.
O armazenamento das células-tronco, além de servir para uso próprio, pode também beneficiar parentes próximos, principalmente irmãos. Com as células criopreservadas, há garantia de rapidez no tratamento e não há riscos de rejeição após o transplante caso elas sejam do próprio doador. Em 1988 foi realizado, com sucesso, o primeiro transplante de medula óssea feito com células do cordão umbilical. Desde então, mais de 15.000 procedimentos já foram realizados em todo o mundo.
Por Dr. Nelson Tatsui é hematologista, médico do Hospital das Clínicas e do setor de transfusão e coleta de células-tronco da Faculdade de Medicina da USP e diretor técnico da Criogênesis.
Fonte Exame.com