sexta-feira, 16 de agosto de 2013

EMPRESAS PAGAM MAIS POR INDICAÇÃO DE CANDIDATOS


Com a falta de talentos no mercado, mais empresas estão pagando seus funcionários para indicarem profissionais para vagas descobertas. Os prêmios em dinheiro variam de R$ 300 a R$ 4 mil e, em algumas companhias, até 50% das posições já são preenchidas com a ajuda de sugestões internas. Nos últimos dois anos, os valores das recompensas dobraram em organizações que conseguiram, graças à nova prática, economizar até R$ 30 mil, ao ano com serviços de recrutamento.
Na HP, do setor de TI, 43% das vagas são fechadas por meio de recomendações dos empregados, com prêmios que vão de R$ 360 a R$ 2,8 mil. "A estratégia foi adotada nos último cinco anos e, em 2010, cem posições foram ocupadas dessa forma", afirma Antônio Salvador, vice-presidente de recursos humanos.
O valor do prêmio varia de acordo com o salário do profissional que indica e importância da vaga. Este ano, de janeiro a agosto, a multinacional contratou 77 profissionais por meio de indicações e 30% do total eram para posições de liderança.
O método é usado, principalmente, em funções mais críticas, com pouca oferta de mão de obra. "Da gerência sênior para cima, como as responsabilidades são maiores, consideramos também o histórico profissional dos candidatos."
Segundo Salvador, a prática gerou bons resultados, pois é uma das formas mais eficazes de contratação. "Quando um funcionário indica um nome, já pensa em alguém que se identificará com a empresa." O objetivo da HP é elevar o percentual de contratações com o modelo de recompensas para 60% nos próximos anos. A área de RH observou que, com o procedimento, a margem de erro nas admissões também tende a cair.
"O aumento do número de indicações foi um dos fatores que ajudaram a diminuir o turnover de 21% para 14% em um ano", ressalta. Salvador também acredita que é mais barato investir em políticas de indicação do que contratar empresas de headhunting. O objetivo, no entanto, não é reduzir custos, mas aumentar o nível de adaptação dos profissionais que se candidatam, acelerar o engajamento dos funcionários - que reforçam laços com a organização - e preencher colocações com mais rapidez.
Com a política de recomendações, o tempo médio de recrutamento caiu de 60 para 42 dias por conta do filtro inicial realizado pelos funcionários veteranos. Hoje, a área de RH recebe de uma a duas indicações para cada vaga gerencial aberta.
Na Ernst & Young Terco, que usa a prática desde 2001, 360 vagas abertas no ano passado foram ocupadas com a ajuda de outros colaboradores - 16% eram posições gerenciais. Este ano, até o mês de julho, 201 colocações na consultoria foram efetivadas dentro do modelo e 14% para cargos de comando. Os pagamentos em dinheiro valem para sugestões de auditores, consultores e até diretores e podem chegar a R$ 4 mil. "Independentemente da forma de recrutamento, o processo seletivo é rigoroso, o que minimiza erros de contratação", diz Armando Bordallo, diretor de RH da Ernst & Young Terco.
O método faz sucesso entre os funcionários. Segundo Bordallo, as equipes têm orgulho de 'vender' a empresa. Prova disso é que, há dois anos, o valor dos prêmios era metade do atual e a empresa pretende aumentar a participação desse formato nos processos seletivos.
A SAP, da área de software, é outra veterana de programas de indicações de profissionais e usa a fórmula há mais de dez anos. "Todas as oportunidades são divulgadas em um portal corporativo, aberto a sugestões", explica a diretora de RH Paula Jacomo. "É a maior e melhor fonte de recrutamento da companhia." Metade das vagas na empresa são preenchidas com o método, principalmente nas áreas de vendas, serviços e consultoria.
Segundo Paula, a política ajuda a reduzir a margem de erro nas contratações, pois o funcionário da casa já sabe se o futuro colaborador tem o perfil do time onde vai trabalhar. "As pessoas sentem-se responsáveis pela indicação, tanto do lado da companhia, como pelo novo empregado." O prêmio em dinheiro para quem indicou é oferecido após os três primeiros meses de trabalho do profissional indicado, prática comum na maioria das empresas. Apesar de não divulgar o valor da recompensa, Paula garante que o montante dobrou nos últimos dois anos.
Para Eduardo Pellegrina, diretor de RH da Itautec, as indicações funcionam principalmente em posições de gerência ou superior. "Quem indica já faz parte da cultura da empresa e oferece sugestões mais próximas à identidade da organização."
A companhia de 5,8 mil funcionários aderiu ao procedimento há três meses e 10% das vagas já são ocupadas com o apoio do quadro - 90% do total de currículos foram para posições-chave. Até agora, a novidade funcionou bem: do total de cadeiras preenchidas por sugestões, quase 100% resultaram em admissões efetivas. O prêmio é de R$ 500.
Na ABB, multinacional do setor de tecnologias de energia e automação, os bônus em dinheiro foram instituídos este ano no Brasil. A empresa de origem suíça não revela o valor concedido às indicações e, de abril a agosto de 2011, preencheu 60 colocações nesse modelo. "A indicação premiada está concentrada nas posições estratégicas, mas vamos ampliar a oferta para todos os níveis", explica Osvaldo Esteves, diretor de desenvolvimento humano da ABB, com cerca de quatro mil funcionários no país. De acordo com uma pesquisa interna, 95% dos funcionários disseram que indicariam um colega, amigo ou parente para trabalhar na companhia. "É possível eliminar algumas etapas do processo de seleção, pois o candidato já vem com uma boa referência, que é o próprio funcionário", afirma. "A política de indicações cria um ambiente mais amistoso e tem impacto direto nas equipes." Do total de recomendações recebidas, cerca de 50% resultaram em contratações.
As organizações de menor porte também estão recorrendo a essa ferramenta. Com 110 funcionários, a iFactory, com operações na área de TI no Brasil, Chile, México e Estados Unidos, passou a reconhecer a chegada de bons currículos a partir de 2009.
Hoje, 35% das colocações são fechadas por meio de indicações. "Com a ajuda de canais de relacionamento como Twitter e Facebook, os colaboradores divulgam as vagas disponíveis para sua rede de contatos e o retorno é quase imediato", diz Adriano Patrão, sócio-diretor da companhia. O prêmio para os funcionários que indicam novos colegas é de R$ 300. "Recebemos sete indicações, em média, para cada vaga gerencial."
A empresa também criou um programa de "apadrinhamento" de novos funcionários. Isso significa que um colaborador fica responsável, voluntariamente, por alinhar os processos da empresa com o novo contratado e ajudá-lo no que for preciso. "O padrinho costuma ser quem indicou o profissional. Dessa forma, a integração também ficou mais rápida."

Por Jacílio Saraiva
Fonte Veja Econômico