Para a medicina, vigor depende em grande parte das
pequenas escolhas diárias
O
tempo do vovô de 60 anos na cadeira de balanço ficou para trás. Os brasileiros
hoje entram na sexta década de vida cheios de vigor físico e mental. Estão nas
redes sociais, viajam, namoram, praticam esportes e ainda trabalham. Eles fazem
parte de um contingente em crescimento. A expectativa de vida no Brasil ganhou
13 anos somente de 1980 para cá: passou de 62,5 para os atuais 75,2, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E vai
continuar aumentando. Em 2060, deve chegar a 80,2 anos. O número de centenários
no mundo deve crescer 1000% de 2010 a 2050, de acordo com a Organização das
Nações Unidas (ONU). Com essa arrancada sem precedentes no envelhecimento da
humanidade, criou-se um novo termo para se referir à população com mais de 80
anos: quarta idade.
Envelhecer
saudável e continuar praticando atividades diversas, como trabalho e lazer, é
um ideal para 74% da população brasileira, segundo a pesquisa “O que é para o
brasileiro viver ao máximo”, realizada em 2015 pela Abbott, empresa global de
cuidados para saúde. Em grande parte, a maneira como um indivíduo avançará as
décadas está em suas mãos. Calcula-se que a genética seja responsável por 30%
da saúde de uma pessoa. Os outros 70% se dividem entre hábitos e componentes sociais,
como acesso à educação e a serviços médicos.
Envelhecimento
“Ter
qualidade de vida na velhice é possível e depende de uma série de atitudes que
a pessoa adota desde a juventude.”, aponta Omar Jaluul, geriatra do Hospital
das Clínicas e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. O médico explica
que o próprio conceito de saúde a partir da terceira idade foi redefinido.
“Hoje falamos em envelhecimento ativo, que é a capacidade de o idoso viver com
autonomia e independência. Não existe fórmula mágica para alcançar essa meta,
mas sim um conjunto de ações que inclui comer bem, fazer exercícios, não fumar,
beber com moderação, monitorar o peso, controlar doenças, cuidar das finanças e
cultivar vínculos sociais e afetivos.”
Uma
das diretrizes do envelhecimento ativo é a dieta. A alimentação equilibrada
preserva a forma física e afasta doenças. Frutas, verduras e legumes fornecem
vitaminas e sais minerais ao organismo, enquanto os cereais são ricos em
carboidratos, que dão energia. Nas carnes, derivados de leite e ovos estão
proteínas, lipídios, ferro e cálcio, essenciais para o funcionamento do sistema
musculoesquelético. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), até
20% dos casos de câncer são causados pela alimentação. A entidade sugere que uma
dieta rica em alimentos naturais e pobre em comidas ultraprocessadas e bebidas
açucaradas pode prevenir de 3 a 4 milhões de novas ocorrências da doença por
ano no mundo.
Exercitar-se
é outro mandamento da qualidade de vida. Segundo a Associação Brasileira de
Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso), ter a massa esquelética robusta
colabora na prevenção da osteoporose, distúrbio que afeta uma em cada três
brasileiras com mais de 50 anos. O treino preserva ainda a saúde cardiovascular
e pulmonar, a cognição e a mobilidade. Aliado à dieta, ajudará a pessoa a ter
um índice de massa corpórea (IMC) normal e a regular a taxa de colesterol e a
pressão arterial, afastando males associados à obesidade, tais como diabetes,
doenças do coração e alguns tipos de câncer. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda também tarefas intelectuais, que estimulam o cérebro e
preservam a mente. Vale ler, estudar, tocar um instrumento ou engajar-se em um
passatempo totalmente novo. “De preferência, ações que incluam a interação com
outras pessoas. Um simples bate papo estimula várias áreas do cérebro.”
De
acordo com Jaluul, os elos sociais são fundamentais. “Já está provado que
indivíduos com vínculos sociais, afetivos e familiares fortes vivem mais e têm
menos risco de desenvolver Alzheimer do que aqueles com menos suporte nessa
área.”
A importância da proteína na terceira idade
Quem
já passou dos 40 sabe: fica mais difícil emagrecer com o avançar do tempo.
Dessa idade em diante, as pessoas podem perder cerca de 8% da massa magra a
cada década. O corpo, naturalmente, tende a trocar músculo por gordura. Mas é
possível retardar esse processo com alimentação adequada e prática de
exercícios.
Na
mesa, é preciso ficar atento à quantidade de proteínas consumida. Presente em carnes,
ovos, leite e vegetais como soja e amêndoa, esse nutriente é o combustível para
a formação de músculos. No entanto, é comum que idosos deixem esse poderoso
aliado de lado. “A proteína é mais cara, difícil de digerir e trabalhosa de
preparar do que o carboidrato”, observa o geriatra Omar Joluul. “Idosos
costumam abusar de massa e pão, que são gostosos, fáceis de fazer e dão
saciedade. O resultado é que a dieta fica pobre e a perda de massa muscular se
acelera.”
Treinos
de musculação também são essenciais para ganhar massa magra. “É preciso ter
força nas pernas para levantar da cadeira, subir escadas e sair do vaso
sanitário. O quadríceps na coxa é o músculo que ajuda o idoso a caminhar e a
entrar no carro”, afirma o geriatra.
Fonte
Estadão