É
natural que o consumidor ouça conselhos de amigos, parentes e até consultores
sobre como deve gerenciar as suas finanças. Mas essas recomendações devem ser
sempre analisadas com cuidado. Algumas, de tão repetidas, soam como regra
absoluta, mas não são verdadeiras ou válidas em qualquer situação.
Construir
um patrimônio sólido requer que o consumidor entenda que não existem fórmulas
prontas para enriquecer. Situações imprevistas e mudanças no cenário econômico
exigem que esses planos sejam adaptados constantemente. Nesses casos, não dá
para continuar a seguir uma recomendação que deixou de fazer sentido.
Veja
abaixo alguns conselhos financeiros que, ao invés de ajudar o consumidor a
acumular dinheiro, podem acabar gerando prejuízos.
1) Imóvel é o investimento mais seguro
A
afirmação de que comprar um imóvel para obter rentabilidade com aluguéis é o
investimento mais seguro está longe de ser verdadeira.
É
o que diz Fábio Gallo, professor de finanças da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). "Assim como qualquer outro investimento,
comprar imóveis para obter retorno financeiro tem diversos riscos. Apesar de o
investimento inicial ser alto, não é possível ter garantia da rentabilidade que
o comprador pretende obter com o aluguel do espaço ou sobre a valorização do
imóvel".
Geralmente,
para compensar o investimento, é necessário obter um retorno mensal com
aluguéis que fique entre 0,5% a 0,7% do valor do imóvel. Mas, com o aumento dos
preços de casas e apartamentos no país nos últimos anos, quem comprou a unidade
por um preço alto tem mais dificuldades para obter essas rentabilidades agora,
diz o professor da PUC-SP. "O enfraquecimento da economia diminuiu a
demanda por locação e compra de imóveis, o que provoca queda de preços no
mercado".
Mesmo
que o proprietário da unidade consiga obter essa faixa de rentabilidade na
locação da unidade, Gallo aponta que, historicamente, é possível conseguir
retornos iguais ou superiores no mercado financeiro.
Entre
as aplicações mais conservadoras, o investimento em imóveis tem uma
desvantagem: pouca liquidez. É mais difícil vender a casa ou apartamento do que
um título financeiro, por exemplo, principalmente se o investidor insistir em vender
a unidade por um determinado valor.
2) Quebre seus cartões de crédito
Quem,
ao passar por um descontrole financeiro, nunca ouviu a recomendação de que a
melhor coisa a fazer é se livrar do cartão de crédito? A não ser que você seja
um consumidor compulsivo, o plástico não deve ser visto como a personificação
de todos os males que prejudicam o orçamento.
Se
utilizado de forma controlada, o cartão de crédito pode, na verdade, ser um
instrumento de planejamento financeiro, diz Gallo. "Ao dividir o pagamento
de compras que não podem ser adiadas, o consumidor consegue controlar os seus
gastos".
O
segredo, diz o professor de finanças, é utilizar o plástico apenas quando
houver necessidade. "O consumidor não precisa esperar para pagar uma
máquina de lavar à vista, por exemplo, contanto que as parcelas da compra
caibam no seu orçamento".
3) Economize 10% do seu salário para a aposentadoria
O
consumidor se depara com diversas fórmulas para saber quanto economizar para
ter uma boa renda na aposentadoria. A mais recorrente é a de que economizar 10%
do salário seria suficiente para atingir esse objetivo. Mas essa recomendação
serve apenas como um estímulo, e não deve ser seguida ao pé da letra.
O
porcentual não leva em consideração, por exemplo, a idade e o valor do salário
do investidor. Uma coisa é juntar 500 mil reais em 30 anos. Outra é desejar
acumular o mesmo valor em apenas dez anos. No segundo caso, será necessário
guardar muito mais dinheiro, o que irá exigir que o consumidor tenha uma renda
maior ou diminua drasticamente os seus gastos.
O
mais indicado, diz Gallo, é estabelecer um valor que se deseja receber durante
o período da aposentadoria. Definida essa quantia, é possível estimar quanto
será necessário investir por mês para obter o montante. "Feita essa
estimativa, o consumidor pode ter de guardar 3% ou 50% do que ganha para
atingir a meta, dependendo do seu salário", afirma o professor da PUC-SP.
É
importante que os valores não sejam fixos. Se há um dinheiro sobrando durante
determinado período, o consumidor deve aumentar o volume investido. Assim, em
caso de uma eventual perda de renda, poderá diminuir ou suspender a aplicação
dos valores até que o orçamento volte a ficar equilibrado, sem que essa
interrupção tenha impacto no valor da reserva para a aposentadoria.
4) Diversifique as aplicações financeiras
Diversificar
investimentos é uma estratégia frequentemente recomendada por consultores
financeiros. No entanto, o conselho não é válido para qualquer investidor. A
estratégia só faz sentido para quem já tem uma quantia razoável aplicada.
Dividir
o valor investido entre mais de uma aplicação tem como principal objetivo
diluir riscos e ampliar a possibilidade de ganhos. Quem tem pouco dinheiro para
investir deve ter como foco inicial investimentos mais conservadores. Mesmo
porque é difícil que o pequeno investidor consiga acessar aplicações mais sofisticadas
e rentáveis.
5) Investir é sempre o melhor caminho
Aplicar
dinheiro apenas porque é indicado, sem ter um objetivo definido, pode não valer
a pena. Acumular dinheiro não deve ser encarado como uma meta, mas como um meio
de realizar projetos.
Para
quem está iniciando a carreira, por exemplo, pode compensar mais gastar o
dinheiro que seria poupado em cursos e viagens com o objetivo de aperfeiçoar
habilidades profissionais. O retorno desses investimentos pode ser maior do que
a rentabilidade registrada em uma aplicação financeira.
6) Preços em queda? É hora de comprar
Quantas
vezes você já não ouviu, após uma queda expressiva dos índices da bolsa de
valores, que os preços das ações estão uma pechincha e é hora de comprar?
Aplicar
dinheiro na baixa para vender na alta é uma máxima que exige cautela. Afinal, é
necessário analisar se a queda de preços de um investimento já atingiu o fundo
do poço e quando deve voltar a se recuperar.
Basta
lembrar casos como o da OGX, petroleira do ex-bilionário Eike Batista. A ação
da empresa, que chegou a valer 23,29 reais, começou a registrar queda diante de
denúncias de irregularidades e problemas financeiros. Nesse momento, alguns
investidores, confiantes no futuro da companhia, optaram por comprar mais
papéis, esperando retornos maiores quando os preços voltassem a subir. Mas a
empresa acabou pedindo recuperação judicial e passou a enfrentar uma série de
processos na Justiça. Resultado: as ações passaram a valer centavos, e os
investidores continuam a esperar pelo retorno da aplicação.
7) Pagar uma faculdade sempre compensa
O
investimento em uma faculdade é sempre válido, pois garante melhores empregos e
maiores salários? Do ponto de vista financeiro, dependendo da instituição de
ensino e curso escolhido, esperar essa compensação, principalmente em um prazo
curto, é arriscado.
Caso
o estudante ainda tenha de financiar o pagamento das mensalidades, esse risco
aumenta ainda mais, pois será necessário adicionar ao valor das mensalidades as
taxas de juros cobradas na linha de crédito escolhida.
Se
a opção for por uma carreira com mercado de trabalho saturado, pode ser mais
difícil conseguir um bom emprego e, como consequência, conseguir obter o
retorno do investimento. Por outro lado, conseguir cursar uma universidade de
renome pode ampliar as chances de ter essa compensação.
Um
estudo feito pela Payscale, consultoria americana que compara salários, em 2014
aponta que o retorno financeiro obtido por estudantes de instituições de ensino
americanas renomadas, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), pode
chegar a 2 milhões de dólares em 30 anos, enquanto a compensação obtida ao
optar por faculdades com baixa classificação pode ser de apenas 148 mil dólares
nesse mesmo prazo.
Ou
seja, o estudante consciente da escolha da carreira e instituição de ensino e
que evita tomar empréstimos para concluir os estudos terá maiores chances de
obter o retorno financeiro do investimento.
Por
Marília Almeida
Fonte
Exame.com