quinta-feira, 3 de agosto de 2017

VEJA CINCO HÁBITOS RUINS QUE PODEM PREJUDICAR SUAS FINANÇAS

Especialistas comentam as armadilhas que fazem diferença nas finanças pessoais

Quando o assunto é dinheiro, é difícil ser racional e certinho o tempo todo. Uma tentação aqui, uma exceção em outro gasto ali e pronto. Uma brecha foi aberta para as emoções influenciarem a decisão sobre o que fazer com o dinheiro, seja ela importante ou corriqueira. Pode ser o próprio impulso de comprar um produto cujo preço extrapola demais a renda. Ou a ilusão de achar que teve um excelente retorno em um investimento ou aplicação que apenas corrigiu a inflação do período.
O que dizer, ainda, do péssimo hábito de usar o cheque especial com o dinheiro guardado na poupança? Especialistas comentam as cinco armadilhas que fazem diferença nas finanças pessoais. Primeiro é preciso percebê-las e, depois, adotar técnicas para evitá-las. Veja:

Consuma como rico se produzir como rico
Não adianta. Se a renda é uma só, os gastos terão de respeitar esse limite. É como o fluxo de caixa de uma empresa. A receita deve ser capaz de honrar despesas, e se ocorre o oposto é hora de usar a tesoura.

Empresário ou empregado devem ajustar os gastos com a renda. “Se quiser consumir como um rico precisará produzir como um rico. Se for necessário, pense em estratégias para aumentar a geração de receita, ou fazer atividades extras”, diz Richard Rytenband, economista e especialista em investimentos.
Ignorar essa regra e manter um padrão de vida incompatível com a renda mensal representa acumular dívidas. Uma forma de evitar esse erro, que não é exatamente um hábito, é colocar tudo no papel e fazer um orçamento para visualizar a entrada e saída de recursos.

Olhe a inflação antes de achar que o dinheiro está rendendo muito
Os tempos da hiperinflação, quando o ritmo de aumento do índice de preços andava sempre na casa dos dois, três e quatro dígitos, deixaram uma ilusão na memória de quem viveu a década de 80 e o comecinho dos anos 90. “Quem viveu naquela época tem a sensação de que a inflação de hoje, perto dos 7% ao ano, é baixa. E, com isso, esquece o efeito que ela provoca no longo prazo”, afirma André Massaro, consultor e educador financeiro.
Por isso, um hábito ruim é o de olhar apenas para o valor ou rendimento nominal e não o real, que é aquele descontado da inflação. Rytenband diz que isso pode acontecer ao olhar a rentabilidade da poupança ou de outra aplicação financeira. Para se ter uma ideia, em 2014, a rentabilidade anual da caderneta foi de 7,08%, mas ao descontar a inflação de 6,41% do período, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o retorno foi bem menor, de 0,63%.
Outro exemplo mencionado por Rytenband, sobre como essa ilusão age na avaliação de investimentos, é o de quem comprou um imóvel por R$ 200 mil em 1995 e hoje vendeu por R$ 800 mil, pensando que teve um ganho muito expressivo, quando na verdade a diferença entre os valores apenas foi corrigida pela inflação do período.
Para evitar essa ilusão não tem outro jeito. Antes de julgar se um valor ou rendimento foi realmente vantajoso é preciso calcular.

Fuja das contas mentais
De todos os hábitos nocivos, a contabilidade mental é a mais maliciosa, porque surge sem que a pessoa perceba. É a separação do dinheiro em compartimentos, com base na origem dele. Um tipo de contabilidade mental é o que leva a pessoa a colocar, todo mês, parte da renda na poupança e ao mesmo tempo utilizar o limite do cheque especial.
Ela acha que ao aplicar o dinheiro está tendo rendimentos e tem uma sensação positiva. Mas, de um lado ganha um rendimento de apenas 0,5% ao mês mais Taxa Referencial (TR), e de outro paga para o banco uma taxa média de 10,37% ao mês (segundo pesquisa do Procon) pela utilização do limite do cheque especial.
Não faz sentido matemático, mas está no comportamento. Adriana Rodopoulos, economista e sócia-fundadora da Oficina de Escolhas, explica que esse fenômeno está relacionado a outra armadilha comportamental, que é a autoconfiança excessiva, ou seja, o pensamento de que lá na frente - no fim do mês, do ano, ou da vida - será possível colocar a bagunça das finanças em ordem.
“É a lógica da resolução de Ano-Novo, de fazer algo que não conseguiu no ano que começa, ou na próxima segunda-feira. Para sair disso, a pessoa precisa ter a consciência de que não consegue resolver os problemas e buscar uma solução agora, sem jogar para o futuro”, recomenda.
No caso das finanças pessoais, Adriana sugere que se faça um controle do orçamento semanal. Será preciso anotar os gastos e compará-los ao salário correspondente a sete dias.
“A pessoa precisa descobrir quanto ganha por semana porque isso afeta a percepção na hora de gastar. Fazer a planilha de um mês é bom, mas é muito tempo. Em 30 dias, as contas mentais viram uma verdadeira bagunça na cabeça”, afirma.
Além disso, com a avaliação semanal, a pessoa consegue perceber se evoluiu, ou seja, se conseguiu economizar, e pode ter uma sensação de recompensa. “É uma forma de prevenir a falta de dinheiro e, assim, de não recorrer ao limite do cheque especial”, diz.

Recebeu doação ou herança? Aja como empreendedor
Rytenband diz que uma armadilha acomete a pessoa que recebeu doação ou herança. Com medo de se responsabilizar pelo retorno futuro do que recebeu, tende a ficar paralisada, sem fazer ajustes com base no melhor risco e retorno.
“É o efeito doação, que induz a pessoa que recebeu imóveis ou carteira de investimentos como herança a não conseguir atualizar esses bens, de modo que eles possam continuar gerando retorno”, explica.
Segundo ele, esse é um hábito comum. Acontece com quem recebe imóveis em herança e não avalia se eles estão em bairros que passam por algum processo de desvalorização. Assim, não vende e vê o bem perder valor.
“Ou mesmo pessoas que recebem uma carteira de aplicações em herança e não mexem, não avaliam as mudanças de cenário que tornam ruins algumas categorias de investimentos. No fundo, não querem se responsabilizar e têm medo de dilapidar o patrimônio”, diz.
O que acaba acontecendo, na maioria dos casos, é que o patrimônio acaba sendo reduzido, com retiradas de herdeiros e nenhuma gestão dos recursos. O conselho de Rytenband é ter uma postura empreendedora diante de doações e heranças, para dar continuidade à evolução do patrimônio que o parente se esforçou em construir.

Poupar é bom, mas investir é melhor
Poupar é uma coisa, investir é outra. Adriana, da Oficina de Escolhas, diz que o hábito de guardar dinheiro todo mês deve ser feito por meio do recurso de aplicação automática que os bancos disponibilizam. “Defina uma data no começo do mês para que o dinheiro vá automaticamente para a poupança. Primeiro pague a si mesmo”, recomenda.
Depois que vira hábito, a pessoa toma gosto por guardar dinheiro. E aí vem o próximo passo: fazer o recurso crescer. Para isso, é preciso alocá-lo em investimentos ou aplicações financeiras.
Rytenband diz que o investidor deve buscar aplicações que superem a inflação e não se acomodar com o dinheiro guardado na caderneta. “Caso contrário estará apenas mantendo o poder de compra e o esforço de se privar do consumo terá sido em vão”, diz.
Adriana explica que o segundo passo após criar o hábito de guardar dinheiro é procurar um consultor financeiro ou alguém de confiança, em banco ou corretora, para uma conversa. “Eu diria que é preciso buscar uma orientação de acordo com o seu perfil e fase da vida. Principalmente é preciso descobrir qual o perfil de risco e o prazo que pode esperar pelo retorno”, diz.
As instituições financeiras aplicam o questionário de Análise de Perfil do Investidor (API) para verificar se a pessoa tem perfil de risco conservador, moderado ou agressivo. Mas é sempre bom fazer uma reflexão pessoal sobre os próprios limites.
Adriana recomenda que se pergunte, primeiro, se pode perder o valor a ser investido em uma aplicação sem que tenha problemas financeiros e orçamentários. “Mesmo que possa perder, a pessoa aguenta o tranco internamente? Tem gente que não suporta a perda. Essa pergunta ajuda a ter uma ideia sobre o perfil de risco”, diz.
Outras questões boas, principalmente para as pessoas que detectam que precisam de aplicações de baixo risco, referem-se ao prazo. “Tenho tempo para esperar o retorno da aplicação? Tenho condições de esperar por quanto tempo? Vou aguentar?”.
Adriana diz que a pessoa precisa saber o prazo que consegue esperar para que não fique pulando de aplicação em aplicação e, desta forma, perdendo dinheiro com impostos e taxas. “A gente não nasce sabendo perder e esperar. É bom fazer essa autoavaliação para ir treinando, como se faz em musculação, para ganhar resistência”, conclui.

Por Rejane Tamoto
Fonte Terra Economia