É um fato óbvio que, a cada dia, mais e mais
mulheres superam séculos de dominação masculina e discriminação de gênero no
trabalho. Mas também é um fato, bem mais sutil, que muitas mulheres ainda
sabotam as próprias carreiras. Via de regra, inadvertidamente. Algumas
atitudes, tomadas pelas mulheres (e, algumas vezes, por homens também), impedem
sua progressão até os cargos de direção das organizações, dizem as
especialistas em lideranças femininas Jill Flynn, Kathryn Heath e Mary Davis,
em um artigo para o blog da Escola de Negócios da Universidade de Harvard.
As autoras chegaram a essa conclusão depois de
estudar um levantamento em que mais de mil mulheres foram entrevistadas. Nas
entrevistas, muitas reconheceram que ainda lutam contra o problema de baixa
autoconfiança. Essa percepção existe, mas não é certamente a única barreira
para o sucesso. Às vezes o problema é uma atitude errada. Ou mesmo uma bobagem.
As autoras apontam algumas delas:
Ser modesta demais
As pesquisas indicam que os homens são mais afoitos
na tarefa de se atribuir crédito por sucessos no trabalho. As mulheres, na
maioria, acreditam que suas realizações falam por si mesmas. E não tomam
iniciativas para assegurar que uma estrela de ouro seja colocada ao lado de
seus nomes figurativamente. Embora a modéstia seja uma virtude admirável, no
trabalho ela deve ser colocada em seu devido lugar: à parte. É uma ingenuidade
pensar que o chefe, os clientes da firma ou os colegas vão se encarregar de
promovê-la, espontaneamente, todas as vezes que fizer um grande trabalho.
Existem maneiras discretas de se atribuir crédito. Celebrar cada sucesso com o
chefe e com os colegas é uma delas.
Não formular o pedido de
promoção
Isso acontece sempre e nunca deixará de acontecer,
dizem as autoras. Mulheres não são promovidas simplesmente porque não formulam
o pedido de promoção – ou não o fazem de maneira clara. Dificilmente as coisas
acontecem de uma forma diferente. Não formular o pedido significa perder a
oportunidade de influenciar o desfecho do processo de promoção. É preciso
deixar claro aos superiores: Quero essa promoção pelas seguintes razões (...).
Essa é a história de Sharon Allen, desde 2003
presidente da Deloitte & Toche dos EUA. Ela aprendeu essa lição da maneira
mais dura. Provavelmente, o talento mais estelar da firma, ela ficou surpresa
quando recebeu a lista de promoções e não viu seu nome nela. Ela matutou sobre
isso por um dia, depois bateu na porta do chefe, para discutir as promoções.
"Veja, eu fiz isso, isso, aquilo e mais aquilo, fora isso e mais aquilo e
não fui promovida. Como o senhor pode explicar isso?" "É fácil,
Sharon", disse o chefe. "Eu não sabia que você havia feito tudo isso!
Você nunca me contou! Além disso, você não me pediu para ser promovida".
Ela chegou à Presidência da firma porque isso nunca mais aconteceu.
Resistência a
"aparecer"
Muitas mulheres fazem o que podem para não chamar a
atenção. Não querem "aparecer" em reuniões, na sala de diretoria, em
seminários, nem mesmo no elevador. Uma cliente das autoras lhes confessou que
temia pegar o elevador junto com diretores da firma. O que iria lhes dizer?
Falar sobre o tempo? Outra cliente abriu caminho para sua progressão funcional
fazendo exatamente o oposto: aproveitando "oportunidades" para pegar
o elevador junto com alguns dos diretores. Se esconder significa perder
oportunidades, dizem as autora, "aparecer" ajuda a abrir portas.
Permanecer em silêncio
Às vezes, pode não ser fácil falar durante uma
reunião, especialmente quando pessoas mais bem posicionadas na firma estão
disputando os espaços. Mas, deixar de falar e de expressar suas ideias,
propostas e projetos significa perder oportunidades de entrar no jogo. Fazer
com que seus pontos de vista sejam ouvidos durante discussões importantes é
essencial para a carreira de qualquer um.
História de superação
F. L. Smith, em um comentário sobre o artigo, contou
resumidamente sua história de única mulher negra de uma organização. O CEO da
firma gritou com ela, quando ela formulou seu pedido de promoção, com base no
fato de que seu trabalho havia economizado mais de US$ 100 mil para a firma.
Quando ela quis fazer mestrado em uma universidade, seu supervisor se recusou a
lhe dar uma carta de referência. Ainda se queixou de que ela se mostrava
excessivamente confiante e exibia sua arrogância profissional até em seu modo
de vestir. Ela pediu a carta ao dono da firma e conseguiu. Aprovada no
mestrado, nem assim foi promovida. Conseguiu o cargo que queria em outra firma
– e pronto. "Preconceitos? Que se danem os preconceitos e os
preconceituosos. Não perco tempo com lamentações. Vou à luta pelo que quero,
consigo e fim de história", disse.
Por João Ozorio de Melo
Fonte Consultor Jurídico