De início, uma provocação: apto, capaz ou competente?
O
bacharel obteve a aprovação no exame da OAB. Portanto, está apto a advogar. Mas
será que ele é mesmo capaz de fazê-lo? Talvez sim, talvez não. Vamos considerar
que sim, pelo menos após algum tempo de prática. Em sendo capaz, ele pratica a
advocacia com excelência? Talvez sim, talvez não.
O
fato de um profissional ser apto a algo, não significa necessariamente que ele
é capaz; também, o fato de ser capaz, não significa que ele exerce as suas
aptidões com competência.
A
aptidão pode conter insuficiência, a capacidade pode esconder indulgência ou
displicência. Já a competência revela eficiência e não tolera dúvidas acerca
dos resultados.
Fundamentalmente,
a questão é: temos, efetivamente, competência profissional? E mais: quais são
os elementos que compõem a competência e que somos chamados a desenvolver e a
oferecer?
Na
década de 1970, o cientista social e professor americano David McClelland,
seguido por vários outros estudiosos nas décadas seguintes, inicia os estudos
que nos permitem entender a competência hoje — nos diz a professora Maria
Teresa Fleury — “... como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
(isto é, o conjunto de capacidade humanas) que justificam uma alta performance,
acreditando-se que as melhores performances estão fundamentadas na inteligência
e na personalidade das pessoas.”
Temos
cinco preciosos elementos, grifados acima. Por não fazer exatamente parte de
nosso foco neste artigo, não iremos abordar inteligência e personalidade. Mas
devemos fazê-lo com os três elementos da competência:
Conhecimento
Considerado por muitos como o elemento básico da competência, em geral de cunho técnico. Um advogado precisa conhecer as leis e práticas jurídicas; um engenheiro, os cálculos; um filósofo, os pensamentos; e assim por diante. A necessidade de incorporação de conhecimento por parte dos profissionais é contínua, parece não se esgotar, pois a evolução técnica, seja em qual campo for, não para. E crescentemente são exigidos conhecimentos generalistas, humanos e sociais dos profissionais, além de seus conhecimentos técnicos.
Considerado por muitos como o elemento básico da competência, em geral de cunho técnico. Um advogado precisa conhecer as leis e práticas jurídicas; um engenheiro, os cálculos; um filósofo, os pensamentos; e assim por diante. A necessidade de incorporação de conhecimento por parte dos profissionais é contínua, parece não se esgotar, pois a evolução técnica, seja em qual campo for, não para. E crescentemente são exigidos conhecimentos generalistas, humanos e sociais dos profissionais, além de seus conhecimentos técnicos.
Diz
o adágio que “o homem não nasce sabendo”, aliás, sequer nasce profissional.
Então, onde, em que fontes adquirir os conhecimentos necessários para ser
competente?
Fontes formais:
cursos técnicos, graduações e pós-graduações, extensões, educação continuada,
livros, pesquisas e outras fontes de conteúdo geralmente pré-concebido.
— Convívio:
Estar presente, aplicar com critério o senso de observação ao campo de
interesse, tomar pelo exemplo, agregam e aumentam o nível do conhecimento.
— Vivência:
Ir à lida, experimentar, fazer aprendendo e aprender fazendo, “tomar” dos mais
experientes a prática.
No
mundo contemporâneo, o hábito de aprofundar ou adquirir conhecimentos deve ser
praticado constantemente — lembrando sempre que no ambiente da gestão de
pessoas, conhecer é mais entender, compreender os fatos e técnicas e menos ter
a pretensão de desvelar qualquer verdade. O ambiente e os conhecimentos estão
em constante mutação.
Habilidade
Quem tem destreza, desprendimento em fazer algo é hábil. E de onde vem a habilidade? Basicamente de dois tipos fontes:
Quem tem destreza, desprendimento em fazer algo é hábil. E de onde vem a habilidade? Basicamente de dois tipos fontes:
— Inata:
o que chamamos de “dom”, quando temos a nítida impressão, tal qual uma
convicção, de que a pessoa “nasceu sabendo fazer”; faz com facilidade, com
naturalidade. É o tal do talento natural.
— Adquirida:
Administrador, historiador, escritor, naturalista e oficial romano, Plínio, O
Velho, que viveu no primeiro século da era cristã, observou que “O homem é o
único animal que não aprende nada sem ser ensinado; não sabe falar, nem
caminhar, nem comer, enfim, não sabe fazer nada no estado natural, a não ser
chorar.”
É
frequente a pergunta sobre se uma pessoa pode tornar-se, por exemplo, líder ao
longo da vida, sem tê-lo sido até um determinado momento. Os estudos
comportamentais realizados a partir da metade do século passado e as práticas
cada vez mais avançadas de educação e treinamento respondem que sim, pode!
Mas,
claro, pode, não tornar-se o mais brilhante dos lideres, mas melhorará em muito
a habilidade de conduzir pessoas.
Atitude
É o mais subjetivo dos três elementos por ter forte conotação comportamental. É a disposição interior que a pessoa revela ao mundo. É como o sujeito procede, como ele porta — se, como ele faz a dinâmica da interação com as pessoas, os fatos, as situações da vida. As facetas são várias: psíquica, profissional, social, existencial, etc., e o domínio sobre todas elas dificilmente é pleno, tampouco lúcido e o impacto das atitudes no ambiente organizacional tem forte efeito sobre os negócios.
É o mais subjetivo dos três elementos por ter forte conotação comportamental. É a disposição interior que a pessoa revela ao mundo. É como o sujeito procede, como ele porta — se, como ele faz a dinâmica da interação com as pessoas, os fatos, as situações da vida. As facetas são várias: psíquica, profissional, social, existencial, etc., e o domínio sobre todas elas dificilmente é pleno, tampouco lúcido e o impacto das atitudes no ambiente organizacional tem forte efeito sobre os negócios.
Tem
aumentado a importância dos estudos do comportamento na gestão, pois se o
conhecimento técnico é cada vez mais tido como uma commodity, com crescente
facilidade de acesso, o comportamento tem características predominantemente
individuais, o que, de certa forma, se opõem à tendência natural de criação de
padrões na gestão, inclusive na das pessoas. Na mesma proporção, cresce a
exigência quanto às competências comportamentais oferecidas pelos
profissionais.
O
jornalista e escritor Richard Donkin cita a conclusão de McClelland de que “...
conhecimento e habilidades... podiam ser desenvolvidos, mas é muito mais difícil
desenvolver motivações humanas básicas”.
Ter
autoconhecimento, somado ao continuo desenvolvimento técnico e ao
aprofundamento no campo comportamental tem se revelado boa receita para os
profissionais que buscam a alta performance.
O
professor Guy Le Boterf sugere um grupo de sete competências para os
profissionais: “saber agir, saber mobilizar recursos, saber comunicar, saber
aprender, saber se engajar e se comprometer, saber assumir responsabilidades e
ter visão estratégica”.
Demanda versus oferta
Não
podemos nos esquecer de que, no ambiente organizacional, a competência ofertada
pelos profissionais se sustenta na medida em que atende as competências
demandadas pelas organizações, para suprir as suas necessidades de geração de
resultados.
O
equilíbrio entre a demanda e a oferta de competências no trabalho não é
estável; é delicado, oscilante e requer constantes revisões e ajustes. Requer
empenho da empresa e dos profissionais e por definição nunca está consolidada e
não permite acomodações.
Este tipo de situação recomenda a adoção de:
Realismo
entre as partes, para bem aferir as metas e os critérios de exigência e de
avaliação — seja de desempenho profissional, seja dos resultados do negócio. O
risco aqui é a criação de atritos, frustrações, sobrevalorizações ou
injustiças.
Franca
comunicação entre as partes, para que empresa e profissionais se mantenham
alinhados e comprometidos e se satisfazer mutuamente. Pontos de divergência
quanto às expectativas precisam ser sempre discutidos e acordados; as
discordâncias equacionadas e as dúvidas expostas e eliminadas. A má comunicação
é um autêntico veneno para o comprometimento e para a retenção de talentos.
Uma
visão clara do profissional de que o seu trabalho é o seu produto e, como tal,
deve ser muito bem executado, reconhecido. E recompensado pelo valor que gera,
pelo valor que agrega a quem o recebe. Claro que o profissional depende das
condições em que está inserido, mas ele, sob o seu ponto de vista e em última
estância, é o responsável pela eficiência de seu trabalho, pelo menos até o
momento em que o entrega — enfim, quando firma a sua competência.
Por
Carlos Alberto Bitinas
Fonte
Consultor Jurídico