O
mundo virtual está cada vez mais perigoso. Tal como o mundo real. A internet,
extremamente útil, mas traiçoeira, obriga os usuários a se preocuparem com
spywares, malwares, sneakwares, phishing e outros "softwares
maliciosos" além do vírus de cada dia. As notícias de que o governo
americano e o britânico têm capacidade de interceptar informações que correm
pela web, de qualquer cidadão do mundo, trouxeram mais preocupações. E lembram
aos operadores da Justiça uma fragilidade particular: a quebra da
confidencialidade se tornou fácil no mundo virtual.
O
assunto da segurança na internet voltou a esquentar. Jornais e sites
especializados, como o ExtremeTech, Surveillance Self-Defense e o The Guardian,
começaram a publicar dicas de proteção às comunicações pela internet e por
telefone. Algumas coisas podem ser feitas, como mascarar o endereço de IP do
dispositivo conectado à internet, usar criptografia em todas as comunicações
embora isso possa ser uma tarefa complexa ou dar preferência à rede privada
virtual (VPN), entre outras.
Porém,
a bisbilhotice de órgãos de segurança não é a única preocupação. É preciso dar
maior importância à segurança de tudo o que se faz na internet, especialmente a
comunicações confidenciais, movimentação de contas bancárias e uso de cartões
de crédito. Assim, antes de mais nada, cada usuário que queira fechar a porta a
ladrões de informações, mensagens, documentos, dados de cartão de crédito e de
conta bancária tem de criar sua própria política de segurança. E isso começa
pela coisa mais simples: a criação de senhas seguras.
Há
recomendações que não são novas, mas que também não são muito observadas. Por
exemplo, senhas para redes sociais e de qualquer site que exige um login para
ser usado não podem ser as mesmas para acessar aplicativos de correspondência e
envio de arquivos confidenciais por e-mail, dropbox ou qualquer protocolo de
transferência de arquivos (FTP). E as senhas usadas para gerir contas bancárias
e cartões de crédito têm de ser diferentes de todas elas e entre si.
É
uma recomendação difícil de se colocar em prática. Afinal, seriam tantas senhas
que poucos conseguiriam memorizá-las. Porém, existem formas de amenizar a
situação. Uma é criar sistemas próprios. Outra é usar programas de
gerenciamento de senhas. Um exemplo é o LastPass, que "lembra" todas
as credenciais de login do usuário e preenche automaticamente os campos, se o
usuário quiser. As senhas são armazenadas e um "keylogger", um
programa que registra tudo o que é digitado o mesmo keylogger que, muitas
vezes, é usado para a criação de spywares, softwares de phishing etc.
Assim,
só é preciso lembrar a senha desse programa uma senha que tem de ser
inesquecível, obviamente, para que todas as senhas não fiquem eternamente
perdidas no keylogger. O LastPass trabalha com todos os navegadores mais
populares da internet e tem uma versão gratuita uma versão
"gratuita", com um preço: o usuário é obrigado a conviver com
mensagens publicitárias. Para se livrar delas e desbloquear algumas
funcionalidades para comunicações móveis, é preciso fazer uma assinatura anual
que, nos EUA, custa US$ 12 por ano.
A
alternativa seria fazer anotações em uma caderneta e colocá-la na gaveta. Não
das senhas, em si, porque isso seria um disparate. Mas de palavras ou frases
que fazem você se lembrar da senha e que só você pode decifrar. Por exemplo,
qual é a senha da anotação "Viagem mais sonhada", para sua conta no
banco? A resposta é "Aporue+2015". Sua viagem dos sonhos é ir à
Europa em 2015. Europa de trás para a frente é "Aporue". O
"mais" na anotação é o sinal "+".
Outro
exemplo: qual é a senha da anotação "Chico e telefone" para o cartão
de crédito? Resposta: "menCacoe&1243". Chico, filho de amigos,
falava essa palavra "mencacoe", quando tinha três anos. Inesquecível.
O telefone da família terminava em 1243. O "e" da anotação é o sinal
"&". Você, certamente, conseguirá criar coisas melhores.
Se
você conhece palavras de algum dialeto ou de um idioma pouco popular, pode
encontrar palavras para a senha e colocar a anotação em português na caderneta.
Palavras que constam de dicionários são mais facilmente descobertas e,
portanto, não devem ser usadas. É preciso ser criativo: fabricar palavras, usar
palavras de idiomas pouco conhecidos, utilizar palavras excêntricas
inesquecíveis, escrever palavras de trás para a frente. A senha deve ser formada
por essa palavra, com o uso de letras maiúsculas e minúsculas (nem sempre na
primeira letra; às vezes pode estar na sílaba acentuada) ou, ainda, números e
sinais (como *, +, &, $ e outros).
O
nível de segurança das senhas tem de ser muito alto. Mas o que se faz é o
contrário. A senha mais popular do mundo, por exemplo, é "monalisa"
muito fácil de decifrar para os peritos. A maioria das senhas ainda é formada
por uma palavra ou duas palavras emendadas, em letras minúsculas, como era uma
exigência no passado.
Existe
toda uma ciência, hoje, sobre a atividade de "quebrar" senhas, que é
longamente analisada em um estudo do professor da Universidade de Cambridge
Joseph Bonneau.
Não
cair nas garras de hackers, sejam os malandros cibernéticos ou oficiais dos
altos escalões governamentais de uma nação poderosa, é mais uma questão de bom
senso do que de alta ciência. Não ter um sistema pessoal seguro de senha,
clicar em um link enviado por qualquer meio, em vez de digitá-lo no campo para
a URL no navegador, abrir anexos enviados por e-mail por desconhecidos são
riscos que desafiam o bom senso.
Inimigo oculto
No
entanto, todos os esforços para se criar uma senha segura podem ser inúteis se
um spyware que registra toques no teclado se instalar em seu computador. Assim,
um bom programa de proteção contra vírus, spywares e outros softwares
maliciosos é indispensável, apesar de usuários avançados reclamarem que eles
reduzem o desempenho do computador. Mas isso é brincar com fogo. Um software
malicioso e sorrateiro pode se instalar no computador, sem deixar o menor
sinal.
Muitos
sites obrigam o usuário a se registrar para que tenha acesso a seu conteúdo. No
mínimo, você terá de informar ao site, aos órgãos de segurança dos EUA e ao
mundo seu endereço de e-mail, nome de usuário e senha. Mas há uma maneira de
dar a volta por cima nessa exigência, em vez de utilizar a "monalisa"
mais uma vez. O software BugMeNot, por exemplo, permite ao usuário utilizar
contas de login compartilhadas. É uma maneira de ver conteúdo gratuito sem
realmente se registrar.
Fazer
atualizações constantes do sistema operacional também é uma medida necessária.
No entanto, sistemas operacionais como o Windows só fazem a atualização de seus
próprios softwares ou aplicativos. Não detectam necessidades de atualização de
outros softwares, como Adobe Flash, Firefox etc. O Personal Software Inspector
(PSI), gratuito, faz uma auditoria do sistema e aponta todos os programas que
precisam ser atualizados.
Para
as firmas de advocacia, a forma mais segura de proteger seus e-mails com informações
confidenciais ainda é a criptografia e, frequentemente, a autenticação das
mensagens. Isso impede que o conteúdo do e-mail seja lido por bisbilhoteiros.
Existem diversas ferramentas para criptografar mensagens de e-mail, que usam
chaves públicas e privadas. Geralmente, a ferramenta de criptografia automática
é paga. A gratuita tem de ser trabalhada manualmente.
Java
Script, Java, Flash, Silverlight e outros plugins são ferramentas
interessantes, às vezes necessárias, mas também são perigosas. Assim, é bom
instalar um software que bloqueia o JavaScript e outros, a não ser para os
sites que o usuário confia. Por exemplo, quem usa o Firefox pode instalar a
extensão NoScript, que se baseia em uma lista de exceções (whitelist) de sites
seguros para permitir a execução de JavaScript, Java, Flash e demais plugins.
Em outras palavras, é um programa que considera todos os sites
"culpados", até que se provem inocentes.
Entretanto,
a senha dos sonhos a ser "quebrada", para os criminosos cibernéticos,
é a do cartão de crédito. E a perícia deles é certamente maior do que os dotes
computacionais dos usuários comuns da Internet. Por isso, uma nova prática vem
se popularizando nos EUA, aos poucos: solicitar a alguma administradora de
cartão de crédito um limite baixo, como, por exemplo, de US$ 200. O saldo desse
cartão é mantido sempre o mais baixo possível. Quando se quer fazer uma compra
pela internet, esse é o cartão a ser usado.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Consultor Jurídico