Uma
lenda urbana dissemina a ideia de que workaholics são pessoas gananciosas e
egoístas, que tendem a morrer de ataque do coração. A "acusação" é
injusta, sob todos os aspectos, diz o professor de psicologia empresarial Tomas
Chamorro-Premuzic, uma autoridade em perfil da personalidade e testes
psicométricos, em um artigo para o Harvard Business Review. Workaholic é um
termo derivado de alcoholic (alcoólatra) para definir pessoas vistas como
"viciadas" em trabalho.
"As
pessoas morrem de doenças, acidentes, atentados, conflitos psicológicos e até
de tédio, mas nunca de trabalho duro", disse David Ogilvy, conhecido nos
EUA como o "pai da publicidade", citado pelo autor do artigo.
"Não há perigo para a saúde ou para o bem-estar mental ou emocional no
trabalho. Nem mesmo para um maníaco pelo trabalho, afirma Chamorro-Premuzic.
"Ao
contrário, há benefícios para a carreira do workaholic, para a empresa e para a
sociedade", ele garante. Ninguém é, nem pode ser, obrigado a ser
workaholic. Mas há pessoas que não se importam – e, às vezes, até se satisfazem
– por ter de trabalhar além do horário de expediente ou nos fins de semana e
feriados. E são mais felizes – ou pelo menos mais satisfeitas com a vida, diz o
professor.
Por
quê? A resposta é simples. As pessoas que fazem questão de horário de trabalho
– e, pior, as que reclamam que trabalham demais – têm de defender a tese de que
é preciso encontrar um equilíbrio entre o trabalho e a vida, na busca da
felicidade. Workaholics não precisam defender essa tese. Para eles, trabalhar é
viver. Enquanto estão trabalhando, estão vivendo.
E
com a mesma disposição (ou energia) que se dedicam ao trabalho, workaholics
também aproveitam o tempo com a família e com os amigos, em diversos tipos de
atividades – em oposição a fazer valer suas horas de repouso, deitados no sofá
e assistindo televisão. Não que as pessoas "normais" também não
desfrutem os horários de folga com atividades familiares e com os amigos. A
distinção é apenas de hábito: o de se empenhar no que faz.
Também
distingue o workaholic dos seres humanos "normais" uma característica
comum: eles amam o que fazem. Por isso, fazem mais do que os demais. Aliás,
trabalho é um conceito mais exato para pessoas "normais". Para o
workaholic, a palavra trabalho pode ser substituída pela expressão
"atividade prazeirosa" – ou uma atividade agradável, muitas vezes
divertida. As pessoas "normais" trabalham. Workaholics desfrutam suas
atividades cotidianas. Essa faculdade não está disponível a quem não gosta do que
faz.
Há
uma diferença fundamental entre pessoas que se dedicam a uma carreira e as que
buscam um emprego – ou às pessoas que se rendem à necessidade de trabalhar. A
carreira dá um propósito à vida – além de dinheiro. O emprego também dá
dinheiro, mas, ao mesmo tempo, torna os descontentes ou pouco entusiasmados
reféns do trabalho.
O
relacionamento pessoa-trabalho é semelhante ao relacionamento pessoa-pessoa,
diz o professor. Passar muito tempo com uma pessoa de quem não se gosta é uma
experiência terrível. Passar muito tempo com uma pessoa de quem se gosta é uma
experiência agradável, ele diz. "Não lhe causa nenhum mal se alguém
comentar que você é ‘viciado’ na pessoa que ama", afirma o professor. É só
uma interpretação, às vezes com um certo tom de inveja, mesmo que inofensiva.
Trabalhar
duro é fundamental para a carreira. "Isso é especialmente importante para
advogados que trabalham em bancas de grande porte", diz a editora Vivia
Chen do site The Carreerist, dedicado a carreiras na advocacia. "Você é
qualificado, faz o seu trabalho com competência e espera que isso seja
reconhecido. Mas quantos advogados na firma também são qualificados e fazem seu
trabalho com competência?", ela pergunta.
Qualquer
comparação vai favorecer aquele que trabalha mais", ela diz. Pode-se
argumentar que os relacionamentos dentro da firma favorecem uns em detrimento
de outros. Isso é verdade. Mas é preciso levar em conta que fazer
relacionamentos, para um advogado, é parte do trabalho – seja com os clientes,
com os colegas e com a direção da firma. "Não se faz uma carreira dentro
do expediente normal", ela afirma.
Trabalhar
duro é essencial para o sucesso e todo mundo sabe disso, diz Chamorro-Premuzic.
"Coincidentemente, os dez países do mundo com a maior concentração de
workaholics são os que produzem os PIBs mais altos do mundo", ele lembra.
Mesmo quem tem muito talento, trabalha duro para alcançar o sucesso. Há mais
argumentos, ele diz. "As grandes realizações da história da humanidade
vieram, não por acaso, de pessoas que trabalham muito duro". "As
pessoas que trabalham duro são mais respeitadas, mesmo em lugares onde as
pessoas preferem se divertir a trabalhar", ele diz haver constatado.
"Uma das razões que os japoneses – e outros orientais – têm vida longa, é
que eles trabalham muito... sem reclamar", ele supõe.
Para
Chamorro-Premuzic, as pessoas que reclamam por trabalhar demais, reclamam do
governo por suas dificuldades, reclamam da falta de equilíbrio entre o trabalho
e a vida, levam uma vida lamentável. "Elas sentem penas de si
mesmas", ele afirma. "Mas, na verdade, suas dificuldades se originam
na dificuldade de trabalhar duro desde a época da escola, da faculdade, do
início da carreira, porque as pessoas dão prioridade ao lazer e à diversão, em
vez de priorizarem o próprio crescimento", ele declara.
Há
um remédio para consertar qualquer situação difícil na vida, incluindo no
trabalho. Tudo que você precisa fazer é seguir suas paixões, ele afirma. Se
fizer isso, nunca mais vai reclamar de excesso de trabalho ou de falta de
equilíbrio entre o trabalho e a vida. Será bem recepcionado no mundo dos
workaholics.
Por
João Ozorio de Melo
Fonte
Consultor Jurídico