sábado, 25 de julho de 2020

BONS HÁBITOS ALIMENTARES NA TERCEIRA IDADE

As mudanças que o corpo sofre durante a terceira idade exigem uma alimentação diferente das outras fases da vida


Alimentação na terceira idade: os cuidados devem começar na aquisição dos alimentos, observando o prazo de validade, o armazenamento e a conservação

A dieta alimentar na terceira idade é, em geral, bastante diferente das demais etapas da vida. O processo de envelhecimento vem acompanhado de uma série de mudanças na função hormonal, no metabolismo energético e na atividade diária, o que afeta a necessidade de nutrientes. Nessa fase, olfato e paladar ficam progressivamente comprometidos. É comum o idoso se desinteressar por doces e salgados. A produção de saliva também é reduzida e aparecem as dificuldades no processo de mastigação e deglutição, que causam impacto significativo na quantidade e qualidade da ingestão do alimento. Além disso, a presença de doenças crônicas pode levar a restrições dietéticas, que associadas ao uso de diversos medicamentos (polifarmácia), reduzem o apetite ou interferem na absorção de vitaminas e minerais. Tudo isso se soma às alterações naturais nos mecanismos de defesa que tornam a pessoa idosa mais suscetível a infecções alimentares.
Outro fator de atenção é a redução da mobilidade que dificulta a compra e o preparo de alimentos e, às vezes, até o ato de se alimentar. Todas essas alterações requerem cuidados especiais com a alimentação na terceira idade. Os cuidados devem começar na aquisição dos alimentos, observando o prazo de validade, o armazenamento e a conservação adequados. Ainda no preparo das refeições, o processo de higiene pessoal e do ambiente, incluindo os utensílios a serem utilizados, reduzem o risco de contaminações.
O planejamento de ambientes, móveis e utensílios seguros, de fácil higiene, que exijam mínimo esforço físico e previnam quedas são parte integrante da boa alimentação. A identificação dos alimentos com etiquetas de fácil leitura, com letras de tamanhos apropriados e codificações por cores também podem contribuir para um ambiente alimentar seguro para o idoso.  Para o consumo dos alimentos, um ambiente agradável, iluminado, arejado, limpo, com facilidade para higiene das mãos e móveis com cantos arredondados, que estimule a companhia de outras pessoas e não ofereça muitas distrações (TV, por exemplo) tem um grande efeito no desfrute da refeição e na manutenção de bom estado nutricional.
Buscando superar as eventuais dificuldades e estimular um envelhecimento saudável, o Ministério da Saúde publicou, em 2010, um Manual de Alimentação Saudável para a Pessoa Idosa que sugere medidas simples para tornar o dia a dia do idoso mais prazeroso, favorecendo a autonomia, o entrosamento social e a segurança alimentar e nutricional. Para facilitar, descrevo essa receita de bons hábitos em dez passos:

1º – Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia. Não pular as refeições e comer devagar, mastigando bem os alimentos, é fundamental. Em caso de dificuldade para mastigar alimentos sólidos como carnes, frutas, verduras e legumes, pode-se picar, ralar, amassar, desfiar, moer ou batê-los no liquidificador.

2º – Ingira diariamente seis porções do grupo dos cereais (arroz, milho, trigo, pães e massas), tubérculos como a batata e raízes como o aipim. Dê preferência aos grãos integrais e aos alimentos na sua forma mais natural.

3º – Coma pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches.

4º – Garanta o feijão com arroz no prato de cada dia ou, pelo menos, cinco vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e dá energia.

5º – Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos. Retire a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação.

6º – Limite óleos vegetais, azeite, manteiga ou margarina a no máximo uma porção por dia.

7º – Evite refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas. Limite esses alimentos a no máximo duas vezes por semana.

8º – Diminua a quantidade de sal na comida. Para temperar e valorizar o sabor natural dos alimentos utilize temperos como cheiro-verde, alho, cebola e ervas frescas e secas ou suco natural de frutas, como limão.

9º – Determine a ingestão de pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água por dia. O baixo consumo de água pelo idoso, associado a uma série de alterações nos mecanismos de controle de água no organismo, leva muito facilmente à desidratação. A redução da água corporal total do idoso é em torno de 20%. Quem convive com idosos frequentemente escuta “não sinto sede”, “não gosto de água”. Incentivar o consumo de água é fundamental na alimentação saudável de qualquer pessoa e especialmente do idoso.

10º – Pratique pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias e evite as bebidas alcoólicas e o fumo.

Iniciativas como esta, do Prêmio Jovem Cientista, levam os jovens a refletir sobre os cuidados com a alimentação dos idosos com quem eles convivem e a cultivar seu próprio capital vital, ampliando suas chances de ter uma vida saudável e prazerosa por mais tempo.

Por Dr. Carlos Alberto Chiesa é diretor de operações do Hospital Placi — Cuidados Extensivos
Fonte Revista Época Online