sexta-feira, 12 de junho de 2020

QUAL É O SEU GRAU DE DEPENDÊNCIA DO FACEBOOK?


Casais se separam e a rapidez com que alteram seu “status” no Facebook já dá o sinal do quanto a separação foi traumática/cheia de raiva ou amistosa/mantendo o carinho. Amigos se desentendem por uma coisinha à toa mas a mágoa torna-se irremediável quando o outro não só deixa de ser amigo na rede social como até bloqueia o acesso da pessoa às suas postagens.
Uma leitura rápida no perfil de alguém no Facebook nos dá hoje a medida dos relacionamentos e do comportamento em sociedade. As relações que se estabelecem na rede virtual, justamente por serem fáceis, podem também ser frágeis. As ações não requerem muito mais do que um clique para deletar alguém da sua rede de relacionamentos, e isso parece mais simples e menos difícil de lidar do que o contato cara a cara, com todas as suas penosas interações.
Porém, o que se faz virtualmente pode ter conseqüências reais, e não parece que as pessoas estão tendo a noção exata disso. Este mês, uma pesquisa da Universidade de Denver revelou que 40% das pessoas ouvidas evitam pessoalmente alguém que as tenha excluído do seu Facebook. E por que excluem? Os motivos são os mais simples, como excesso de posts, conteúdos irrelevantes, visões políticas ou religiosas conflitantes. Ou seja, por causa do comportamento nas redes sociais, o outro é riscado da nossa vida pessoal. Sem mais delongas, nem explicações, nem conversas. Nada de olho no olho, típico de uma amizade estável e madura. Trocando em miúdos, a interpretação é: se você me excluiu da sua rede no Facebook, é porque tampouco deseja ser meu amigo em carne e osso.
Isso nos leva a outra pergunta: até que ponto o Facebook influencia nossas decisões, nosso modo de ser? Será o Facebook a lente através da qual temos visto o mundo? É pela internet que levantamos nossas bandeiras, sentados confortavelmente em nossos lares em vez de ir às ruas em protestos reais? É nos posts polêmicos que expomos nossos pontos de vista, comprando brigas com gente que nem conhecemos? É nessa rede social que medimos quem são nossos amigos de verdade?
Sistemas complexos — Quem explica esse fenômeno das novas interações baseadas quase que exclusivamente no que se passa no mundo online é Niraldo Nascimento, doutorando em Ciência da Informação e professor do MBA em Modelagem de Sistemas Complexos da Universidade de Brasília. Segundo ele, as redes sociais podem ser comparadas a sistemas complexos, em que o mais importante é o volume de interações entre seus participantes, e não o número de membros. Em outras palavras, é através das mensagens trocadas que se pode analisar, inferir e até predizer comportamentos, utilizando ferramentas específicas.
Embora permitam às pessoas assumir traços de personalidade diferentes do mundo real, as redes no fundo funcionam de maneira parecida. “As pessoas passam a lidar com “avatares”, entes virtuais ou pseudo-personalidades, só que em outra dimensão. Na vida real, lidamos, igualmente, com personas, temos afetos, amores e desavenças”, diz Nascimento. E, da mesma forma, existem “jogos” de poder, persuasão, crítica, conivência, apatia, etc. – on e offline.
Em resumo, dá para inferir que o comportamento nas redes sociais não está descolado do comportamento na vida real. Você pode até ser um “ente” no mundo virtual e outro diferente no mundo real, mas “ignorar os laços umbilicais inerentes ao comportamento humano em todas as esferas pode levar a falsas conclusões”, atesta o professor Niraldo Nascimento.
Por isso, pense até que ponto você está sendo coerente com os seus comportamentos e relacionamentos no universo digital e no universo de carne e osso.
Por Mariela Castro
Fonte Exame.com