segunda-feira, 3 de abril de 2017

O MITO DO PROFISSIONAL PERFEITO


"Se há pleno emprego, porque tenho dificuldade para arranjar um trabalho? Se o cargo exige tantas competências, por que o salário é tão baixo? Meu currículo é ótimo, por que não sou chamado para uma entrevista?
Sabendo que, para a maioria das pessoas, as respostas quase sempre não são satisfatórias, foi com as perguntas acima que Andrea Giardino iniciou a matéria de capa da edição de outubro da Você S/A. Vamos entender por que.
O recorde de empregos no Brasil é uma constante, os últimos números do Ministério do Trabalho e Emprego indicam que há 92 milhões de brasileiros empregados e a taxa de desemprego ficará em 6% esse ano, uma ótima notícia para quem já está empregado e também para quem busca uma recolocação no mercado.
Esses dados tendem a solidificar os recordes de vagas e as guerras por talentos anunciados por vários setores e que são alguns dos assuntos mais abordados, quando se fala em mercado de trabalho no Brasil. No entanto, essa positividade esconde uma dura realidade, como cita Giardino: "Há pessoas qualificadas que não conseguem mudar de emprego e, pior, existem desempregados que mesmo ostentando um bom currículo são incapazes de obter uma recolocação".
"Há setores que realmente enfrentam uma escassez de mão de obra, mas sempre haverá pessoas bem preparadas fora do mercado" diz Claudio Salvadori Deddeca, professor da UNICAMP, especialista em relações do trabalho. Essa frase em especial me instigou bastante a prosseguir a leitura, pois na lógica de nossa compreensão, se há vagas e pessoas qualificadas, essas vagas deveriam estar preenchidas.
Então se você, leitor, está em busca de recolocação no mercado e se depara com a afirmação acima, com certeza ficará muito confuso em saber que existirem milhares de vagas de um lado e milhares de profissionais que não conseguem uma colocação, do outro. Essa sensação de que o mercado enlouqueceu se deve a vários fatores. O primeiro deles é que muitas vezes as qualificações das pessoas não atendem as exigências das empresas, ou seja, você sabe falar inglês, conhece tudo do setor de compras, porém a empresa busca um profissional que tenha feito aquele curso específico para manusear um determinado programa. Ai é que o título da matéria vem à tona.
Outro ponto é que a busca por habilidades comportamentais está cada dia mais presente nas organizações, de nada adianta seu currículo ter mil certificados e experiências, se você não possuir o dom de se relacionar com as pessoas e ter as características que alguém determinou, estará fora.
Fazendo um compilamento de vários fatores que eliminam os candidatos das vagas, Andrea Giardino apresentou, não sete, mas nove pecados capitais cometidos por quem não consegue um novo emprego.

- Candidatar-se a um cargo mais baixo.
- Candidatar-se a uma vaga cujo salário é muito menor.
- Ficar desesperado e atirar para todos os lados, sem saber chegar às vagas certas.
- Ter uma atitude arrogante por achar que é muito mais qualificado do que a vaga.
- Ser inflexível.
- Se mostrar pouco disposto a aceitar as regras impostas.
- Não aceitar pequenos sacrifícios que a posição exige.
- Não saber trabalhar em equipe.
- Acreditar que as credenciais técnicas são suficientes para conquistar um emprego.

Outra situação que tem surgido com bastante frequência é que, influenciadas pelas características da geração Y, muitas empresas estão rejeitando profissionais que chegam cheios de vícios, carrancudos ou se achando perfeitos e com a pose de não há mais o que aprender, esses pecados estão deixando muita gente qualificada fora do mercado. Uma alternativa utilizada por grandes empresas é formar o profissional dentro da organização, através de programas de Estágios e Trainees. "Como é praticamente impossível mapear de cara quem casa com a cultura da empresa, muitas estão apostando em gente mais jovem para moldá-la desde cedo", dia Alfredo Assumpção, presidente da Fesa, em São Paulo.
 Seguindo com o objetivo de responder as perguntas no início da matéria, Giardino apresenta várias questões que compõem a perfeição profissional exigida pelas empresas e certamente deixam de fora muitos profissionais capacitados. Vamos ver uma síntese desses questionamentos.

País dos maus salários
De acordo com Sérgio Mendonça, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 90% das vagas criadas no Brasil atualmente pagam até dois salários mínimos aos trabalhadores. Querem contratar um superprofissional pelo salário de um iniciante. Os recrutadores procuram candidatos de país desenvolvido em um país emergente. Uma referência ao descompasso entre a formação dos profissionais e o nível de competitividade das organizações. Se adaptar a esse quadro ou mudá-lo com urgência é um desafio.

Má formação
Muitos profissionais ainda tem uma percepção errada de si, ao concluir que possuir um diploma na mão garantirá um bom emprego, a formação profissional vai muito além disso, passa pela percepção de mundo, atualização, boa comunicação, cultura empresarial, capacitação técnica, experiências em grandes empresas, comportamento frente a várias situações e por ai vai..., pois quando se fala em 200 vagas para a construção civil, não quer dizer que quem é graduado em Engenharia ou Arquitetura já tem sua vaga garantida, o nivel do conjunto de suas habilidades é que dirá o quão empregável você é.

Erro no currículo
Parece um item simples, mas desclassifica muita gente. Uma pesquisa da Robert Half que ouviu 2.525 pessoas em 11 paises aponta que 42% dos brasileiros não são verdadeiros em muitos itens do currículo, como por exemplo dizer as verdadeiras razões de te deixado o emprego anterior e distorcer as atividades que desempenhavam a seu favor.

Imediatismo
Muitas empresas buscam profissionais que tragam resultados nos primeiros dias de contratação e que "paguem" seus salários atingindo metas e solucionando problemas. Quando essa expectativa não é atendida, o profissional torna-se descartável, independente dos motivos ou fatores que contribuiram para o mal desempenho a curtíssimo prazo.
O modelo de profissional perfeito ainda não foi criado, o que deve existir é uma adequação do profissional as diferentes vagas e exigências que somem empregabilidade ao seu currículo. Por outro lado há que se observar que as empresas estão cada vez mais afunilando essas exigências, sem um retorno financeiro viável para o funcionário, o que afasta tanto os profissionais compatíveis com a vaga, pois são disputados por várias empresas como também os que não estão totalmente de acordo com o perfil exigido, pois logo são descartados. Esse quadro evidencia o por quê da escassez em diversas áreas profissionais.
Matéria interessante e instigante, se juntarmos tudo veremos que uma sequência infindável de fatores contribuiu para essa situação de loucura do mercado de trabalho, mas que é possível fazer algo, ainda.

Por Daniele Paulino
Fonte Você S.A. Online